EDUARDO CUCOLO
Os saques superaram os depósitos na caderneta de poupança em 2015, algo que não ocorria desde 2005. Segundo o Banco Central, a aplicação que ainda é a mais popular do país registrou captação negativa de R$ 53,6 bilhões no ano passado.
O resultado foi influenciado, principalmente, pela queda na renda e pelos aumentos da inflação e dos juros. Com uma rentabilidade de 8,07% no ano, o retorno da poupança ficará abaixo dos principais índices de preços ao consumidor, que vão superaram 10% em 2015.
Em dezembro, a captação foi positiva em R$ 4,8 bilhões, o que interrompeu uma sequencia de 11 meses seguidos de saídas de recursos, entre janeiro e novembro. Somente em 1999 e 2002 houve captação negativa em dezembro, mês sazonalmente positivo para a poupança, de acordo com as estatísticas do BC, que têm início em 1995.
O saldo total da poupança encolheu de R$ 662,7 bilhões no final de 2014 para R$ 656,6 bilhões no último dia útil de 2015. A variação inclui a captação negativa e os valores creditados como rendimentos.
A maior parte desse dinheiro se refere ao SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), que encolheu cerca de 3% no ano, uma perda equivalente a R$ 13 bilhões (até novembro, estava em R$ 20 bilhões). É desse montante que saem os recursos destinados ao crédito imobiliário.
O restante do saldo corresponde à poupança rural, cujo estoque cresceu, pois a captação negativa de R$ 3,4 bilhões foi mais que compensada pelos rendimentos creditados no período.
Perspectivas para 2016
Especialistas ouvidos pela Folha estimam que a fuga de recursos da poupança deve se repetir em 2016, apesar da expectativa de melhora na rentabilidade.
No ano passado, a caderneta rendeu 8,07%, abaixo dos principais índices de preços ao consumidor, que superaram 10% em 2015. Para este ano, as previsões são de uma inflação abaixo de 7% e de uma correção da poupança mais próxima de 9%.
Restam, entretanto, dois entraves para a caderneta. O primeiro é o aumento do desemprego e a queda na renda, que somados à inflação ainda alta vão reduzir a disponibilidade de recursos que podem ser poupados pelos brasileiros, de acordo com Myrian Lund, planejadora financeira e professora da FGV.
Myrian cita ainda a concorrência de outros investimentos. Há aplicações de renda fixa que pagam hoje 16% ao ano (taxa do Tesouro Direto).
"A população vai ter uma menor capacidade de poupança neste ano, e quem tem condições de poupar está buscando alternativas", diz.
Segundo ela, a poupança não perdia da inflação desde 2002 e não deve perder em 2016, mas o resultado de 2015 vai afetar as decisões de investimento. "Todo dia recebo ligações de gente que quer tirar dinheiro da poupança e colocar em outra aplicação."
O especialista em finanças Rafael Seabra vê como melhor alternativa o Tesouro Direto, disponível em todos os grandes bancos e com aplicação a partir de R$ 30. Ele recomenda o título Tesouro IPCA para aplicações de pelo menos dois anos e, para o fundo de emergência, o Tesouro Selic, que acompanha a taxa básica de juros.
"Sair da poupança em 2016 é mais que uma obrigação para as pessoas que querem deixar de perder dinheiro", afirma Seabra.
Crédito Imobíliario
Em maio, o governo anunciou a liberação de R$ 22,5 bilhões para crédito imobiliário, por meio de mudanças nas regras dos compulsórios (parcela do dinheiro depositado no banco que a instituição deve deixar retida no Banco Central).
Também foram direcionados R$ 5 bilhões do FGTS para a linha pró-cotista, que tem características semelhantes ao crédito da poupança para a habitação.
O dinheiro, no entanto, não foi suficiente para atender à demanda, o que levou a Caixa, principal banco no crédito habitacional, a reduzir o percentual de financiamento por imóvel e a priorizar a compra de imóveis novos.
O dado mais recente do BC mostra que, até novembro, as concessões de novos empréstimos imobiliários para pessoas físicas haviam recuado cerca de 20%
Balanço Fechado Poupança Em 2015
O que foi
Rentabilidade abaixo da inflação e crise econômica fizeram saques superarem depósitos na caderneta
O que é
Aplicação encerrou 2015 com perda de recursos de R$ 53,6 bilhões, o primeiro resultado negativo desde 2005
O que será
> Aumento do desemprego, queda na renda e inflação ainda alta vão reduzir a disponibilidade de recursos para poupança
> Aplicações de renda fixa, como títulos do Tesouro Direto, devem continuar mais atraentes
> Rombo reduz recursos para financiamento imobiliário, mas crise reduz essa pressão