A gestora de fundos canadense Brookfield comprou por R$ 2,8 bilhões 70% da Odebrecht Ambiental, braço do grupo Odebrecht que administra concessões na área de saneamento e respondeu por 2,6% do faturamento do conglomerado no ano passado.
A Odebrecht Ambiental também vendeu sua participação nas empresas Cetrel e CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico) por R$ 800 milhões. Sua fatia na Cetrel, que trata resíduos das indústrias do Polo Petroquímico de Camaçari (BA), foi adquirida pela petroquímica Braskem, hoje a principal empresa do grupo Odebrecht. A alemã ThyssenKrupp ficou com a CSA.
O anúncio da venda desses negócios deve ser feito nesta sexta-feira (20) pela Odebrecht e pela Brookfield. O valor total das transações é de cerca de R$ 3,6 bilhões.
Criada em 2008, a Odebrecht Ambiental tem 6 mil funcionários e fatura cerca de R$ 2,5 bilhões por ano. Entre suas maiores fontes de receita, estão as concessionárias de água e esgoto da região metropolitana do Recife. A empresa também atua na cidade do Rio de Janeiro, tem 12 concessões no Estado de São Paulo e atende todos os municípios do Tocantins.
Principal grupo empresarial investigado pela Operação Lava Jato, a Odebrecht enfrenta dificuldades financeiras desde o ano passado e pôs à venda empresas e participações para tentar reduzir sua dívida, que gira em torno de R$ 100 bilhões hoje.
Com a venda da Odebrecht Ambiental, o balanço do grupo ficará R$ 10 bilhões mais leve, já que a empresa controladora se livrará de R$ 7 bilhões em dívidas e receberá cerca de R$ 3,4 bilhões. Cerca de R$ 200 milhões ficarão retidos para contingências.
A empresa negocia desde maio um acordo com o Ministério Público Federal para colaborar com as investigações da Lava Jato em troca de redução das penas de seu ex-presidente, Marcelo Odebrecht, que está preso em Curitiba há mais de um ano, e dezenas de outros executivos.
Riscos - No acerto com o grupo canadense, a Odebrecht deu garantias de que vai arcar com riscos sucessórios como as multas que deverão ser cobradas como resultado do acordo de delação. Como a Folha informou em junho deste ano, a força-tarefa da Lava Jato quer cobrar mais de R$ 6 bilhões de multa da empresa.
Por isso, decidiu-se criar um fundo em que 5% do valor da compra da Ambiental ficará retido por cinco anos. Depois disso, o dinheiro vai para a Odebrecht. A companhia também ficará proibida de voltar à área de saneamento no Brasil por cinco anos.
No entanto, a empresa está livre para dar andamento a prospecções de novos negócios que vinha fazendo no México, em Angola e no Peru.
O fundo de investimento FI-FGTS, que detêm os outros 30% da Odebrecht Ambiental, optou por continuar no negócio após quase dois meses de conversas, o que atrasou a assinatura dos contratos.
A empresa foi avaliada em R$ 5 bilhões, segundo envolvidos na transação de compra e venda. Antes de dar andamento à compra, a Brookfield contratou o escritório de advocacia americano Cahill Gordon & Reidel, que fez uma profunda auditoria nos livros da Odebrecht Ambiental.