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07/03/2024

Preços dos aluguéis devem continuar elevados na primeira metade do ano, diz FGV (Valor Econômico)

Responsável pelo indicador, André Braz frisa que os juros altos encarecem o financiamento imobiliário, reduzindo a capacidade de compra de imóveis e, por consequência, aumentando a procura por aluguel

 

O resultado de fevereiro do Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (Ivar) mostra que os preços de locação dos imóveis devem continuar elevados na primeira metade do ano. A opinião é de André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e responsável pelo indicador. Em fevereiro, o Ivar subiu 1,79%, desaceleração frente aos 4,34% de janeiro. Mas o acumulado em 12 meses acelerou, passando de 7,60%, em janeiro, para 8,38%, em fevereiro.

É justamente essa aceleração no acumulado em 12 meses que leva Braz a ressaltar a resiliência dos preços dos aluguéis nesse começo de ano. Ele explica que a taxa segue bem acima do IPCA — em fevereiro, o IPCA-15, dado mais recente disponível, acumula alta de 4,49% em 12 meses — e cita os juros ainda elevados como um dos fatores para a resistência dos preços da locação imobiliária.

Efeito dos juros no financiamento imobiliário

O economista frisa que os juros altos encarecem o financiamento imobiliário, reduzindo a capacidade da população de comprar imóveis e, por consequência, aumentando a procura por aluguel. Ele cita a atual trajetória de queda de juros, mas destaca que essa redução ainda vai demorar a atingir plenamente a economia. Braz lembra que uma queda na taxa demora entre seis e nove meses para ter reflexos na economia real.

“Só mesmo no segundo semestre [o Ivar em 12 meses pode perder força]. Até lá, pode até ter desaceleração, mas em 12 meses vai estar acima do IPCA, com aumento real”, afirma Braz.

O economista diz ainda que o aluguel é o serviço livre que mais pesa dentro dos serviços nos índices de inflação. “Nesse aspecto, a política monetária joga contra ela mesma, porque o juro alto desfavorece a compra do imóvel. O consumidor prefere alugar e infla o preço de um serviço que deveria colaborar para segurar a inflação”, pondera.

São Paulo e Rio

Em relação às localidades em que o Ivar é coletado, houve aceleração em 12 meses nas quatro cidades pesquisadas. Em São Paulo, a taxa passou de 5,73% em janeiro para 6,61% em fevereiro, enquanto no Rio de Janeiro saltou de 8,10% para 8,64% no mesmo período.

Em Porto Alegre, o Ivar em 12 meses acelerou de 7,44% para 8,36% entre janeiro e fevereiro, enquanto em Belo Horizonte pulou de 10,55% para 11,01%.

Braz ressalta que essa variação entre as cidades se dá por conta de maior ou menor oferta. Ele destaca que a capital paulista é a que tem maior oferta de imóveis para locação, o que contribui para segurar os preços dos aluguéis. A capital mineira, por sua vez, não tem uma oferta tão grande, o que leva a pressão nos preços em épocas de maior procura.

“As cidades que não estão tão preparadas para uma procura mais intensa, acabam tendo aumento de preços mais intenso”, frisa Braz, que lembra que a demanda também tem sido influenciada pelo bom desempenho do mercado de trabalho, uma vez que o aumento do emprego também estimula a busca por moradia.

FONTE: VALOR ECONôMICO