O empresário Eduardo Aroeira Almeida foi eleito para o segundo mandato na presidência da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF). Formado em engenharia civil, pela Universidade de Brasília (UnB), aos 45 anos, ele é o primeiro presidente da entidade nascido no DF. “Nasci aqui e, por isso, tenho obrigação de cuidar da nossa cidade. Tenho filhas brasilienses, tenho amor por esse lugar. Temos essa preocupação de pensar no futuro da capital”, afirmou, em entrevista ao Correio.
Aroeira culpa a permissividade, ao longo dos anos, às ocupações ilegais pelo desordenamento urbano da capital federal. “A destruição de áreas verdes é feita por ocupações ilegais. Exemplo é Vicente Pires. A gente busca um mercado imobiliário legal, saudável, e a redução dos entraves burocráticos para garantir o planejamento do DF”, destaca. Ele aponta as regiões promissoras para o mercado imobiliário e conta como foi o impacto da pandemia no setor. O segmento não parou um só dia e registrou no último ano crescimento expressivo.
Como a pandemia afetou o setor?
Apostamos que era possível trabalhar com segurança. Então, criamos protocolos para proteger nossos trabalhadores. Nós não paramos as obras nenhum dia na pandemia. Mas tivemos de aplicar novas rotinas. O almoço dos trabalhadores passou a ser em três turnos, antes todos se alimentavam juntos. Muitas empresas adotaram o ponto manual, e não eletrônico, para não ter formação de fila. Tínhamos reuniões diárias com os associados para que todos atuassem de forma responsável.
Que outros exemplos de procedimentos mudaram?
Implantamos um rígido controle do uso de máscaras pelos operários. Eram separadas por cor, para saber a hora certa que deveriam ser substituídas por novas. Se ele estava com a amarela, já deveria estar com a branca. Chegamos a esse nível de monitoramento. Atuamos também sempre ouvindo as demandas do sindicato dos trabalhadores. Tivemos um impacto de digitalização profunda do setor. Hoje, 100% dos nossos associados fazem reuniões on-line. Antes, esse indicador era de apenas 30%.
E como foi possível manter as vendas de imóveis?
A venda digital teve um crescimento grande, principalmente no início da pandemia. O afastamento era muito maior, pois as pessoas não saíam de casa. Isso já era uma tendência, e agora já se consolidou de vez. Hoje, o cliente se habituou a olhar sites, escolher alguns e, para fechar o negócio, ele vai presencialmente. Isso ainda é muito importante, mas reduziu bastante. Várias construtoras têm um tour virtual. Hoje, a pessoa pode entrar num apartamento sem existir o prédio.
Como se explica o mercado ter ficado tão aquecido na pandemia?
Tivemos realmente uma situação de valorização do mercado imobiliário. Hoje, quem pega um financiamento nunca teve uma taxa de juros tão baixa, e isso faz com que a prestação do imóvel caiba no bolso das pessoas. E a pandemia mostrou como o imóvel é um bem indispensável para a qualidade de vida e a segurança das famílias. Todos passaram a ficar um maior tempo em casa e, então, houve uma busca grande por um imóvel mais confortável. Registramos grande crescimento no último ano, e foi possível gerar novos 20 mil empregos no setor num momento de dificuldade econômica para o país.
Quais são, agora, as metas da Ademi no seu próximo mandato?
Sempre fomos pautados pela defesa da legalidade e segurança jurídica dos empreendimentos imobiliários. Uma coisa terrível que acontece na nossa cidade são essas ocupações ilegais. Por exemplo, o assentamento 26 de Setembro (em Taguatinga): aquilo é um crime com as pessoas que moram lá. É um crime ambiental, pois está do lado de uma reserva. Está tudo errado ali.
A que se deve tanta ocupação irregular no DF?
Durante muito tempo, não se conseguiu fazer loteamento privado. Somente a Terracap fazia os loteamentos, e não realizava na velocidade necessária para a demanda de moradia. Isso estimulou as pessoas a irem para locais ilegais. Então é essa nossa luta. A gente busca um mercado imobiliário legal, saudável e a redução dos entraves burocráticos. Isso ajuda muito para termos uma cidade bem planejada, porque, antes de fazer um bairro, se precisa de diversos estudos: urbanístico, impacto ambiental, de trânsito, de drenagem pluvial.
Como o senhor responde às críticas de que o setor estimula o crescimento desordenado do DF?
O crescimento desordenado e a destruição de áreas verdes são feitos por ocupações ilegais. Exemplo é Vicente Pires. Nós, do mercado formal, realizamos apenas empreendimentos no âmbito legal. Para cada árvore retirada no Noroeste, por exemplo, foram plantadas 50 em outro lugar. Há uma compensação. Quando se reclama do trânsito na EPTG e se culpa Águas Claras, ninguém lembra que do lado direito, que eram chácaras, era o anel verde, era Vicente Pires, e virou aquilo que a gente conhece hoje.
Que outras regiões do DF despontam no mercado?
O Noroeste será por muito tempo o bairro de alto padrão. Samambaia se tornou uma cidade de qualidade de vida e urbanismo bom. Ceilândia também sempre está em alta, além do Gama. Ainda tem muito o que se desenvolver nessas cidades.
E Águas Claras?
Está no finalzinho a sua conclusão. Uma ótima região, mas não tem muito espaço para novos empreendimentos. Por isso, o setor habitacional do Jóquei Clube vai ser importante, porque atenderá ao mesmo público, a classe média e a média alta.
Qual a demanda mais urgente do setor no momento?
Estamos acompanhando de perto a revisão da Luos (Lei de Uso e Ocupação do Solo), que é estratégica para a cidade. É necessária uma série de correções de erros materiais, ajustes importantes na legislação de forma a destravar o setor. Nós temos associados com projetos travados, apenas esperando a aprovação da Luos na Câmara Legislativa. São mais obras, mais geração de emprego e de renda para o DF.
A Ademi contribuiu de que forma para o enfrentamento da pandemia na capital?
Tivemos uma postura de muita responsabilidade social. Conseguimos mobilizar nossos associados e doamos para a Secretaria de Saúde do DF máscaras, álcool em gel e respiradores. Faltaram jalecos no Hran, e o Sinduscon e a Ademi doaram para repor. Tivemos a preocupação de não somente destravar o nosso setor, mas também de dar uma cota de colaboração para toda a sociedade. Além de doar recursos para a construção de mais unidades hospitalares, pretendemos permanecer fazendo o mesmo após a pandemia.