Notícias

14/10/2024

OPINIÃO: Desafios e oportunidades na habitação popular (o Estado de S. Paulo)

Quando falamos de habitação no Brasil, vivenciamos um problema crônico com uma equação que nunca fecha: a necessidade de novos domicílios e a demanda de unidades produzidas pelo mercado imobiliário. Um cenário que afeta diretamente as classes de baixa renda.

Quando falamos de habitação no Brasil, vivenciamos um problema crônico com uma equação que nunca fecha: a necessidade de novos domicílios e a demanda de unidades produzidas pelo mercado imobiliário. Um cenário que afeta diretamente as classes de baixa renda.

De acordo com dados de 2022 da Fundação João Pinheiro, o Brasil contabiliza um déficit habitacional de 6,2 milhões de moradias, respondendo por 8,3% do total de domicílios ocupados. Ainda segundo o levantamento, o cenário é mais crítico nas regiões Sudeste (2,4 milhões) e no Nordeste (1,7 milhão).

No estado de São Paulo, esse montante chega a 1,2 milhão. Na outra ponta, temos uma produção de unidades ainda incipiente para atender a essa necessidade – produzimos anualmente somente 30%.

Os dados evidenciam um problema estrutural que pode ser solucionado com a intensificação da construção de empreendimentos de baixa renda – algo que ganhou um novo impulso no governo atual, com a revitalização do programa Minha Casa, Minha Vida.

Nos últimos anos, as regras para conseguir comprar um imóvel que se enquadre na iniciativa habitacional mudaram e o escopo de brasileiros que podem pleitear um financiamento com subsídios oferecidos pelo governo aumentou.

Além disso, o volume de lançamentos de imóveis do programa cresceu 65,9% no primeiro semestre deste ano, na comparação anual. Da mesma forma, as vendas também avançaram 37,4%, de acordo com dados da CBIC.

Não à toa, no mês passado o governo federal atingiu a marca de 1 milhão de unidades habitacionais contratadas no âmbito do projeto, cuja soma é exatamente a metade da meta estabelecida para o MCMV até 2026.

Apesar disso, ainda temos alguns desafios pela frente, a começar pelas condições macroeconômicas, com a taxa de juros ainda em patamares elevados, o que encarece o crédito imobiliário, dificultando o financiamento, o que impacta diretamente na baixa renda.

Outro aspecto diz respeito à falta de previsibilidade de longo prazo em relação aos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para financiar o Minha Casa Minha Vida, refletido no aumento elevado do volume de saques.

Isso dificulta o investimento na compra de terrenos e planejamento de novas obras de longo prazo e demanda que o governo busque novas alternativas de funding para financiar a habitação popular. Já ficou claro que tanto o FGTS quanto a poupança não serão capazes de suprir 100% essa necessidade, tornando o mercado de capitais um ator importante desse movimento.

Portanto o mercado de capitais precisa ser um parceiro ativo no financiamento da habitação popular. A entrada mais robusta de recursos privados, por meio de fundos de investimento e outras modalidades de captação de capital é essencial para viabilizar a produção em larga escala e atender a crescente demanda habitacional.

O mercado imobiliário de baixa renda deve buscar alinhar a oferta de produtos que atendam às expectativas dos clientes com a capacidade que eles têm de financiamento, já que o poder de compra tem sido progressivamente limitado.

A contribuição da tecnologia e da inovação também tem um papel crucial na superação de alguns entraves do setor. A adoção de novas tecnologias e práticas construtivas avançadas estão promovendo o aumento da produtividade, a redução dos prazos de entrega e até a diminuição dos desperdícios nos canteiros de obras, reduzindo o impacto ambiental. A inteligência artificial também pode ser um agente revolucionário para o setor, desde a escolha do empreendimento para a região até a entrega.

O poder transformador de um empreendimento imobiliário de baixa renda é enorme. Ele pode trazer qualidade de vida para as pessoas, proporcionando mudanças estruturais em uma região, promovendo o desenvolvimento e a melhora do bairro. Todos ganham com isso. A cadeia produtiva, a cidade e as pessoas. 

FONTE: ESTADO DE S.PAULO