O período de baixa para a construção civil parece ter chegado ao fim. Nas duas primeiras semanas de agosto, as ações das empresas do setor apresentam ganhos de até 64,2% no acumulado deste mês. O levantamento do Broadcast considerou as empresas de construção civil que compõem o Índice Imobiliário da bolsa.
Na avaliação de analistas, as boas performances são resultado de um “alinhamento” de vários fatores que devem favorecer as companhias nos próximos meses.
A expectativa para o fim do ciclo de alta de juros é a principal razão para a valorização dos papéis das construtoras, além da desaceleração recente da inflação. “O mercado começa a enxergar que a gente chegou no fim do ciclo de aperto monetário e que agora a expectativa está voltada para saber quando o Copom irá começar cortar a taxa de juros. Paralelo a isso, o cenário de inflação começa a desacelerar. Ou seja, dois fatores importantes para as altas”, explica Felipe Moura, analista de investimentos da Finacap.
As construtoras são impactadas com o movimento de alta da taxa básica de juros, a Selic. Sua elevação encarece o financiamento dos imóveis, o que naturalmente dificulta as vendas.
Segundo um levantamento realizado por Moura para o E-Investidor, 7,6 milhões de famílias conseguem financiar um imóvel no valor de R$ 200 mil caso a taxa básica de juros esteja no patamar de 12% ao ano. Com a Selic a 6%, o número de famílias com capacidade para comprar a casa própria vai para 14,9 milhões.
O otimismo para os papéis também se deve à atualização das condições para as contratações de financiamento imobiliário por meio do Programa Casa Verde e Amarela, do governo federal. De acordo com o Ministério de Desenvolvimento Regional, as faixas de renda familiar foram ampliadas, assim como os subsídios federais.
As mudanças, que estão em vigor desde o fim de julho, reduzem o valor de entrada e aumentam o acesso ao financiamento dos imóveis.
“Para os próximos trimestres pode ser que a gente veja algum alívio nas margens das empresas com foco em baixa renda, como a Direcional, MRV e Tenda, por causa dos reajustes do programa”, ressalta Wellington Lourenço, analista de investimentos da Ágora Investimentos.
Além disso, a desaceleração da economia na China pode trazer um alívio nas margens das construtoras, mesmo que de forma indireta. Isso porque o enfraquecimento da atividade econômica na potência asiática impacta no preço das commodities e esta situação pode trazer um alívio nos custos das construtoras com a queda no preço do aço.
No entanto, João Daronco, analista da Suno Research, vê o impacto da situação chinesa com cautela. “Não sabemos até quando a China vai parar de crescer e reduzir o seu consumo de aço. Além disso, a construção civil é mais vulnerável a economia doméstica.”
Em julho, tanto a produção industrial quanto as vendas no varejo da China cresceram menos do que o esperado, ainda diante dos efeitos da política de “tolerância zero” contra a covid-19 implementada por Pequim. Já o setor imobiliário chinês continua fragilizado, com acentuadas quedas nas vendas e preços de moradias.
Matéria publicada em 15/08/2022