Os investidores enfrentam a possibilidade da Evergrande ficar inadimplente, um desastre que poderia se espalhar pelos mercados mundiais e que expõe o estado perigoso em que se encontra o enorme setor imobiliário da China.
A incorporadora mais endividada do mundo disse na semana passada que poderá não conseguir cumprir com suas obrigações financeiras, aumentando o pânico entre os investidores e desferindo um duro golpe em seus bônus. A afirmação também levou à suspensão dos negócios com suas ações nas bolsas de valores de Shenzhen e Xangai.
Na quarta-feira passada, a agência de classificação de risco Fitch emitiu um alerta, reduzindo a classificação de crédito em moeda estrangeira da Evergrande de “CCC+” para “CC” e afirmando que o “default” de algum tipo “parece provável”. Já a agência Moody’s rebaixou a companhia pela terceira vez em meses, afirmando que os credores têm “perspectivas fracas de recuperação” na eventualidade de um “default”.
A crise de liquidez levou alguns dos bônus a Evergrande a serem negociados a menos de 30 centavos por dólar – um nível muito ruim – e enfatizou os temores com a alta alavancagem do setor imobiliário, que representa mais de 28% da economia da China.
Por que a Evergrande poderá ficar inadimplente?
A Evergrande desenvolve projetos imobiliários e depois vende apartamentos para clientes que geralmente compram os imóveis “na planta”, pagando adiantado. Ela tem 778 projetos em execução em 223 cidades. Os pagamentos da Evergrande a fornecedores frequentemente dependem da emissão de notas comerciais, um tipo de título de dívida de curto prazo.
Na semana passada, a companhia disse que seus problemas de liquidez, que incluem atrasos nos pagamentos a fornecedores e taxas de construção, levaram à suspensão de projetos. Ela está correndo para vender ativos e gerar caixa, mas algumas empresas vêm se recusando a aceitar o commercial paper da Evergrande. A agência Standard & Poor’s (S&P) sugeriu que a incorporadora pode estar pagando fornecedores por meio de transferências de propriedade suas, em vez de dinheiro.
A Evergrande está exposta a um ciclo vicioso em que ela não tem dinheiro suficiente para concluir seus projetos e gerar novas receitas com as vendas, que caíram 26% em agosto em comparação ao mesmo período do ano passado, mesmo com a companhia oferecendo grandes descontos.
Ela precisa desse dinheiro não só para cumprir o serviço de sua enorme dívida, mas também reduzi-la. Novas regras impostas pelo governo chinês há cerca de um ano, que forçaram as grandes incorporadoras imobiliárias chinesas a reduzir a tomada de empréstimos, são um dos principais motivos do aumento da pressão sobre a Evergrande no último ano.
“Esperamos um cenário de ‘default’ para a Evergrande, a menos que haja um acontecimento positivo inesperado para a companhia, como vendas de ativos”, disse Matthew Chow da S&P.
Quais dívidas estão sob risco de “default”?
No fim de junho, a Evergrande tinha dívidas de 572 bilhões de yuans (US$ 89 bilhões), incluindo empréstimos de bancos e junto aos mercados de bônus dentro e fora da China. Isso representava uma queda de 20% em relação aos 717 bilhões de yuans computados no fim de 2020, depois de um esforço para reduzir os empréstimos. Mas as várias outras obrigações da companhia significam que seu passivo total é significativamente maior, de 1,97 trilhão de yuans, valor que vem crescendo desde dezembro.
Quando rebaixou a nota da Evergrande em agosto, a S&P estimou que a companhia enfrentaria 240 bilhões de yuans em contas comerciais e contas a pagar nos 12 meses seguintes, e 100 bilhões de yuans neste ano. No fim de junho, a incorporadora tinha 87 bilhões de yuans em caixa. De seu total de cerca de US$ 14 bilhões em bônus denominados em dólar, nenhum vence em 2021. No entanto, a Evergrande precisa pagar US$ 129 milhões em juros sobre esses títulos neste mês, além de US$ 850 milhões que vencem este ano, segundo a Fitch.
Na quarta-feira passada a REDD Intelligence, um serviço de inteligência de crédito, informou que a Evergrande poderá suspender pagamentos sobre um produto de gestão de fortunas que ela emitiu. Separadamente, a REDD informou que a Evergrande disse a bancos que iria suspender os pagamentos de juros aos credores em 21 de setembro. A Evergrande não respondeu a um pedido de entrevista.
O que um “default” significaria para os mercados de bônus?
A Evergrande conta com grandes empresas internacionais entre seus investidores, como Allianz, Ashmore e BlackRock. Um “default” provavelmente teria efeitos colaterais sobre os mercados globais, onde historicamente os investidores sempre apoiaram o governo chinês em momentos de crise.
A Evergrande está tentando resolver seus problemas vendendo ativos. Mas Iris Chen, uma analista do banco de investimentos japonês Nomura, disse no fim de agosto que essas alienações poderiam “na verdade prejudicar” os detentores e bônus de fora do país porque “os recursos provavelmente seriam usados para pagar vencimentos dentro do país”, como custos de construção e empréstimos fiduciários.
