O mês de junho mostrou uma recuperação forte do crédito imobiliário, mesmo ainda sob o efeito da pandemia de covid-19. Os financiamentos com recursos da poupança para aquisição e construções de imóveis avançaram 53%, para R$ 9,3 bilhões, na comparação com o mesmo período do ano passado.
O volume liberado pelos bancos alcançou R$ 43,4 bilhões no primeiro semestre, com alta de 29%, segundo a Abecip, associação das instituições financeiras que atuam no crédito imobiliário. “Foi um semestre melhor em todas as regiões, com exceção do Rio”, afirmou a presidente da entidade, Cristiane Magalhães. “Houve uma piora da confiança no setor, mas as pessoas estão comprando imóvel, seja pelo déficit habitacional, seja pela conjunção de valores atrativos dos imóveis mais taxa de juros baixas, ou porque já tinham se programado para isso.”
Em entrevista ao Valor anteontem, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse que junho foi, para o banco, o melhor mês dos últimos quatro anos no crédito imobiliário. Os dados da Abecip apontam que a instituição liderou o mercado em junho, com participação de 43% no volume financiado no período, seguida pelo Bradesco, com 21%.
A recuperação no setor é puxada por pessoas físicas à procura da casa própria, com destaque para a compra de imóveis usados. O crédito à construção teve desempenho bem mais modesto no primeiro semestre, embora também positivo. Em junho, o financiamento a obras avançou 63%, para R$ 2,3 bilhões, após três meses de queda.
No entanto, o desempenho da construção ainda é incógnita. Por isso, a nova estimativa da Abecip é que o crédito imobiliário cresça 12% neste ano, o que sugere um segundo semestre mais fraco que o primeiro. Em janeiro, a perspectiva era que as concessões aumentassem 31% em 2020 como um todo.
Segundo Cristiane, a nova projeção é conservadora, com “viés de alta”, e vem sendo atualizada mês a mês. “Nossa melhor previsão hoje é conservadora, principalmente pela postergação de projetos de longo prazo”, disse.
Na avaliação da executiva, a demanda de pessoas físicas por financiamento à aquisição de imóveis deverá seguir num patamar mais forte, como já se encontra.
A inadimplência mostrou leve alta. Nos contratos com alienação fiduciária, o indicador subiu para 1,6% em junho, ante 1,5% em dezembro do ano passado. “Não estamos vendo nada que assuste”, afirmou.
Num contexto de taxa Selic nas mínimas históricas, a presidente da Abecip afirmou acreditar que há espaço para alguma redução nas taxas de juros do crédito imobiliário. Porém, já não na intensidade que se viu há dois anos, quando as taxas da modalidade recuaram do patamar de 11% para 7% ao ano. Segundo Cristiane, os juros futuros apontam alta e não está claro que a poupança manterá o ritmo atual de captações.
Apesar disso, a executiva afirmou não enxergar sinais de que os bancos vão querer se apropriar de spreads mais elevados. “Não acho que a gente esteja numa fase de querer o maior spread possível. Há competição e a portabilidade está bem estruturada”, disse a executiva.