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11/08/2016

Obras de infraestrutura podem puxar retomada de material de base em 2017

No primeiro semestre, o faturamento do segmento acumulou queda de 16,2% ante 2015.

Com o crédito imobiliário ainda caro e restrito, que parou a venda de imóveis novos, a indústria de material de base, principalmente de cimento, aposta que a solução virá do destravamento das obras de infraestrutura a partir do ano que vem, dizem especialistas.

"Nos últimos anos, a expansão do setor de construção foi resultado de uma conjuntura favorável: aumento do número de empregados e da renda das famílias, junto com maior oferta de crédito imobiliário e juros baixos. Agora, não temos nenhum desses fatores presentes na economia ou perspectiva de retorno do cenário visto há alguns anos", avaliou o presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), José Otavio Carvalho.

Ele vê, porém, a chance de a demanda vinda das obras de infraestrutura puxar uma retomada e também mudar a dinâmica do mercado nos próximos anos. "A expansão do cimento nos últimos 10 anos se deu de maneira mais forte em edificação [imóveis comerciais e residenciais], mas agora vemos que a melhora aparecerá primeiro e será mais forte em obras de infraestrutura", disse ele.

Segundo o dirigente, um estudo realizado pelo Snic mostrou que as edificações respondiam por quase 75% do consumo de cimento no País, com o restante vindo de infraestrutura, mas ele acredita que o perfil pode mudar.

Carvalho evitou fazer projeções sobre o momento da possível retomada da indústria de cimento. Para ele, ainda não é possível afirmar quando as quedas na produção serão interrompidas e, neste ano, o consumo de cimento deve ficar até 15% abaixo dos números do ano passado. "O resultado em 2017 ainda é uma interrogação", afirmou ele.

Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover, prevê uma possível melhora dos números da indústria de base, incluindo cimento, a partir de 2017. "Essas grandes obras de infraestrutura estão com uma defasagem grande e a expectativa é de melhora na demanda do setor quando esses projetos de concessão e parcerias público-privadas [PPP], a serem aprovados neste ano, começarem a ser colocados em prática em 2017", avaliou ele.

Com a atividade imobiliária em baixa, os materiais de base devem encerrar 2016 no vermelho, segundo os dirigentes. No primeiro semestre, o faturamento do segmento acumulou queda de 16,2% ante 2015.

Edificação - "O consumo de cimento ainda não chegou ao fundo do poço e, quando atingir o menor patamar, ainda deve demorar um pouco para ter uma retomada, com a demanda para edificações levando mais tempo para se recuperar", afirmou Carvalho, do Snic. Se a indústria de cimento repetir o ritmo de retomada visto após a crise econômica na década de 80, o crescimento pode voltar só em dois ou três anos após a interrupção das quedas, citou ele.

Os dirigentes do Snic e da Abramat não esperam a retomada em edificações no curto prazo e atrelam uma possível melhora do segmento a expansão do crédito imobiliário e redução das taxas de juros. "Os financiamentos imobiliários estão 33% menores neste ano e não há crédito para compra de imóveis", disse Cover. A taxa básica de juros (Selic), hoje em 14,15% ao ano, chegou a 8,40% em agosto de 2013, quando setor ainda estava em alta.

A Votorantim Cimentos também projeta recuo no consumo de cimento neste ano, refletindo a queda no Produto Interno Bruto (PIB) e a inflação ainda alta. "No entanto, avaliamos que o mercado imobiliário começa a mostrar sinais de melhora, acompanhando a recuperação da economia", comentou o gerente de marketing de cimento da empresa, André Junqueira.

O executivo aposta no lançamento recente de embalagens de cimento separadas por tipo de aplicação para recuperar as vendas. Segundo ele, 65% das pessoas que compraram as novas embalagens, voltaram a adquirir produtos.

A empresa também investiu na possibilidade de uma guinada futura do mercado, com a inauguração no fim de junho de uma fábrica em Primavera (PA), com capacidade para 1,2 milhão de toneladas de cimento por ano. A produção vai atender ao Norte e Nordeste. 

FONTE: GRANDES CONSTRUçõES