Para entendermos as tendências desse segmento, antes precisamos saber qual movimento está acontecendo hoje, o que as novas gerações têm almejado e para quais mudanças as incorporadoras precisam estar mais alertas.
As gerações são categorias amplas usadas para descrever diferentes grupos de pessoas que nasceram em períodos semelhantes e compartilham experiências econômicas, históricas e tecnológicas em comum.
De acordo com estudos sociológicos e demográficos, as gerações se dividem da seguinte forma:
Geração Silenciosa (ou Tradicional): refere-se às pessoas nascidas aproximadamente entre meados da década de 1920 e meados da década de 1940. Essa geração cresceu durante a Segunda Guerra Mundial e a Grande Depressão e tende a valorizar a estabilidade, o trabalho árduo e o respeito pela autoridade.
Baby Boomers: Essa geração abrange aqueles que nasceram entre meados da década de 1940 e meados da década de 1960, após a Segunda Guerra Mundial. O termo “baby boom” refere-se ao aumento significativo da taxa de natalidade durante esse período. Os baby boomers experimentaram avanços tecnológicos significativos, como o surgimento da televisão e do computador pessoal.
Geração X: Refere-se às pessoas nascidas entre o final da década de 1960 e o início da década de 1980. Essa geração cresceu durante um período de transformação tecnológica e testemunhou o surgimento da internet e dos telefones celulares. Os membros da Geração X são frequentemente considerados independentes, céticos e adaptáveis.
Geração Y (ou Millennials): Essa geração abrange aqueles que nasceram aproximadamente entre o início da década de 1980 e meados da década de 1990. Os millennials cresceram com a tecnologia digital e a internet se tornando cada vez mais acessíveis. Eles tendem a ser adeptos da tecnologia, multitarefa, valorizam a flexibilidade no trabalho e têm uma abordagem mais descontraída em relação à hierarquia.
Geração Z (ou Centennials): Refere-se àqueles que nasceram a partir do final da década de 1990 até meados da década de 2010. Essa geração cresceu completamente imersa na era digital, com smartphones e mídias sociais desempenhando um papel central em suas vidas. A Geração Z é frequentemente descrita como altamente conectada, diversa, preocupada com questões sociais e mais empreendedora.
Muito se fala sobre o padrão de consumo e o impacto das pessoas da geração Y na compra de imóveis, porque serão elas a mudar esse consumo e a percepção de mundo e sociedade. A geração Y constitui uma grande parte da população mundial hoje.
Segundo Richard Fry, pesquisador com foco em economia e educação, um a cada três trabalhadores americanos são millennials, da Geração Y. Acredita-se que o comportamento dos millennials está inteiramente ligado às suas experiências com o produto. Diferentemente das outras gerações, os millennials são caracterizados por serem mais críticos e exigentes, principalmente no curto prazo.
Para Arthur Viana, gestor da Outbound Marketing, a Geração Y passou por uma das maiores revoluções que a sociedade conheceu: a internet. E isso mudou drasticamente os modelos tradicionais de relacionamento, compras, interações e de trabalho.
Qual o padrão de vida e consumo da geração Y?
Os millennials estão a um clique de resolver suas dúvidas, realizar seus desejos de compras ou até mesmo de interagir com a sociedade. O que claramente impacta o futuro e o presente do segmento de Real State.
“Além disso, possuem padrões de interesse e consumo específicos, não são mais influenciados facilmente por propagandas, acreditam que a publicidade não é autêntica. Procuram depoimentos reais de outros usuários em sites ou blogs, se relacionam constantemente com a marca seguindo ou compartilhando compras e conteúdo, usam diversos aparelhos tecnológicos, estão sempre conectados e são consumidores leais, estabelecendo vínculos com as marcas.” (VIANA, 2018)
No site Ingaia, que trabalha com o uso da Inteligência Artificial no mercado imobiliário, diz que a Geração Y escolhe seus imóveis seja para compra ou locação, mais pela localização do que demais fatores. Por isso, oferecer imóveis em bons bairros, com uma estrutura bem desenvolvida, rede de transporte eficiente, serviço público de qualidade e acessibilidade são uma excelente forma de chegar mais perto da assinatura do contrato.
Essa geração também escolhe a partir de características de uso e tamanho. Aí entram peculiaridades como a tendência de diminuição gradual das famílias e o tempo de permanência.
Os Millennials muitas vezes preferem alugar um imóvel do que comprar um, por estarem exercendo um trabalho temporário naquela cidade/localidade, uma vez que os vínculos empregatícios dessa geração não são, de modo geral, tão sólidos quanto para as gerações anteriores.
