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22/12/2016

O que aconteceu com a nova classe média: perda de renda obriga famílias a desistirem ou adiarem a casa própria

A família ainda se deparou com taxas de financiamento mais altas do que as da época da fechamento do negócio.

Ao procurar uma construtora para comprar um apartamento na planta, financiado, em 2014, um jovem casal do Rio não imaginava que o sonho da casa própria seria interrompido no início deste ano, antes mesmo da entrega das chaves. O taxista, de 34 anos, e a fisioterapeuta, de 27, que pediram para não ser identificados, tiveram o orçamento drasticamente reduzido com a crise econômica. A família ainda se deparou com taxas de financiamento mais altas do que as da época da fechamento do negócio.

— Fechamos o contrato com um valor inicial de prestações de R$ 1.740. Mas, no fim de 2015, a simulação do financiamento feita com o banco gerou prestações de R$ 3.489. Minha mulher perdeu o emprego, e minha renda começou a diminuir. Meu faturamento diário caiu em torno de 40%, por conta da crise e da concorrência do Uber — contou o marido, que mora com a mulher num apartamento alugado do sogro.

Obrigado a optar pelo distrato do contrato imobiliário, o casal ainda luta na Justiça, com o auxílio da Associação dos Mutuários da Cidade do Rio (Amurio) a reaver 90% do total pago, valor ao qual tem direito.

— Esperávamos que os salários subissem, mas aconteceu o contrário. Minha mulher foi despedida e não consegue arrumar outro emprego. Acho que vai demorar muito para podermos tentar um financiamento de novo. Acho que a situação não vai melhorar antes de seis ou oito anos — lamentou o marido.

Luiz Fernando Moura, diretor da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), explica que as novas aquisições de imóveis, principalmente pela nova classe média, perderam força com a reversão de um quadro que era favorável até 2014:

— Diminuiu o crédito, as taxas de juros aumentaram, e houve também uma redução dos níveis de emprego e renda. A classe média preponderantemente assalariada foi prejudicada, e isso ocasionou uma parte dos distratos. A retomada do emprego, com certeza, vai mudar o cenário.

Entenda

Cenário - Na cidade do Rio, de janeiro a novembro deste ano, os leilões de construtoras cresceram 172% e os de bancos, 23%. Já os distratos tiveram alta de 89%. Os dados são da AmuRio e referem-se à comparação com igual período de 2015.

Direitos - Segundo a AmuRio, nos casos em que o consumidor pede a devolução do valor pago, como quando perde o emprego, sem que tenha havido atraso na entrega do imóvel, o percentual de direito de devolução oscila entre 75% e 90% do total já desembolsado. No entanto, as construtoras costumam se prontificar a devolver apenas entre 20% e 50%, o que leva os consumidores a entrarem na Justiça. Este tipo de ação, no Rio, leva pelo menos um ano.

FONTE: O GLOBO