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03/06/2022

PIB da construção pode ter alta de 'pelo menos' 3% em 2022, mas 2º semestre segue desafiador, diz FGV (Valor Econômico)

Setor terá no segundo semestre perspectiva de juros e inflação em alta, o que inibe a demanda e, por consequência, pode ajudar a diminuir ritmo de lançamentos

Por Alessandra Saraiva

O Produto Interno Bruto (PIB) da construção sinaliza, nesse começo de ano, uma alta de "pelo menos" 3% no resultado anual de 2022 ante ano passado, segundo Ana Castelo, Coordenadora de Projetos de Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE), e responsável pela Sondagem da Construção da fundação.

Ela fez a observação ao comentar sobre as altas, anunciadas hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas Contas Nacionais do país referentes aos primeiros três meses do ano, de 0,8% na atividade da construção ante quarto trimestre de 2021, e de 9% ante primeiro trimestre de 2021. A técnica comentou que o desempenho do setor foi bom, e favorecido por maior impulso das obras de governo, e boa performance da iniciativa privada - no caso, o mercado imobiliário.

Ela não descartou possibilidade de continuidade no saldo positivo no setor de construção, o que conduziria a uma nova taxa positiva no PIB anual da construção esse ano, mas ponderou que as projeções devem ser elaboradas com cautela. Isso porque o cenário do segundo semestre mostra-se desafiador, com perspectiva de juros e inflação em alta - que inibe a demanda e, por consequência, pode ajudar a diminuir ritmo de lançamentos.

Ao falar sobre o desempenho da construção no primeiro trimestre, a técnica comentou que, no período, houve sinalização positiva nos três campos que impulsionam a atividade: infraestrutura, que atende obras de grande porte do governo; mercado imobiliário, relacionado à oferta privada do setor; e serviços especializados, como obras de preparação de terreno.

No caso das obras governamentais, a técnica concordou com explicação já veiculada por Rebeca Palis, chefe do departamento de Contas Nacionais do IBGE, ao apresentar os dados do PIB do país essa manhã, de que o ano eleitoral ajudou a impulsionar maior ritmo de obras. Já no caso de mercado imobiliário, ela lembrou que o segmento opera "em um ciclo muito bom".

"As contratações cresceram bem no ano passado. Então, o que foi vendido [no ano passado] as obras estão se iniciando agora [no primeiro trimestre]", comentou. "Houve de fato melhora na atividade da construção [no primeiro trimestre]" resumiu.

Mas a especialista é cautelosa quando fala sobre projeções para o setor, para os próximos trimestres. Ela comentou que, independentemente de quão favorável a construção tenha operado, no primeiro trimestre, isso na prática não garante que a área vá continuar a subir, no mesmo ritmo, nos próximos trimestres.

"Sustentar essa melhora, é o grande X da questão. Temos ciclo produtivo mais longo na construção, e isso tende a segurar a atividade. Mas caso o ciclo de negócios comece a arrefecer, não tem como sustentar esse crescimento", pontuou a especialista.

Tendo em vista essa cautela, a técnica foi taxativa ao dizer ser "pouco provável" uma taxa anual do PIB de construção em dois dígitos. Hoje, o IBGE anunciou taxa positiva anualizada, acumulada em quatro trimestres, de 11,3% no PIB da construção, a maior desde quarto trimestre de 2014 (13,1%). A especialista comentou que essa taxa acumulada representa um "carry over" referente a maioria de taxas trimestrais positivas em 2021. "Essa taxa [acumulada em quatro trimestres] representa mais o passado", resumiu ela.

Mas o futuro, por sua vez, exige um olhar mais atento ao ambiente macroeconômico, e seu impacto no setor da construção, para mensurar projeções, acrescentou a especialista. "Teremos taxas de juros mais adversas [nos próximos trimestres]", comentou ela, lembrando que isso é um fator que mexe com demanda, no mercado imobiliário - além de inflação em alta, acrescentou.

Além disso, as eleições acabam no meio do quarto trimestre, comentou ela, o que também pode influenciar ímpeto de empreendimentos governamentais.

Assim, tendo em vista todos esses fatores, a especialista comentou que o cenário da construção sinaliza que o mercado pode revisar para cima as atuais projeções de PIB da construção para 2022, que giram hoje em torno de aumento de 2,5%, ante 2021. Ela calculou ainda que, se houvesse repetição do desempenho do PIB da construção no primeiro trimestre, nos três trimestres posteriores, o PIB da construção subiria 4,4% em 2022 ante 2021 - mas não considera essa hipótese muito provável.

"Eu diria que teremos PIB anual positivo e que deve ficar pelo menos em [alta de ] 3%", afirmou.

No ano passado, o PIB da construção subiu 9,7% ante 2021, o maior aumento em 11 anos. "Mas essa elevação foi em cima de uma queda de 6,3% [referente a 2020]" frisou a especialista, comentando que a expansão forte do ano passado foi favorecida por base de comparação baixa. "Mas creio que é uma coisa positiva se tivermos dois anos seguidos de taxas positivas [no PIB anual da construção]", finalizou.  

 

Matéria publicada em 02/06/2022

FONTE: VALOR ECONôMICO