Outra possibilidade é um impacto mais amplo sobre outras incorporadoras, que também dependem muito dos mercados de dívida e estão sendo alvos da campanha de desalavancagem de Pequim. A Guangzhou R&F foi rebaixada pela Moody’s na sexta-feira por temores de que ela possa vir a ter dificuldades para emitir títulos de dívida para liquidar obrigações antigas, um processo conhecido como refinanciamento. A Guangzhou R&F tem pagamentos de dívidas futuros que são maiores que seu caixa, segundo a Moody’s. Assim, se ela não conseguir fazer o refinanciamento, corre o risco de “default”. Os bônus da companhia foram vendidos na semana passada.
Os custos dos empréstimos estão aumentando, com os rendimentos dos bônus chineses de classificação especulativa tendo subido cerca de 13% no fim do mês passado, comparado e menos de 10% em junho, segundo um índice da Ice Data Services.
Na semana passada, analistas do Citigroup observaram que as vendas de agosto foram 19% menos, em relação ao mesmo período do ano passado, em 31 empresas listadas do setor imobiliário. O banco acrescentou: “A preocupação com o impacto do contágio da Evergrande levou a uma certa dificuldade na emissão de bônus onshore (devido à demanda) e offshore (devido ao custo)”.
O que isso significaria na China?
Mesmo que o governo central optar por deixar a Evergrande a entrar em “default”, e vez de socorrê-la diretamente – uma medida que se alinharia às percepções de uma mudança em direção a uma abordagem mais voltada para o mercado -, as autoridades provavelmente estarão envolvidas na coordenação da continuidade dos projetos de um grupo que emprega 163.000 pessoas. Geralmente as incorporadoras imobiliárias da China também têm grandes empréstimos junto aos maiores bancos estatais do país.
O “default” em fevereiro da China Fortuna Land Development, uma companhia especializada em parques industriais, levou ao estabelecimento de um comitê de credores. Um relatório de agosto da REDD disse que o governo de Guangdong está recolhendo “feedback” de bancos sobre a possibilidade de criar um comitê de credores para a Evergrande, enquanto a companhia disse em seus resultados provisórios, na semana passada, que está conversando com o governo sobre os projetos suspensos.
Além dos mercados, a questão mais importante para Pequim seria os impactos sobre o setor imobiliário como um todo, que há décadas vem sendo o principal motor da aquecida economia da China – mas que agora está sob pressão por causa das condições de crédito mais rígidas.
Os investidores enfrentam a possibilidade da Evergrande ficar inadimplente, um desastre que poderia se espalhar pelos mercados mundiais e que expõe o estado perigoso em que se encontra o enorme setor imobiliário da China.
A incorporadora mais endividada do mundo disse na semana passada que poderá não conseguir cumprir com suas obrigações financeiras, aumentando o pânico entre os investidores e desferindo um duro golpe em seus bônus. A afirmação também levou à suspensão dos negócios com suas ações nas bolsas de valores de Shenzhen e Xangai.
Na quarta-feira passada, a agência de classificação de risco Fitch emitiu um alerta, reduzindo a classificação de crédito em moeda estrangeira da Evergrande de “CCC+” para “CC” e afirmando que o “default” de algum tipo “parece provável”. Já a agência Moody’s rebaixou a companhia pela terceira vez em meses, afirmando que os credores têm “perspectivas fracas de recuperação” na eventualidade de um “default”.
A crise de liquidez levou alguns dos bônus a Evergrande a serem negociados a menos de 30 centavos por dólar – um nível muito ruim – e enfatizou os temores com a alta alavancagem do setor imobiliário, que representa mais de 28% da economia da China.
Por que a Evergrande poderá ficar inadimplente?
A Evergrande desenvolve projetos imobiliários e depois vende apartamentos para clientes que geralmente compram os imóveis “na planta”, pagando adiantado. Ela tem 778 projetos em execução em 223 cidades. Os pagamentos da Evergrande a fornecedores frequentemente dependem da emissão de notas comerciais, um tipo de título de dívida de curto prazo.
Na semana passada, a companhia disse que seus problemas de liquidez, que incluem atrasos nos pagamentos a fornecedores e taxas de construção, levaram à suspensão de projetos. Ela está correndo para vender ativos e gerar caixa, mas algumas empresas vêm se recusando a aceitar o commercial paper da Evergrande. A agência Standard & Poor’s (S&P) sugeriu que a incorporadora pode estar pagando fornecedores por meio de transferências de propriedade suas, em vez de dinheiro.
A Evergrande está exposta a um ciclo vicioso em que ela não tem dinheiro suficiente para concluir seus projetos e gerar novas receitas com as vendas, que caíram 26% em agosto em comparação ao mesmo período do ano passado, mesmo com a companhia oferecendo grandes descontos.
