Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelam que 76% dos consumidores brasileiros não conseguiram guardar nenhuma parte de seus rendimentos no último mês de abril.
Com a perda do poder compra e o desemprego elevado, o brasileiro não está conseguindo guardar dinheiro para realizar um sonho de consumo, se preparar para a aposentadoria ou até mesmo para lidar com imprevistos. Apenas 20% dos entrevistados foram capazes de poupar ao menos parte do salário. O baixo número de poupadores tem se mantido estável desde janeiro deste ano, mês de início da série histórica.
A abertura do indicador por faixa de renda revela que é nas classes C, D e E em que o problema surge com mais força. Oito em cada dez (82%) pessoas que se enquadram nessa faixa de rendimento não conseguiram poupar dinheiro. Já nas classes A e B, o percentual de não-poupadores cai para 57% da amostra.
Entre os brasileiros que não pouparam nenhum centavo, 47% justificam receber um salário muito baixo, o que inviabiliza ter sobras no fim do mês.Outros 17% disseram não ter tido ganho de renda e 15% foram surpreendidos por algum imprevisto financeiro. Há ainda 9% de consumidores que admitiram ter perdido o controle sobre os próprios gastos, fato que impossibilitou fechar o mês com as contas no azul.
No total, 64% dos brasileiros não possuem qualquer tipo de reserva financeira, percentual que cai para 39% entre as pessoas das classes A e B.
E dentre aqueles que têm algum recurso guardado (33,3%), mais da metade (51%) fizeram uso recentemente dos recursos poupados. Os principais motivos foram o pagamento de despesas do dia a dia (14%), imprevistos (12%) e pagamento de dívidas (10%).
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, alerta que o hábito de poupar é mais importante do que o valor que se guarda mensalmente, pois com o passar do tempo, essa quantia pode ir aumentando gradativamente. "Quando falta o básico, é difícil falar em reserva financeira. Nesses casos, ainda que não seja possível poupar com frequência, vale o esforço de poupar ao menos parte de rendas extras e eventuais. Os aportes não precisam ser altos, e de pouco em pouco, esse consumidor pode constituir um colchão para pelo menos lidar com imprevistos. O grande desafio é manter a disciplina e só sacar esse dinheiro em caso de extrema necessidade", diz a economista.
A pesquisa mostra que dentre os brasileiros que possuem alguma reserva financeira, o objetivo principal é se proteger contra situações imprevistas e não necessariamente realizar um sonho ou fazer compras. No total, 38% dessas pessoas pouparam parte de suas rendas para se prevenir contra doenças ou imprevistos em casa, 30% para garantir um futuro melhor para seus familiares e outros 30% para enfrentar uma possível demissão.
Somente a partir do quarto lugar no ranking de citações é que aparecem opções relacionadas a consumo, como realizar um sonho de compra (22%), fazer uma viagem (20%), bancar os estudos (17%) e comprar ou quitar a aquisição da casa, ambos com 16%.
Considerando o destino dos rendimentos, a maioria (68%) dos poupadores escolheu um tipo de aplicação de baixa remuneração, como a poupança. Em segundo lugar, 18% das pessoas decidiram manter o dinheiro guardado em casa.