RIO - Nos últimos 12 meses contados até maio, o preço de venda de imóveis acumula ligeira alta de 0,11%, segundo o Índice FipeZap, que acompanha o valor anunciado em 20 cidades brasileiras. Trata-se da menor variação registrada nessa base de comparação na série histórica da pesquisa, divulgada nesta sexta-feira. Nesse período, o preço médio do metro quadrado variou abaixo da inflação (9,06%, medida pelo IPCA, do IBGE), o que significa uma queda real de 8,21%. Segundo os dados, Belo Horizonte, Rio, Recife, Niterói e Distrito Federal registraram queda nominal no período.
No mês passado, o preço do metro quadrado avançou apenas 0,07%, o que contribui para estabilidade nos valores este ano: nos cinco primeiros meses de 2016, houve crescimento acumulado de 0,04% no valor do metro quadrado, taxa inferior ao IPCA do período, calculado em 3,80%. Em maio, o preço médio do metro quadrado nas 20 cidades analisadas foi de R$ 7.639.
No mês, cinco municípios registraram variação negativa — Rio (-0,56%), Goiânia (-0,38%), Recife (-0,08%), Fortaleza (-0,07%) e Florianópolis (-0,03%).
"Os números não foram surpreendentes. Mês após mês, o índice tem batido a mínima variação da história. Estamos em processo de queda e o setor imobiliário vem mostrando os piores resultados nos últimos meses. Os preço estão estáveis, mas os imóveis têm se desvalorizado em relação a outros produtos da economia, que têm crescido com a inflação. O mês de maio seguiu a tendência que vem há dois anos, de imóveis menos valiosos”, explicou o economista da Fipe, Raone Costa.
Apenas quatro cidades, entre as que tiveram alta de preço, superaram a taxa IPCA estimada para maio pelo Boletim Focus do Banco Central do Brasil (0,54%): Vitória (1,32%), Curitiba (0,82%), Porto Alegre (0,66%) e Salvador (0,61%).
O Rio de Janeiro se manteve como o metro quadrado mais caro do país (R$ 10.282, em média), seguida por São Paulo (R$ 8.633). Segundo o índice FipeZap, o preço médio do metro quadrado alcança seus menores valores na mineira Contagem (R$ 3.552) e em Goiânia (R$ 4.245). Nos últimos doze meses, Vitória foi a cidade que teve a mais expressiva alta no preço dos imóveis, enquanto na outra ponta o Rio de Janeiro foi quem mais derrubou o valor do metro quadrado.
O resultado do PIB do primeiro trimestre de 2016, que superou as expectativas ao fechar em queda de 0,3, não anima Costa quanto a uma possível reação do setor imobiliário, que viveu um boom da valorização de imóveis nos anos anteriores à deflagração da crise econômica brasileira. Ainda é cedo para cantar vitória, afinal o resultado do IBGE ressalta um ciclo de queda ainda sem previsão de término, na opinião do economista.
Reação dos preços à crise - "O PIB do trimestre cair 0,3% nos diz que estamos melhores do que pensávamos. Mas, em termos absolutos, é um resultado ruim. Tudo mudou de dois anos para cá. Os juros subiram, o crédito ficou mais difícil, há desemprego, a renda do brasileiro caiu, e os preços estão reagindo a isso. Essa crise vai acabar em algum momento, mas ainda não está claro quando.”.
Costa não enxerga uma virada a curto prazo para o segmento imobiliário porque a crise econômica tem derrubado o valor dos imóveis frente a outros produtos na economia. Apesar da queda no setor, o economista não acredita que seja um bom momento para investir nesses bens, porque a tendência é que os próximos meses também seja de queda.
"O melhor momento é quando os preços param de cair e começam a subir, porque você terá comprado o imóvel no menor valor possível. Agora, há inflação, os produtos têm subido de preço. Os imóveis, não, eles têm perdido valor. O sujeito pode investir se tiver um horizonte amplo: comprar agora e em algum momento passar a ganhar dinheiro, embora saiba que vai perder dinheiro no meio tempo até que aconteça a virada da economia”, opina o economista.
Venda x Locação - Com a crise, embora a Fipe não produza estatísticas para oferta, Costa opina que alguns proprietários de imóveis têm desistido da venda e migrado para a locação enquanto aguardavam um possível reaquecimento do mercado. Por isso, segundo ele, o preço do aluguel caiu mais do que o da venda. Em abril, o índice FipeZap para locação mostrou que o preço do aluguel caiu 4,80% nos últimos doze meses, enquanto o valor de venda subiu 0,21% no mesmo período. Assim, como a oferta de imóveis à venda teria diminuído, o preço deles não registrou maior queda que a quantia paga na locação.
"É um efeito contraintuitivo, porque a Caixa Econômica Federal mudou o sistema de financiamento. Pede agora 50% de entrada em vez de 20% na venda de imóveis. Isso não afeta a locação, e mesmo assim foi o segmento em que os preços mais baixaram. Isso me soou como evidência de que proprietários estão reticentes em vender e estão colocando para alugar.”.