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28/02/2024

Por que se constrói prédios tão altos no Brasil? (Estadão Imóveis)

Balneário Camboriú protagoniza movimento de construção de grandes edifícios voltados para o público de luxo

Em 1929, o maior prédio do Brasil era o Edifício Martinelli. Com 106 metros de altura e 28 pavimentos, o empreendimento idealizado por Giuseppe Martinelli foi construído no centro da cidade de São Paulo e travava uma disputa com a obra que ocupava o posto de segundo maior arranha-céu da América Latina naquele momento, o Edifício Joseph Gire, conhecido como Edifício A Noite, instalado no centro Rio de Janeiro.

Quase 100 anos depois, os números mudaram. Aqueles 102 metros que transformaram o Edifício Joseph Gire em um marco histórico da arquitetura nacional não o colocariam nem na lista de 100 maiores prédios do Brasil em 2024. O primeiro lugar agora é ocupado por uma torre de 290 metros de altura e 84 pavimentos em uma cidade que na década de 1930 era apenas um refúgio com casas de veraneio no sul do País.

Entregue em 2022, o One Tower se caracteriza pelos superlativos. O edifício faz parte da silhueta da orla de Balneário Camboriú, o município com o metro quadrado mais caro do Brasil. Localizado na Avenida Atlântica, uma das áreas mais nobres da cidade, é, de acordo com o site The Skyscraper Center, o segundo maior prédio da América Latina, ostentando apartamentos que chegam a custar até R$ 70 milhões.

São mais de 52 mil m² de área construída, com mais de nove mil toneladas de aço e 24 mil m² de concreto em um trabalho que mobilizou mais de dois mil trabalhadores da construção civil. Dos 84 pavimentos, 70 são habitáveis, sendo dois apartamentos por andar. O investimento ultrapassou os R$ 650 milhões e para adquirir uma unidade é necessário desembolsar cerca de R$ 12 milhões. 

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A justificativa para a construção de um empreendimento tão alto é a mesma que movimenta todo o mercado imobiliário. A soma de boa localização, muito espaço e porções de privilégio faz com que compradores de vários cantos do Brasil e do mundo encontrem nestes edifícios uma solução para desfrutar de uma qualidade de vida que é alheia ao restante da população. 

“Balneário Camboriú é demograficamente pequena ao mesmo tempo que é desejada. Em busca de segurança e qualidade de vida em uma cidade litorânea com infraestrutura de capital, muitas pessoas desejam morar aqui. O desenvolvimento de skylines e prédios cada vez mais altos é uma resposta do mercado a essa demanda”, justifica Stephane Domeneghini, Gerente de Engenharia Aplicada e SuperTall da FG Empreendimentos.

O efeito Balneário Camboriú

Dos 10 maiores prédios construídos em território nacional, 7 estão em Balneário Camboriú. Entre os 50 maiores, 22 estão na cidade catarinense. A FG Empreendimentos é responsável pelo desenvolvimento de 4 dos 10 prédios mais altos do Brasil, além de contar com um portfólio recheado de arranhas-céus. “Não construímos prédios para ocupar o ranking, é uma forma de aproveitar os terrenos ao máximo”, esclarece Stephane.

“Não faz sentido construir quatro apartamentos por andar, sendo que dois deles não terão vista para o mar. Há fundamentação legal na cidade e é uma engenharia possível de ser realizada sem qualquer risco. Garantimos que mais pessoas possam morar numa unidade com vista para o mar”, comenta Stephane. A fundamentação a que ela se refere é o Plano Diretor e a Lei de Zoneamento de Balneário Camboriú, que incentivam a construção de prédios mais altos.

Para Fernando Calvetti, doutor em planejamento urbano e professor do departamento de arquitetura e urbanismo da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), a verticalização em centralidades pode ser vista positivamente. “Quando é coerente, ela diminui a dispersão urbana, trabalhando pelo uso eficiente das infraestruturas já existentes”, explica. 

