Possibilidade de comparar preços e tomar decisões com apoio da tecnologia torna o sistema
Incentivar a adoção de tecnologia para criar valor para os consumidores de serviços financeiros, crédito, mercado de capitais e meios de pagamento é uma das metas da agenda BC#, que inclui iniciativas como Pix e open banking, a partir do princípio de que o cliente é dono das próprias informações e pode usá-las a seu favor em qualquer instituição.
No Brasil, o Banco Central e os agentes de mercado optaram por ampliar o escopo do sistema de open banking ao máximo. Como a envergadura do projeto seria ampla, com requisitos como o desenho de conectores de softwares (APIs) padronizado para uso de todos os participantes, a ideia foi otimizar os custos, como explica o diretor de organização do sistema financeiro e de resolução do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello.
O crédito, por exemplo, ganha eficiência e tem custos menores com apoio de dados extraídos da conta corrente, cartão de crédito e investimentos do interessado. O registro de recebíveis de cartão de crédito como condição de execução segura de garantias pode facilitar a vida de lojistas em busca de antecipação ou capital de giro. O processo é similar ao que ocorreu com empréstimos consignados em crédito pessoal e alienação fiduciária em compra de veículos, compara o executivo.
“O desconto de recebíveis de cartão oscilava entre 2% e 4% ao mês até dois meses atrás e já existe oferta com 0,7%”, acrescenta José Berenguer, CEO do Banco XP. A possibilidade de comparar preços e tomar decisões com apoio da tecnologia torna o sistema mais competitivo em favor do cliente, mas também demanda maior educação financeira para aproveitar ofertas em um ambiente cada vez mais sofisticado - como entender em qual situação é mais favorável optar por um consórcio ou um financiamento imobiliário.
Depois da primeira fase, com disponibilização de informações sobre produtos e instrumentos financeiros, a fase 2 do open banking entrou em operação em 13 de agosto, com compartilhamento de dados transacionais e de crédito autorizados pelo cliente. A primeira etapa da fase 3 começaria ontem (31), mas foi adiada para 29 de outubro. A quarta fase envolve escopo maior de finanças abertas, com compartilhamento de dados de produtos de investimentos e seguros. “O open finance coloca foco na cidadania financeira”, diz Amancio Paladino, diretor de investimentos da XP Seguros.
As seguradoras já começam a enfrentar os desafios tecnológicos, como construção de ambientes para trafegar informações de forma segura e APIs de integração. A meta é se preparar para o novo cenário de maior transparência, comparabilidade entre produtos e potencial de criação de ofertas aderentes ao perfil de cada cliente.
O próprio correntista já demanda experiências mais digitais para saber comprar seguros, um dos produtos financeiros mais complexos, na avaliação de Victor Bernardes, diretor de vida e previdência da SulAmérica Seguros. Isso se dá apesar do aumento da consciência que questões como reforma da previdência e pandemia tenham despertado nos brasileiros sobre a necessidade de construção ou manutenção de patrimônio e reserva de valor.
Mesmo com o setor já preparado para atender movimentos como portabilidade de previdência, que soma R$ 1 trilhão de reservas acumuladas, a opção pela mudança não passa de 3% ao ano. “Os demais ainda não testaram se o produto comprado ainda é aderente ao seu perfil de risco ou necessidade”, diz Henrique Diniz, diretor de produtos de previdência na Icatu.
Além do arcabouço tecnológico e regulatório, com convergência de agendas entre Susep e BC no contexto global de produtos financeiros, a área de seguros sai na frente em dois aspectos relacionados ao sistema aberto. De um lado, terá tempo suficiente para conhecer os problemas e soluções ao longo do percurso do open banking. De outro, já conta com cultura e ecossistema diversificados. Até o fim de 2022, a perspectiva é de outras empresas poderem iniciar serviços de seguros usando a plataforma open insurance, com expansão de serviços de assessorias pessoal ou on-line e descentralização do serviço apoiada por informações consolidadas.