Após retração de 6,52% no ano passado e de 2,14% em 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor de construção civil terá queda de 5,3% neste ano e aumento de 0,5% em 2017, conforme as projeções do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) calculadas em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). A retomada do setor de construção será lenta e demorada, segundo a coordenadora de projetos da construção da FGV, Ana Maria Castelo. "Vamos inverter o sinal no ano que vem, mas estamos muito longe de reverter as taxas negativas do setor nos últimos três anos", disse Ana Castelo.
O presidente do Sinduscon-SP, José Romeu Ferraz Neto, defende que as obras de infraestrutura sejam destravadas e que as taxas de juros caiam. Uma queda mais acentuada dos juros pode contribuir para o aumento do crédito imobiliário e para que os consumidores sintam mais confiança de adquirir imóveis. "Esperamos que 2017 seja um ano de virada e que possamos dizer que erramos para baixo [as projeções de crescimento]", disse o presidente do Sinduscon-SP. Ferraz Neto ressalta a necessidade da realização das reformas da previdência, trabalhista e tributária pelo governo federal. A projeção de aumento do PIB setorial em 2017 baseia-se na perspectiva do início das reformas; na contratação de 40 mil unidades da faixa 1,5 e de 70 mil unidades da faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida; na retomada de 1,6 mil obras paradas de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); e no avanço das concessões e licitações.
O Sinduscon-SP e a FGV estimam recuo de 14,5% no nível de emprego da construção neste ano. Segundo a representante da FGV, o estoque de empregos no fim de dezembro será equivalente ao de agosto de 2009. "O estoque ainda é superior ao do início do ciclo [imobiliário], em 2005 ou 2006, mas estamos retrocendendo rapidamente", disse. Ana Castelo destacou que, em dois anos, o setor perdeu quase um milhão de trabalhadores e contou que espera queda de pelo menos 5% no nível de emprego da construção no próximo ano.
No mercado imobiliário, o nível de emprego caiu 17,68%, de janeiro a outubro. O segmento teve 36,43% de participação no nível de emprego da construção. A segunda maior queda (14,82%) ocorreu no ramo de preparação de terreno, que responde por 4,27% do emprego do setor. Em novembro, a Sondagem da Construção apontou o ápice das diferenças entre expectativas e desempenho empresarial, segundo a representante da FGV. "Se as mudanças anunciadas não se concretizarem, haverá piora das expectativas", disse.
A pesquisa apontou nota de 37,2 para o desempenho do setor. Conforme a metodologia utilizada, valores inferiores a 50 são considerados não favoráveis. Para 2017, porém, a maior parte dos indicadores que compõem o levantamento a partir da percepção dos empresários atingiram o patamar acima de 50, ou seja, são favoráveis. "Em algum momento, a expectativa tem que influenciar, positivamente, a decisão de investir", afirmou Ana Castelo. Ontem, o Sinduscon-SP e a FGV divulgaram o Indicador de Atividade das Empresas da Construção Civil (INACC).
Na composição do indicador, o nível de emprego tem peso de 45%; a produção física de insumos, de 40%; e a produção física de bens de capital, de 15%. O indicador caiu 19,3%, no acumulado do ano até setembro, de acordo com levantamento. Em 12 meses, a queda acumulada é de 13,71%. Para a cidade de São Paulo, o Sinduscon-SP defende que a unificação das aprovações de licença seja prioridade para o setor pelo novo prefeito da cidade de São Paulo, João Doria. Segundo Ferraz Neto, pontos do Plano Diretor precisam ser revistos, como o valor das outorgas onerosas - instrumento que possibilita construir área acima do permitido pelo coeficiente básico até o limite do coeficiente máximo de cada zona. "Os valores das outorgas foram definidos em momento de muita euforia", disse.