As consequentes quedas na taxa básica de juros (Selic) têm incomodado investidores de letras de crédito e de certificados de depósito bancário que, atrelados ao CDI, terão rentabilidade menor ao longo deste ano. Nesse cenário, outras aplicações podem se destacar.
Na lógica de acompanhar a quinta queda consecutiva da Selic - atualmente em 11,25% e com expectativa de atingir 8,5% até o final deste ano -, a projeção para a rentabilidade dos títulos bancários de renda fixa continua retraindo.
O cenário, porém, foge da realidade de 2015 (onde o ganho líquido girava em torno de 1% ao mês com a Selic a 14,25%) e têm perturbado investidores que encontravam nesses ativos bons retornos com baixos graus de risco.
Atualmente, a rentabilidade média das letras de crédito imobiliário (LCIs) e letras de crédito do agronegócio (LCAs) vão de 90% a 92% do certificado de depósito interfinanceiro (CDI) - taxa referencial do mercado -, enquanto os certificados de depósitos bancários (CDBs) variam entre 108% a 110% da taxa do CDI.
De acordo com o sócio diretor da Easynvest, Marcio Cardoso, os investidores estão "mal acostumados" com os ganhos do passado e, no ambiente em que a economia se direciona, a "curva já está dada".
"Não existe algo que rentabilize nessa proporção. Mesmo que a taxa de juros alcance os 8,5% no final do ano, ainda assim será uma taxa elevada. Apesar de as reformas apresentadas ainda apresentarem algum grau de incerteza, o movimento já está dado. A Selic vai cair, e a rentabilidade dos títulos vai acompanhar", explica o executivo da Easynvest.
Os especialistas reforçam que ao contrário do que os investidores tem como ideia, os títulos bancários apresentam, agora, retorno real melhor do que o observado em época de taxa Selic "estratosférica".
"Não necessariamente quando a taxa de juros está alta, os investimentos são bons. O importante a ser analisado é o ganho real que, atualmente, está maior do que antes", comenta o analista-chefe da Rico Corretora, Roberto Indech.
Os especialistas entrevistados pelo DCI explicam que a rentabilidade real resulta dos juros menos a inflação no período. Nesse caso, enquanto a Selic estava em 14,25%, a inflação do País girava em torno de 10%, o que proporcionava cerca de 3% do ganho real. Atualmente, com a taxa básica de juros a 11,25% e IPCA a 4,41%, o ganho real passa dos 4%.
"Com o indicador atrelado ao CDI, ainda que a Selic feche o ano em 8,5% e a inflação em 4,5%, o ganho real ainda será 4%. É importante acompanhar o movimento da taxa, mas a análise é um pouco mais complexa", avalia o gerente de investimentos da Concórdia Corretora, Mauro Mattes.
Alternativas - Da outra ponta, se o foco for rentabilidade e o perfil do investidor for mais "moderado", outras possibilidades devem se destacar no mercado.
Segundo a consultora de investimentos da Órama Corretora, Sandra Blanco, os principais ativos que tendem a alavancar o mercado são os fundos multimercados, os fundos de ações e até mesmo os certificados de operações estruturadas (COE).
"A taxa de referência está em outro patamar e, apesar de as LCIs, LCAs e CDBs continuarem a ser bons investimentos, os mais arrojados tendem a adotar cerca de 20% a 30% da carteira nesses outros ativos, compensando a rentabilidade com o grau de risco", avalia.
"O investidor precisa tirar da cabeça que LCI, LCA e CDB não são um bom negócio, mas talvez com esses outros investimentos, o aplicador consiga adquirir um conhecimento maior dos seus limites e possa diversificar a carteira conforme seus recursos e possibilidades para equilibrar melhor sua rentabilidade", pondera Marcio Cardoso, da Easynvest.
Para Mattes, da Concórdia, porém, a análise de perfil e da tolerância ao risco são essenciais na hora de diversificação da carteira. "Quanto maior o retorno, maior o risco. A realidade é que é preciso se adaptar, porque ninguém faz mágica", conclui o executivo.