Pedro Garcia
As cadernetas de poupança apresentaram leve melhora no terceiro trimestre, mas as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Hipotecárias (LH) ainda despontam como o principal motor do financiamento habitacional na Caixa Econômica Federal (CEF), em 2015.
Como as LCIs e outros papéis oferecidos no lugar da poupança são mais "caros", a instituição financeira precisa aumentar os juros dos financiamentos imobiliários (sua principal linha de crédito) para manter a taxa de rentabilidade (spreads). Desde o início do ano, a CEF subiu os juros desse crédito três vezes.
Em balanço divulgado na sexta-feira, o banco estatal apontou que o saldo das cadernetas cresceu 2,5% em relação a setembro de 2014 e 1% em relação a junho deste ano, para R$ 234,5 bilhões, depois de três trimestres de queda. Nas mesmas bases de comparação, o estoque das LCIs avançou 25,4% e 1%, respectivamente, para R$ 109 bilhões em setembro.
No relatório, a Caixa observa que as LCIs foram destaques das captações, ao lado das captações internacionais e dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). "A Caixa diversificou as fontes de recursos utilizando novas modalidades de captação. Com isso, estreitou relacionamento com investidores institucionais e clientes com grande capacidade de investimento", afirmou.
Desde o início do ano, quando a poupança começou a registrar saídas líquidas recordes - de janeiro a outubro, as cadernetas acumulam perdas de R$ 57,05 bilhões -, os bancos passaram a oferecer aplicações mais rentáveis aos clientes, para eles protegerem o dinheiro frente à escalada da inflação, que está em 9,93% no acumulado do ano.
Entre os investimentos ofertados, estão as letras. O dinheiro que o cliente deixa investido nessas duas aplicações é usado pelo banco para empréstimos imobiliários. A diferença entre os dois papéis é que, enquanto na poupança a instituição financeira paga ao investidor 6,17% ao ano mais a Taxa Referencial (TR), na LCI os juros giram em 90% da taxa DI (14,14%, na quinta-feira), ou seja, podem custar para o banco mais do que o dobro das cadernetas.
Com o avanço da quantia gasta com os clientes nos investimentos, por conta dos papéis mais caros, a Caixa aumentou as chamadas despesas com captação ao longo deste ano - de junho a setembro, esses gastos cresceram 38,7%, para R$ 23,8 bilhões.
Embora já tenha encarecido as taxas do financiamento imobiliário três vezes (a última em setembro, para 9,9% ao ano), as receitas com os juros cobrados nos empréstimos não avançaram na mesma proporção dos gastos com captação, registrando uma alta de apenas 9,2% na variação trimestral, para R$ 23,1 bilhões.
Segundo Miguel de Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), mesmo que a poupança continue crescendo na Caixa - e com isso o banco gaste menos nas captações - os juros do financiamento imobiliário não devem cair no curto prazo.
"Há toda a conjuntura. Com o avanço da inflação, há a possibilidade do Banco Central voltar a elevar a [taxa básica de juros] Selic. Também há o aumento do risco de inadimplência", avaliou o executivo.
O balanço mostra que a taxa de inadimplência do banco aumentou 0,41 ponto percentual, para 3,26%. Já as despesas com Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), um colchão formado para cobrir eventuais calotes, cresceu 34,4%, para R$ 6,12 bilhões. A carteira de crédito da CEF também apresentou deterioração na qualidade - os empréstimos classificados com as "notas" D a H, que possuem parcelas atrasadas a pelo menos 90 dias, passaram de 8,1% para 9,3%.
"O índice de inadimplência [...] foi influenciado pelas operações comerciais a pessoa física e a micro e pequenas empresas, além da desaceleração da atividade econômica. Esses efeitos foram atenuados pelo fortalecimento dos modelos e das políticas de concessão e recuperação de crédito", disse a Caixa, no relatório.
Resultado positivo
Com bom resultado de tesouraria, que avançou 59,3% no trimestre, para R$ 12,7 bilhões, a Caixa anotou lucro líquido de R$ 3,03 bilhões no terceiro trimestre, uma alta de 57% na variação trimestral. As receitas com prestação de serviços teve alta de 3,4%, fechando setembro em R$ 5,21 bilhões.
Mesmo com o cenário adverso, a carteira de financiamento habitacional da CEF segue crescendo e, de junho a setembro, registou um avanço de 2,5%, para R$ 375,6 bilhões.