Ela precisa desse dinheiro não só para cumprir o serviço de sua enorme dívida, mas também reduzi-la. Novas regras impostas pelo governo chinês há cerca de um ano, que forçaram as grandes incorporadoras imobiliárias chinesas a reduzir a tomada de empréstimos, são um dos principais motivos do aumento da pressão sobre a Evergrande no último ano.
“Esperamos um cenário de ‘default’ para a Evergrande, a menos que haja um acontecimento positivo inesperado para a companhia, como vendas de ativos”, disse Matthew Chow da S&P.
Quais dívidas estão sob risco de “default”?
No fim de junho, a Evergrande tinha dívidas de 572 bilhões de yuans (US$ 89 bilhões), incluindo empréstimos de bancos e junto aos mercados de bônus dentro e fora da China. Isso representava uma queda de 20% em relação aos 717 bilhões de yuans computados no fim de 2020, depois de um esforço para reduzir os empréstimos. Mas as várias outras obrigações da companhia significam que seu passivo total é significativamente maior, de 1,97 trilhão de yuans, valor que vem crescendo desde dezembro.
Quando rebaixou a nota da Evergrande em agosto, a S&P estimou que a companhia enfrentaria 240 bilhões de yuans em contas comerciais e contas a pagar nos 12 meses seguintes, e 100 bilhões de yuans neste ano. No fim de junho, a incorporadora tinha 87 bilhões de yuans em caixa. De seu total de cerca de US$ 14 bilhões em bônus denominados em dólar, nenhum vence em 2021. No entanto, a Evergrande precisa pagar US$ 129 milhões em juros sobre esses títulos neste mês, além de US$ 850 milhões que vencem este ano, segundo a Fitch.
Na quarta-feira passada a REDD Intelligence, um serviço de inteligência de crédito, informou que a Evergrande poderá suspender pagamentos sobre um produto de gestão de fortunas que ela emitiu. Separadamente, a REDD informou que a Evergrande disse a bancos que iria suspender os pagamentos de juros aos credores em 21 de setembro. A Evergrande não respondeu a um pedido de entrevista.
O que um “default” significaria para os mercados de bônus?
A Evergrande conta com grandes empresas internacionais entre seus investidores, como Allianz, Ashmore e BlackRock. Um “default” provavelmente teria efeitos colaterais sobre os mercados globais, onde historicamente os investidores sempre apoiaram o governo chinês em momentos de crise.
A Evergrande está tentando resolver seus problemas vendendo ativos. Mas Iris Chen, uma analista do banco de investimentos japonês Nomura, disse no fim de agosto que essas alienações poderiam “na verdade prejudicar” os detentores e bônus de fora do país porque “os recursos provavelmente seriam usados para pagar vencimentos dentro do país”, como custos de construção e empréstimos fiduciários.
Outra possibilidade é um impacto mais amplo sobre outras incorporadoras, que também dependem muito dos mercados de dívida e estão sendo alvos da campanha de desalavancagem de Pequim. A Guangzhou R&F foi rebaixada pela Moody’s na sexta-feira por temores de que ela possa vir a ter dificuldades para emitir títulos de dívida para liquidar obrigações antigas, um processo conhecido como refinanciamento. A Guangzhou R&F tem pagamentos de dívidas futuros que são maiores que seu caixa, segundo a Moody’s. Assim, se ela não conseguir fazer o refinanciamento, corre o risco de “default”. Os bônus da companhia foram vendidos na semana passada.
Os custos dos empréstimos estão aumentando, com os rendimentos dos bônus chineses de classificação especulativa tendo subido cerca de 13% no fim do mês passado, comparado e menos de 10% em junho, segundo um índice da Ice Data Services.
Na semana passada, analistas do Citigroup observaram que as vendas de agosto foram 19% menos, em relação ao mesmo período do ano passado, em 31 empresas listadas do setor imobiliário. O banco acrescentou: “A preocupação com o impacto do contágio da Evergrande levou a uma certa dificuldade na emissão de bônus onshore (devido à demanda) e offshore (devido ao custo)”.
O que isso significaria na China?
Mesmo que o governo central optar por deixar a Evergrande a entrar em “default”, e vez de socorrê-la diretamente – uma medida que se alinharia às percepções de uma mudança em direção a uma abordagem mais voltada para o mercado -, as autoridades provavelmente estarão envolvidas na coordenação da continuidade dos projetos de um grupo que emprega 163.000 pessoas. Geralmente as incorporadoras imobiliárias da China também têm grandes empréstimos junto aos maiores bancos estatais do país.
O “default” em fevereiro da China Fortuna Land Development, uma companhia especializada em parques industriais, levou ao estabelecimento de um comitê de credores. Um relatório de agosto da REDD disse que o governo de Guangdong está recolhendo “feedback” de bancos sobre a possibilidade de criar um comitê de credores para a Evergrande, enquanto a companhia disse em seus resultados provisórios, na semana passada, que está conversando com o governo sobre os projetos suspensos.
Além dos mercados, a questão mais importante para Pequim seria os impactos sobre o setor imobiliário como um todo, que há décadas vem sendo o principal motor da aquecida economia da China – mas que agora está sob pressão por causa das condições de crédito mais rígidas.