Já é consenso no meio corporativo que o trabalho longe do escritório, em maior ou menor grau, veio para ficar. Segundo levantamento divulgado em fevereiro pela consultoria organizacional Korn Ferry, 90% das empresas pesquisadas no país manterão o trabalho remoto ou híbrido para todos ou parte dos funcionários. “As incorporadoras não podem se dar ao luxo de ignorar essa realidade”, diz o diretor do Sindicato da Indústria da Construção Paulista (Sinduscon-SP) Ricardo Paixão Barbosa. Afinal, segundo pesquisa da DataZap+, realizada com usuários dos portais imobiliários Zap e Viva Real, a pandemia mudou as necessidades em relação ao home office para 38% dos interessados em locação e 29% dos potenciais compradores de imóveis. Do total, 55% consideram esse aspecto importante ou muito importante.
Alinhada com a nova demanda, anda em alta a busca de ambientes mais bem divididos, que passaram a ser mais valorizados por 35% das pessoas que buscam a compra e 38% dos que querem aluguel. Muitos também desejam mais dormitórios (33% no caso da locação e 28% no da compra) e sacadas ou varandas (45% locação e 50% compra). E só 16% dos potenciais inquilinos e 26% dos eventuais compradores disseram não terem nenhuma necessidade alterada pela pandemia do novo coronavírus.
“O mercado pré-pandemia testou o limite de compactação. Agora, a tendência se inverte, com busca por espaços maiores e com mais divisões”, diz José Augusto Viana Neto, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP). “A mudança revaloriza imóveis antigos, incentiva novos projetos, aquece a demanda por moradia mais espaçosa em bairros afastados com metragem mais barata e também incentiva a procura por condomínios horizontais em cidades do interior ou por locais na praia”, complementa ele.
Ainda assim, segundo a pesquisa da DataZap+, 66% dos entrevistados, ao considerar os efeitos da pandemia, responderam ser muito importante ou importante viver em áreas com mais comércio e serviços. Parte substancial desse público não vê com bons olhos a mudança para locais mais distantes.
Para não estourar o orçamento, a saída pode estar nos espaços e serviços compartilhados. Essa é a aposta da incorporadora paulistana Vitacon, com foco em imóveis entre 20 e 70 metros quadrados em regiões de maior adensamento, próximas ao metrô ou outras formas de transporte público. “Já oferecíamos estação de trabalho para uso comum, mas, com o aumento da demanda na pandemia, estamos criando mais espaço para salas de reuniões e áreas isoladas para ligações telefônicas”, diz o CEO da empresa, Ariel Frankel.
Ainda na onda do compartilhamento, os prédios da Vitacon têm carros para aluguel, bicicletas e patinetes disponíveis para os moradores. Há também áreas e refrigeradores para recebimento de compras feitas on-line. “Com a pandemia, a procura por serviços de delivery triplicou nos nossos prédios”, diz Frankel.
Alguns de seus lançamentos têm plantas flexíveis, com escritórios anexos aos apartamentos. Posteriormente, podem ser unificados ou vendidos separadamente. Outros projetos preveem espaço para uma loja para locação, com o valor obtido com o aluguel utilizado para baratear o condomínio.
O autofinanciamento é também utilizado nos bairros com foco em moradia popular da Planet Smart City, grupo com sede em Londres, com escritórios na Itália, Brasil, Reino Unido e Índia. A empresa é responsável por bairros planejados, com parte ainda em construção, em Laguna e Aquiraz, no Ceará, e em Natal - todos eles com casas, lotes e conjuntos comerciais. Os empreendimentos não cobram pelo condomínio, por internet nas áreas comuns (incluindo praças e pontos de ônibus), cursos, como inglês, corte de cabelos e costura, e uso do sistema de videomonitoramento, acessado por um app desenvolvido para o empreendimento, como conta Susanna Marchionni, CEO da empresa no Brasil.
Também gratuito, inclusive para não moradores, é o acesso a áreas compartilhadas como home office, cozinha comunitária, cinema, entre outros. Quem arca com a conta são empresas que pagam para anunciar promoções aos moradores no app utilizado pela comunidade.
A empresa também atua na cidade de São Paulo. Em parceria com a InLoop, tem um condomínio de prédios entregue, dois lançados e um em fase de aprovação, totalizando cerca de 3.500 apartamentos, integrantes do programa Casa Verde e Amarela, o substituto do Minha Casa, Minha Vida.