Segundo o site Moving, especializado em mercado imobiliário, a geração em questão levou e ainda leva mais tempo para sair de casa se comparados com a geração anterior. A Geração X deixou suas casas por volta dos 20 anos.
O fato de sair de casa mais tarde influencia diretamente o mercado imobiliário, pois com essa idade seus pais já estavam realizando seus primeiros financiamentos com intuito de comprar um imóvel, enquanto a Geração Y procura investir em educação e experiências de vida.
A probabilidade de um integrante dessa geração Y alugar um imóvel é muito maior que a de comprar. Isso porque existe a falta de recursos ou por causa da procura por flexibilidade. Para as imobiliárias, isso tem um significado: é necessário se adaptar a esse comportamento, pois a realidade é um maior volume de buscas por imóveis para alugar.
Outro ponto muito importante a ser levado em consideração pelas imobiliárias é que os jovens da Geração Y preferem conveniência ao luxo. Oferecer imóveis que possuem proximidade do trabalho, com grandes centros comerciais, tecnológicos e financeiros, são algumas das estratégias que podem ganhar esse público na hora de uma venda.
A maior parte dos Millennials está conectada praticamente a todo o momento na internet, o que faz com que as imobiliárias tenham que investir em estratégias digitais se desejam vender e atingir esse público. Assim como acumular bens e construir um império como patrimônio certamente não são centros de prioridades como um dia já foram.
Veja algumas tendências de Real State para essa geração
Multipropriedade
O conceito de cada proprietário possuir uma fração do imóvel, ou seja, tem um período de utilização e todos seus custos e despesas também são compartilhados, por exemplo, você compra 1/12 avos desse imóvel e tem direito a utilização de um mês e valor patrimonial respectivo.
Normalmente estas regras de utilização e meses específicos são definidos por uma administradora, que faz a gestão deste tipo de propriedade.
Uma das dificuldades do crescimento desta modalidade era a insegurança jurídica, fato este que foi resolvido em 2018 com a Lei número 13.777/18.
Long Stay / Extended Stay
No Brasil conhecido como Long Stay ou longa permanência, no exterior conhecido como Extended Stay. Este é um conceito ainda embrionário, mas que muitos especialistas identificam grande potencial.
O conceito de Long Stay, é um mix de hotelaria com locações tradicionais, onde os prédios ou os investidores individuais de apartamentos oferecem serviços de origem hoteleira como limpeza diária, mobília nos quartos, internet e tv a cabo inclusos no preço de locação e com um período de locação inferior aos contratos tradicionais de locação, geralmente estes contratos são de 30 dias a 90 dias de duração.
No Exterior este conceito é bastante difundido em grandes metrópoles e cidades é muito fácil de encontrar este modelo de gestão.
Apartamentos pequenos e áreas compartilhadas
Este é um movimento que encontramos com mais força desde 2017, apartamentos pequenos estão entre as preferência da população já que um imóvel assim pode ser a solução para quem quer morar em bairros mais valorizados e centrais.
Para compensar a falta de espaço, as empresas investem em áreas compartilhadas, como lavanderia e serviços semelhantes aos oferecidos por hotéis. Assim um apartamento prático para o dia a dia em um edifico com toda a infraestrutura necessária, atrai os interessados.
Cápsulas
Este é um conceito extremamente disruptivo, mas que em minha visão possui grande potencial de crescimento. Gerando uma vida social entre seus moradores, fortalecendo o senso de comunidade – uma vez que se divide praticamente todas as áreas comuns, como lavanderia, cozinha, sala de estar etc. Extremamente sustentável, escalonável em terrenos relativamente pequenos.
Empresas como a Nice Architects aposta em cápsulas totalmente autônomas e sustentáveis, não necessitando dos serviços públicos de abastecimento como energia elétrica e água.
Sistema de vendas de imóveis
Uma das tendências mais polêmicas, já que neste caso entende-se vendedores como proprietários de imóveis interessados em venda ou mesmo as incorporadoras, não precisando mais de um intermédio.
Muitos especialistas defendem que a venda de imóveis ocorrerá cada vez mais C to C, onde aplicativos, programas de IA e realidade aumentada eliminam a necessidade do corretor e dos stands de venda.
Particularmente ainda vejo com certo ceticismo, pois imóveis são um bem de grande valor onde a parte jurídica, garantias contratuais e visitas in-loco são fatos importantes na compra.
Destas tendências, só o futuro poderá afirmar quais se tornarão realidade, mas as incorporadoras e imobiliárias que estiverem atentas às mudanças de mindset geracionais poderão se beneficiar e criar algumas saídas para os problemas habitacionais do nosso país.