A Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) espera apresentar para os detentores dos US$ 3 bilhões em bônus emitidos no mercado externo uma proposta até o fim deste mês para reestruturar os compromissos, que deve trazer essencialmente um pedido de desconto significativo, entre 50% e 70%.
Na quinta-feira, terminou o primeiro período de negociação fechada por acordo de confidencialidade sem que sequer houvesse uma oferta formal da empresa. Os diálogos começaram em dezembro, mas a troca de informações entre os grupos foi formalizada em janeiro. Frustrados com a demora nas negociações, o grupo de "bondholders", como são conhecidos os detentores de bônus, divulgaram sua própria proposta - algo pouco comum sem que haja oferta da empresa antes.
Há quatro pilares no pedido dos investidores estrangeiros: um aporte de capital na OEC pela holding do grupo Odebrecht, a ODB, de US$ 375 milhões; nenhum corte no valor da dívida; cobertura dos compromissos com ações da Braskem em garantia; e compromisso da ODB de pagar um saldo de US$ 2,2 bilhões de empréstimos tomados da construtora.
A Odebrecht disse em nota que a proposta "não é viável". Conforme o Valor apurou, os detentores dos bônus colocaram seus desejos sem base negocial. Para a OEC, o objetivo principal é cortar o total da dívida, pois a companhia passou por um radical encolhimento e precisa de flexibilidade para refazer a carteira de pedidos - que já foi superior a US$ 30 bilhões e hoje está abaixo de US$ 6 bilhões.
Em 2015, a construtora da Odebrecht teve US$ 16,7 bilhões em receita e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de US$ 1,7 bilhão. Até setembro do ano passado, em 12 meses, acumulava receita de US$ 2,2 bilhões e US$ 238 milhões de Ebitda. Sem uma reposição importante de obras, a companhia praticamente acabaria dentro de cinco anos.
Com o fim da confidencialidade, os detentores dos bônus ficam livres para negociar os papéis no mercado. Os títulos, de várias emissões, negociam abaixo de 20% de seu valor de face. O grupo organizado de credores tem quatro grandes fundos, Alliance Bernstein, Fidelity, BlackRock e Gramercy, com cerca de 40% da dívida.
Conforme fonte próxima à negociação, a proposta dos detentores dos bônus foi uma resposta às próprias previsões otimistas da OEC. A empresa espera que neste ano a carteira de pedidos alcance US$ 7 bilhões, chegando em 2023 a US$ 13,2 bilhões. Mas não há nenhuma garantia de sucesso.
A análise do fluxo da companhia deixa evidente o quão delicada é a situação. A construtora chegará ao fim de 2019 com US$ 18 milhões em caixa, sem considerar o pagamento do serviço das dívidas financeiras, apenas US$ 141 milhões com multas e acordos necessários após a Lava-Jato. No cenário base do grupo, entre 2020 e 2022, o saldo de caixa ficará negativo. Caso haja atraso na recomposição da carteira, a situação fica ainda mais grave. Nas previsões da OEC, em 2021, novos projetos responderão por 80% da receita e, a partir de 2023, a empresa já dependerá quase integralmente da obtenção de novas obras.