As iniciativas sustentáveis, antes mais comuns em prédios comerciais e públicos, chegaram de vez aos edifícios residenciais.
Hoje, o Brasil tem três construtoras (Trisul, Rio Verde e Tarjab) com o certificado de empreendedor Aqua-HQE, que é emitido pela Fundação Vanzolini para as incorporadoras que se comprometem a atender a uma série de critérios ambientais e de gestão ecológica em seus lançamentos.
Os itens de série de uma construção verde incluem desde a orientação da fachada dos edifícios até o uso de energia solar para o aquecimento de água ou a instalação de pontos de recarga para veículos elétricos.
"Uma coisa é você falar para o cliente que o seu empreendimento se preocupa com a sustentabilidade. Outra totalmente diferente é ter uma comprovação de que de fato se preocupa com o tema", diz Ângela Son, coordenadora-geral de projetos da Trisul.
A construtora lançou recentemente o Vista Clementino, que utiliza água de reúso nos vasos sanitários, tem pontos para a recarga de carros elétricos e torneiras de fechamento automático nas áreas comuns. Os apartamentos vão de 67 a 95 metros quadrados.
O prédio tem certificação da Fundação Vanzolini, que já concedeu seu selo a outros 276 edifícios residenciais desde o ano de 2010.
Ao todo, incluindo prédios comerciais, 505 edifícios são comprovadamente sustentáveis no país, a maioria (327) no estado de São Paulo. Na capital, são 107 empreendimentos residenciais certificados.
Para Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo da Fundação Vanzolini, as construtoras têm se preocupado mais com a gestão sustentável dos projetos.
Reflexo, em parte, do aumento no número de compradores que valorizam esse tipo de empreendimento.
Para Carlos Borges, presidente-executivo da Tarjab, a busca pela sustentabilidade é um processo irreversível no mercado imobiliário. Ele afirma que o comprador ainda não procura um empreendimento apenas por isso, mas sabe valorizar as soluções ecológicas como um diferencial.
"Talvez o brasileiro ainda não pague mais por um apartamento sustentável, por isso é importante traduzir o que isso significa para ele na prática, como a economia de água e de energia. Isso é o que vai ajudar na decisão da compra."
Erich Feldberg, sócio da Imangai, defende que as novas gerações de consumidores tendem a levar esse tipo de questão mais em conta.
A empresa lançou o Residencial Di Petra, com apartamentos financiados pelo Minha Casa Minha Vida e certificados com o Selo Casa Azul Caixa, emitido pela Caixa Econômica Federal para projetos financiados pelo banco.
Alguns dos requisitos exigidos para a emissão do Casa Azul são disposição de espaços específicos para armazenagem da coleta seletiva, previsão de medição individualizada de água e gás e uso de sistemas de aquecimento solar e de energia fotovoltaica.
Até o momento, a Caixa já certificou 32 empreendimentos com o selo. Outros 75 estão em processo de avaliação.
Feldberg avalia que o boom da construção sustentável só virá quando soluções ecológicas forem uma exigência do poder público. "A adesão a um modelo mais sustentável pelas incorporadoras ainda é lenta e só vai aumentar quando começar a apertar o bolso. Financiamento do Minha Casa ligado a certificação ambiental? Todo mundo vai fazer."
É a mesma aposta que faz Felipe Faria, presidente da GBC Brasil (Green Building Council Brasil), responsável pela emissão do certificado Leed de sustentabilidade.
Desde 2008, o instituto já recebeu 1.326 registros e certificou 513 prédios, quase todos na área corporativa ou pública, de fábricas a bibliotecas.
O Brasil tem o quarto maior número de certificações Leed dentre os 167 países onde o selo é emitido. Desde agosto do ano passado, o GBC passou a atuar também no mercado residencial, com o selo GBC Casa & Condomínio. Foram 20 projetos registrados e um certificado emitido, para um empreendimento em Goiânia.
"Já conseguimos comprovar a valorização do metro quadrado e a maior velocidade de comercialização de um edifício sustentável", diz Faria. "Não é só responsabilidade social e ambiental, é uma questão de ganho de eficiência."