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15/03/2016

Para conter custo, Caixa reestrutura funções

Com a alegação de que "o ano de 2016 configura-se mais difícil e desafiador", a Caixa Econômica Federal colocou em marcha uma reestruturação para cortar gastos. Só na semana passada, cerca de 600 gratificações de trabalhadores do edifício-sede foram extintas e a expectativa é que haja diminuição ainda maior nas regionais espalhadas por todo o país.

Edna Simão, Lucas Marchesini e Vinícius Pinheiro 

Com a alegação de que "o ano de 2016 configura-se mais difícil e desafiador", a Caixa Econômica Federal colocou em marcha uma reestruturação para cortar gastos. Só na semana passada, cerca de 600 gratificações de trabalhadores do edifício-sede foram extintas e a expectativa é que haja diminuição ainda maior nas regionais espalhadas por todo o país.

A notícia dada na última quinta-feira deixou um clima de apreensão entre os funcionários, pois as chamadas "funções" ajudam a melhorar os salários dos funcionários. Além disso, muitos dos trabalhadores terão que ser alocados em outros Estados.

A Comissão Executiva dos Empregados da Caixa Econômica Federal (CEE/Caixa) se reúne nesta terça-feira, na sede da Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa (Fenae), para planejar mobilização contra as medidas de reestruturação. Na avaliação da comissão, as mudanças estão sendo feitas sem diálogo e transparência.

Para o presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira, o objetivo é suspender a reestruturação para que haja uma negociação. "Tudo foi feito em clima muito hostil", frisou.

Segundo nota divulgada pela Caixa, a reestruturação tem como objetivo tornar a matriz do banco federal mais estratégica, reforçar suas áreas de apoio operacional e dar melhores condições para que as agências realizem negócios e aprimorem o atendimento aos clientes. "A Caixa está compatibilizando as necessidades da empresa com o perfil e experiência de seus empregados. As adequações em sua estrutura vão racionalizar processos, melhorar a gestão estratégica, operacional e negocial do banco", informou a Caixa.

Em mensagem interna aos funcionários, o banco federal destacou que o ano de 2016 será difícil e desafiador. "Para enfrentá-lo, a Caixa precisa se tornar mais eficiente, mais rentável e fará isso cumprindo o planejamento previsto para o período de 2016-2018".

Atualmente, a Caixa conta com 97,5 mil empregados concursados, além de 15 mil estagiários e aprendizes. Na semana passada, o banco divulgou que registrou um lucro líquido de R$ 7,2 bilhões em 2015, um aumento de 0,9% em relação a 2014 - a menor variação entre os cinco grandes bancos de varejo. Só no quarto trimestre, o resultado da caixa recuou 64,7%, para R$ 636 milhões.

Enquanto tenta cortar custos, a Caixa recebeu uma advertência da agência de classificação de risco Moodys. Em relatório publicado ontem, a agência afirmou que as medidas anunciadas pela Caixa para estimular o crédito imobiliário aumentarão o risco de qualidade dos ativos do banco em um momento em que a inadimplência na carteira já vem aumentando.

O banco público anunciou na semana passada uma série de medidas para incentivar o crédito para a compra da casa própria, incluindo o aumento do limite de crédito para a aquisição de imóveis usados e a reabertura da linha de financiamento para a compra do segundo imóvel.

A concessão de crédito imobiliário pela Caixa caiu 30% no ano passado, diante da menor demanda dos tomadores e da limitação de funding. Os recursos para os novos empréstimos virão de uma linha de R$ 16,2 bilhões recebida do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

A questão é que embora o financiamento habitacional e o consignado - linhas de menor inadimplência - componham a maior parte do portfólio da Caixa, a qualidade dos ativos do banco piorou em todos os segmentos de mercado ao longo do ano passado, segundo a Moodys. A piora foi puxada pela maior inadimplência no crédito corporativo e nas linhas de crédito imobiliário e pessoal.

Como consequência, a inadimplência da Caixa subiu de 2,6% no fim de 2014 para 3,6% no ano passado, uma deterioração mais rápida do que qualquer outro grande banco, de acordo com a agência. "Pela primeira vez desde 2008, a inadimplência da Caixa superou a média do sistema financeiro, que encerrou dezembro em 3,4%, ante 2,9% no fim de 2014", escreve a analista Ceres Lisboa no relatório.

As despesas com provisão contra calotes da Caixa aumentaram 49% no ano passado, acima da média de 30% dos principais concorrentes, segundo a Moodys.

FONTE: VALOR ECONôMICO