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21/01/2020

Portabilidade de crédito dispara em três anos puxada pelo imobiliário

Puxada pelo forte recuo da taxa básica de juros (Selic) nos últimos anos, a portabilidade de crédito mais do que quintuplicou em três anos

Puxada pelo forte recuo da taxa básica de juros (Selic) nos últimos anos, a portabilidade de crédito mais do que quintuplicou em três anos. Acumulada em 12 meses, a transferência de crédito de um banco para o outro passou de R$ 8,2 bilhões em novembro de 2016 para R$ 42,3 bilhões no mesmo mês de 2019. Os números são da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), onde ficam registradas as operações de portabilidade, e estão disponíveis no site do Banco Central (BC). Entre 2016 e 2019, a Selic caiu de 14,25% para 4,5% ao ano.

A portabilidade se expandiu de forma disseminada entre várias modalidades de crédito. Um dos destaques foi no do crédito imobiliário. O volume de financiamentos habitacionais transferidos passou de R$ 8,8 milhões para R$ 1,5 bilhão entre novembro de 2016 e novembro de 2019 — alta de mais de 170 vezes em relação ao montante original.

“O crédito imobiliário foi o que mais reagiu à queda da Selic”, diz o superintendente executivo de negócios imobiliários do Santander, Paulo Duailibi. “O cliente espera que o banco com que ele tem contrato pense nele”, diz Jair Mahl, vice-presidente de habitação da Caixa Econômica Federal, que vem estudando a possibilidade de oferecer juros mais baixos para empréstimos habitacionais contratados anteriormente.

Mesmo com a disparada, a portabilidade desse tipo de empréstimo representou apenas 0,24% do estoque de crédito imobiliário em novembro (R$ 668 bilhões). A presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Cristiane Portella, ressaltou, no entanto, que o instrumento foi criado para que o cliente possa, de forma simples e fácil, trocar de banco seja porque busca taxa de juros mais competitiva em outra instituição ou simples porque está insatisfeito com o serviço prestado. “A portabilidade em si não é um objetivo. Teoricamente não faz bem para ninguém se a portabilidade passar para 80% de tudo”, frisa Cristiane. Marcelo Prata, sócio-fundador da Resale (portal de venda e leilão de imóveis), afirma que a portabilidade de crédito deve continuar crescendo em 2020 não só no segmento imobiliário como em outras categorias.

Para Cristiane, a portabilidade do financiamento imobiliário só não foi maior porque muitos bancos já estão diminuindo suas taxas independente da portabilidade. Além disso, muitos tem optado por negociar com o cliente taxas melhores para que ele não troque de instituição financeira. “O que a gente está vendo no mercado é uma disposição dos principais players de reduzir a sua própria taxa para reter o seu cliente independente do pedido de portabilidade”, ressaltou.

“A competição pelo financiamento imobiliário está num nível muito bom para o mercado e para o consumidor. Temos visto muito bom senso nas renegociações. Cada banco faz sua conta e pensando no relacionamento de longo prazo com o cliente, explicou a presidente. Ela ressaltou que se a portabilidade não está “pegando” não é por deficiência regulatória ou problemas de funcionamento do processo. “Está funcionando e bem. O importante é que o consumidor está tendo redução dos juros”, ressaltou.

 

Para ela, o crédito imobiliário com recursos da caderneta de poupança teve um crescimento de algo em torno de 30% no ano passado e esse desempenho deve se repetir neste ano devido ao impacto dos juros e perspectiva de melhora do emprego. A redução da taxa coloca muita gente no jogo. Em 30 anos faz muita diferença na prestação”, contou.

O Bradesco informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a portabilidade de crédito no banco é analisada caso a caso. “O objetivo é sempre manter o cliente e oferecer condições adequadas ao seu orçamento”, acrescentando que tem reduzido a taxa de juros de suas principais linhas de crédito acompanhando o movimento da Selic. Procurados, o Banco do Brasil e o Itaú não se manifestaram sobre o assunto.

FONTE: VALOR ECONôMICO