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04/11/2016

PDG troca toda administração para reestruturar dívida bilionária

Todos os administradores legais da companhia serão substituídos, do conselho ao presidente executivo, e até o diretor financeiro.

A PDG Realty anunciou uma reviravolta em sua gestão para pavimentar o caminho para recuperação judicial daquela que já foi a maior incorporadora de capital aberto do país - um processo com compromissos que podem superar R$ 10 bilhões. Todos os administradores legais da companhia serão substituídos, do conselho ao presidente executivo, e até o diretor financeiro.

Além disso, foi anunciada a contratação da RK Partners, de Ricardo Knoepfelmacher, para dar suporte à reestruturação financeira. Marcio Tabatchnik Trigueiro renunciou à presidência da PDG e Maurício Fernandes Teixeira ao cargo de diretor vice-presidente financeiro e diretor de relações com investidores. Vladimir Ranevsky vai acumular os dois cargos. Ele foi presidente da OSX, que teve as finanças reestruturadas pela RK. A dívida financeira da PDG está dividida em compromissos corporativos de R$ 3,5 bilhões da holding e quase R$ 2 bilhões de linhas de apoio à produção, diretamente ligadas aos empreendimentos. É dado como certo que a incorporadora terá de passar por um processo de conversão de dívida em capital, combinado a um corte no valor dos débitos (alongamento).

Os compromissos estão concentrados em praticamente cinco bancos - Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal (CEF), Bradesco, Itaú Unibanco e Votorantim. A necessidade de uma recuperação judicial está, fortemente, relacionada a uma tentativa de estancar a sangria com a saída de recursos decorrentes de distratos e processos por atrasos de obra. Recorrer à recuperação judicial tornou-se, praticamente, inevitável, para a PDG, seja até o fim de novembro ou no início de 2017. A diferença de prazos depende do fôlego financeiro que a companhia ainda busca com os principais bancos credores para que não seja necessário ajuizar, às pressas, seu processo de recuperação.

Para conseguir o tempo necessário para definir plano que não cause um efeito sistêmico sobre o financiamento do setor imobiliário, a PDG precisaria de recursos entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões, de acordo com fonte. Diante da situação da companhia, foi considerada necessária a substituição do conselho por profissionais com mais experiência em reestruturação financeira. Gilberto Sayão da Silva e Pedro Luiz Cerize renunciaram, respectivamente, aos cargos de presidente e membro do conselho. Sayão será substituído por Rafael Grisolia, e Cerize, por Ranevsky. Os outros três membros já manifestaram intenção de deixar os cargos, e os substitutos serão definidos em assembleia de acionistas.

Levar uma incorporadora do porte da PDG à recuperação judicial exige um engajamento e organização com os bancos para que os pilares do setor sejam preservados, como patrimônio de afetação - um dos marcos regulatórios que possibilitou a expansão do mercado imobiliário. Além disso, diferentemente de outros processos, leva à Justiça o debate com milhares de consumidores, com todos os processos relacionados a distratos, atrasos e concertos de obras. Daí, o desejo da companhia de evitar um processo apressado.

Com perfil frio e transparente, Trigueiro liderou, por cerca de 14 meses, a renegociação das dívidas da PDG, com pagamento de R$ 3,3 bilhões aos credores, de entrega de metade das obras e de redução do quadro de pessoal em dois terços. Em agosto deste ano, a PDG anunciou assinatura do equacionamento de R$ 4 bilhões em passivos - R$ 2,9 bilhões em dívidas corporativas e R$ 1,1 bilhão de financiamento à produção. A companhia obteve carência para juros e principal até 2020. Mas, conforme o Valor apurou, à medida que parte dos bancos deixou de cumprir o combinado para a PDG continuar operando - de fornecer os recursos para custos de produção, venda e repasse das unidades -, a motivação de Trigueiro de continuar à frente da companhia diminuiu.

Além disso, conduzir um processo de recuperação judicial não é o perfil do executivo - que tem longa experiência em fusões e aquisições e no mercado de capitais. Engenheiro mecânico-aeronáutico formado pelo Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), Trigueiro foi presidente da Sascar Tecnologia e Segurança Automotiva e sócio da GP Investments.

Na terça-feira, a PDG informou o descruzamento de participações em 18 sociedades de propósito específico (SPEs) com a HM1 - que tem recursos das gestoras Hemisfério Sul Investimentos (HSI) e Farallon. A PDG divulgou que a operação tem como objetivos reduzir o endividamento estendido e sua exposição a contingências das SPEs HM1, além de utilizar os ativos da sua parte resultantes do descruzamento de participações. O que se sabe, porém, é que a cisão permite, em caso de recuperação judicial, que a HM1 não tenha de lidar com o processo. Outros descruzamentos de participações em SPEs são esperados, diante da iminência da recuperação judicial.

 PDG teve forte crescimento entre 2007 e 2011, impulsionado, principalmente, por aquisições, modelo de expansão que foi considerado muito equivocado quando os problemas da companhia começaram a aparecer, no início de 2012. A contratação de dívidas para dar suporte ao crescimento acelerado, a demora para unificar as operações das controladas adquiridas e a falta de controle resultaram na mudança da condição da companhia de maior empresa do setor - nos anos de 2010 e 2011 - para a mais problemática. A piora da economia e os retrocessos do setor, nos últimos anos, só contribuíram para agravar a situação.  

FONTE: VALOR ONLINE