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10/12/2015

Previsão é otimista mesmo com a crise

O bom desempenho do setor de previdência complementar é creditado a uma conjunção de fatores. O primeiro é a fuga do investidor da caderneta de poupança, em busca de aplicações com melhor retorno.

Domingos Zaparolli 

A expectativa entre os agentes do mercado de previdência complementar aberta é de crescimento nos negócios em 2016, mas num ritmo bastante inferior ao registrado neste ano. Em 2015, até setembro, as receitas acumuladas dos fundos cresceram 24%, chegando a R$ 67,37 bilhões. A captação líquida foi de R$ 33,1 bilhões, 36,4% superior ao mesmo período de 2014, e as reservas acumularam crescimento de 21,6%, chegando a R$ 485,16 bilhões.

O resultado deve ser ainda melhor quando forem acrescentados os dados do último trimestre, tradicionalmente o melhor do ano, devido ao pagamento do décimo-terceiro salário. "O desempenho em 2015 surpreende diante da conjuntura econômica", diz Osvaldo do Nascimento, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). A projeção de Nascimento para 2016 é de um avanço de 15% na reserva acumulada, considerando-se a remuneração financeira do capital em 14%.

O bom desempenho do setor é creditado por Nascimento a uma conjunção de fatores. O primeiro é a fuga do investidor da caderneta de poupança, em busca de aplicações com melhor retorno. "Um plano de previdência hoje paga IPCA mais 6,5%. É muito atrativo em qualquer comparação mundial", diz. Outras duas características atraentes são a liquidez e a portabilidade, a possibilidade de o investidor, sem perdas, transferir seu patrimônio para o gestor que apresente desempenho mais adequado aos seus objetivos.

Por outro lado, as projeções do mercado financeiro indicam que 2016 deverá ser mais um ano de performance econômica negativa, com inflação e desemprego em alta e renda em queda. Nesse cenário, há menor folga nos orçamentos domésticos e menos recursos disponíveis para poupar. Nascimento acredita que os planos de previdência devem ser menos afetados do que a média dos investimentos. "As pessoas estão conscientes que a previdência pública não será capaz de suprir suas necessidades no futuro e que precisam investir em um sistema complementar", diz.

O impulso no mercado em 2016 também deve vir de uma maior diversidade de opções de investimentos em previdência. Em novembro o Conselho Monetário Nacional (CMN) publicou a Resolução 4.444 que muda as regras de alocação das reservas técnicas do mercado segurador. Na prática, o gestor passará a ter maior flexibilidade na composição da carteira dos fundos de investimento, podendo optar por desenvolver produtos com uma maior exposição a títulos de renda variável, com exposição cambial e de títulos do mercado imobiliário e de infraestrutura. Os novos fundos poderão ser oferecidos a partir de maio.

Outra novidade esperada é o VGBL Saúde, um plano de previdência que permite destinar parte do saldo acumulado para o pagamento de um plano ou seguro de saúde, sem a incidência de Imposto de Renda (IR). A proposta de criação do VGBL Saúde tramita no Congresso Nacional e, quando aprovado, ainda precisará da sanção da Presidência da República.

Jair de Almeida Lacerda Jr, diretor geral interino da Bradesco Vida e Previdência, é cauteloso em relação ao potencial de ampliação da captação ainda em 2016 por meio dos novos produtos que serão criados com a Resolução 4.444. O cenário é de incertezas e o investidor hoje prefere opções conservadoras, lastreadas em títulos públicos, que pagam juros elevados. "Será um ano de desenvolvimento de produtos e de explicar riscos e oportunidades aos clientes", diz.

A Bradesco Previdência lidera o mercado nacional com um 29% da carteira de investimentos, segundo dados da Fenaprevi. Até outubro, as receitas cresceram 15% e a expectativa de Lacerda é que fechem o ano com uma evolução de 20%, de acordo com as informações preliminares do desempenho nos dois últimos meses do ano. Para 2016, Lacerda projeta um crescimento entre 5% e 10%. O principal impulso deverá vir da carteira de 5 milhões de clientes, sendo um milhão de alta, do HSBC, banco adquirido pelo Bradesco, cuja incorporação ainda depende da aprovação dos órgãos reguladores. "Por estratégia do HSBC, a oferta de produtos de previdência a esses clientes era baixa. Temos um grande potencial de trabalho", diz.

Entre as instituições que não possuem a capilaridade dos grandes bancos de varejo, a estratégia é investir no bom desempenho financeiro dos fundos administrados. Na SulAmérica a arrecadação em 2015 cresceu 20%. Fabiano Lima, diretor de vida e previdência da seguradora, diz que o crescimento da carteira de clientes da companhia se dá principalmente com a entrada de investidores que já possuem planos de previdência, mas que migram em busca de melhor resultados. "Trabalhamos com taxas de administração que são menores que a média do mercado e nossos fundos estão sempre entre os 20% com melhor performance no mercado", afirma.

Na Mapfre, a captação acumulada entre janeiro e outubro cresceu 35%. Maristela Gorayb, diretora de vida e previdência, diz que são principalmente os clientes de alta renda, 35% do total, e mais informados que impulsionam os negócios da companhia. "Devemos crescer acima da média do mercado em 2016, absorvendo clientes que buscam um melhor desempenho para seus investimentos", afirma.

FONTE: VALOR ONLINE