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08/11/2022

O que esperar dos próximos quatro anos para a habitação? (Abrainc)

Com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, o mercado imobiliário analisa o impacto na atual política de juros e nos programas habitacionais populares

Nos anos em que esteve à frente do Brasil, um dos pilares do governo do Presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva foi habitação. A criação do Minha Casa, Minha Vida, em 2009, é um dos marcos desse período. Com a volta do petista ao poder, o mercado imobiliário analisa o impacto na atual política de juros e nos programas habitacionais populares.

 

Perspectiva macroeconômica

 

Não é de hoje que analistas pelo mundo afora indicam um cenário de esfriamento do mercado imobiliário para os próximos anos. Essa concepção é alimentada por tópicos como a desaceleração da economia da China, a guerra na Ucrânia, os EUA na vanguarda do processo de aumento de juros e a alta inflação que o Brasil e outros países vêm enfrentando.

 

Ao mesmo tempo que a pandemia fez o mercado residencial explodir, o que se enxerga a curto e médio prazo é uma queda. “O próximo ano é de recessão global. Não sabemos como ela vai se apresentar exatamente, mas vai acontecer”, examina Danilo Igliori, Professor do Departamento de Economia da USP e economista-chefe do DataZAP+. Ele acredita que a diminuição rápida da Selic pode contribuir positivamente com o setor.

 

“Entender em quanto tempo o novo governo consegue dar condição para o Banco Central começar a baixar juros é uma questão-chave. Essa movimentação estimula atividades econômicas e pode fazer com que o esfriamento do mercado imobiliário seja mais curto e menos agressivo”, comenta. “É preciso uma estratégia não populista de condução da política macroeconômica”, adiciona.

 

Ele pontua que as ações tomadas pela equipe de transição nos primeiros dias pós-eleições indicam essa opção. “O governo encaminha a formação de uma coalizão forte e sólida no congresso e a reforma tributária aparece como uma prioridade”, enumera. “Mostrar que está cuidando dos gastos públicos e endereçando reformas pode dar um reforço de longo prazo para a questão fiscal.”

 

Minha Casa, Minha Vida

 

No discurso realizado após a vitória nas urnas, Lula dedicou alguns segundos para reforçar o retorno do programa Minha Casa, Minha Vida. Responsável por cerca de 5,5 milhões de unidades habitacionais contratadas e mais de 4 milhões entregues até 2019, o projeto foi rebatizado para Casa Verde e Amarela durante a gestão Bolsonaro e passou por um processo de desidratação.

 

Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência. Por isso, vamos retomar o Minha Casa, Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

 

Na perspectiva de Luiz Antonio França, CEO da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliária (Abrainc), a iniciativa apresenta potencial positivo. “O programa é muito relevante para o setor, que está carente e deve oferecer mais recursos para as pessoas que precisam”, defende. “Ver revoluções acontecendo nos programas de habitação social é um divisor de águas.”

 

Ele enxerga que a atividade é capaz de auxiliar não apenas as pessoas que são beneficiadas diretamente com os programas de habitação do governo Lula, mas toda a cadeia de trabalhadores e o sistema envolvido. “O segmento da construção civil é importante para a geração de empregos e de impostos. Nos próximos anos temos um déficit para cobrir e aumentar o volume de obras vai ajudar”, acrescenta.

 

Próximos passos

 

O presidente da Abrainc conta que, ainda antes das eleições, a instituição encaminhou uma lista de propostas relacionadas à habitação para Lula e os outros candidatos presidenciais e que agora se prepara para acompanhar de perto as ações do governo. “Assim que os executivos das pastas forem nomeados vamos trazer um pouco das ideias que apresentamos para o plano de governo”, antecipa.

 

A jornada para que as transformações estruturais comece a acontecer no País, entretanto, passa por um planejamento de longo prazo. É isso que defende Igliori. “Você demora três anos para construir um prédio, alguns anos para conseguir o dinheiro da entrada e 20 anos para pagar. Depois, aquele edifício fica lá por muitas décadas. A dinâmica não pode ser apressada”, ilustra o professor.

 

“Quando entra um novo governo, as pessoas são tomadas de esperança, mas não é assim que o setor funciona. Um crescimento sólido depende de uma caminhada com reformas macro e microeconômicas a longo prazo”, pontua. A solução que ele apresenta passa por conversar com os players do setor e utilizar o conhecimento que o mercado imobiliário brasileiro vem construindo nos últimos anos

 

Matéria publicada em 07/11/2022

FONTE: ABRAINC