Ele acredita que a ideia pode, sim, servir de base para o crescimento. “Cidades que se espalham têm um aumento considerável em problemas como poluição do ar por causa de mais carros circulando, tarifas de transporte mais altas e uma população com menos tempo de lazer e descanso, resultado do maior tempo de deslocamento”, esclarece o professor.

No entanto, ele alerta que a verticalização não é sinônimo de adensamento. “Empreendimentos de alto padrão apresentam densidades baixas em função das poucas unidades por pavimento”, afirma. “Deve-se considerar, também, as contrapartidas, como o risco de que a cidade cresça de forma abrupta, representando um estrangulamento na infraestrutura, resultando em congestionamentos, por exemplo”, acrescenta.

“Em Balneário Camboriú esse embate é latente considerando pontos como a balneabilidade da praia, alargamento da faixa de areia, demanda por água e esgoto tratado”, enumera.

Stephane contrapõe defendendo que a cidade deveria ser exemplo de urbanização para outras localidades brasileiras. “É um município em que poder público, empresas e a população sentam na mesa para chegar a um entendimento conjunto”, argumenta. “Não são apartamentos com muros. Os edifícios são construídos com fachadas ativas para englobar os pedestres ao invés de afastar as pessoas”. 

“A cidade verticalizada é uma forma mais inteligente de morar, pois se gasta menos, utiliza-se menos recursos e desmata-se menos para melhorar a qualidade de vida dos habitantes. Não à toa, existe um plano de verticalização maior em curso em outros locais do Brasil, como São Paulo, Mato Grosso e Goiás”, posiciona a executiva. 

O novo líder

O One Tower, da FG Empreendimentos, está prestes a perder o título de prédio mais alto do Brasil. Em março, dois pináculos decorativos serão instalados no topo do complexo Yachthouse by Pininfarina, cujas torres vão passar de 281 metros para 294 metros de altura. Alcino Pasqualotto, Presidente da Pasqualotto & GT, empresa por trás do projeto, defende que a construção é para tornar o prédio mais bonito, não para que ele chegue ao topo do País.

Acumulando adjetivos, o Yachthouse possui 10 mil m² de área de lazer, uma academia de 316 m², restaurante, mais de 8 mil m³ de concreto na fundação e 32 mil m² de vidro, além de dois helipontos no alto das torres. Avaliada em R$ 60 milhões, uma das 4 coberturas foi comprada pelo jogador de futebol Neymar Jr.. Outra pertence ao próprio Alcino. 

“Além de manter edifícios com contexto histórico, não existe justifica de engenharia para você construir prédios baixos em lugares desenvolvidos. Quando se constrói edifícios mais altos, você deixa de amontoar prédios em um terreno e abre espaço para mais lojas, estacionamentos, restaurantes e escritórios nos lugares centrais. Isso movimenta a economia e facilita a vida das pessoas”, acrescenta Alcino.

Fato é que, em meio a críticas e elogios, Balneário Camboriú se tornou um mercado lucrativo para incorporadoras e investidores. Exigentes, os clientes do setor de luxo, pagam milhões de reais por apartamentos à beira-mar. “As unidades que estão nos andares mais altos têm uma vista melhor e por isso valem mais. Ninguém vai pagar caro em um imóvel com uma vista ruim”, argumenta.

O futuro dos arranha-céus

“A nossa região se consolidou como o lugar para famílias com alto poder aquisitivo. Aqui tem marinas, restaurantes, vida noturna e segurança. Você pode andar na rua com celular, relógio e não precisa de carro blindado”, argumenta Alcino. “Nos próximos 50 anos, os edifícios vão ser ainda melhores”, pontua.

A verdade é que certamente eles também vão ser maiores. 

O próprio Yachthouse by Pininfarina não deve ficar tanto tempo no topo do ranking de maiores prédios do Brasil. A FG Empreendimentos já anunciou o projeto de construção do The Tower, com 340 metros de altura, e do Triumph Tower, um edifício com mais de 500 metros e 100 pavimentos em Balneário Camboriú, quase do tamanho do One World Trade Center e cinco vezes maior que o Edifício Martinelli.

FONTE: ESTADãO IMóVEIS