Ernani Fagundes
São Paulo - A possível queda da taxa básica de juros (Selic) já anima a rentabilidade dos ativos imobiliários. O índice de ações do setor imobiliário (Imob) avançou 34,18% até 18 de maio, ao passo que o índice de fundos imobiliários (Ifix) também exibe alta de 14,06%.
Em 12 meses, o Imob subiu 3,91%, e o Ifix, 13,66%. Na visão do consultor de fundos imobiliários Sérgio Belleza, a provável baixa nos juros favorece o segmento, mas ele alerta para uma escolha criteriosa dos ativos.
"Temos um cenário bem complexo agora e não podemos desprezar que a reação do mercado imobiliário brasileiro será bastante lenta. Será preciso fazer uma análise apurada do tipo de fundo mais adequado", afirmou.
Belleza citou que cotas em fundos como o BB Progressivo II - que possui renda do aluguel de agências bancárias para o Banco do Brasil - são atrativas nesse momento. "O BB é um fundo que reage bem ao cenário [de queda dos juros]. Está bem colado na realidade do mercado atual. Por outro lado, fundos mono-ativos com inquilinos como a Petrobras geram preocupação. Se o inquilino encerra o contrato, o imóvel fica vago e investidor sem renda ", ponderou.
O diretor de investimentos da Funcesp, Jorge Simino, alerta que os agentes de mercado (investidores profissionais) que atuam com ações do setor imobiliário e em fundos imobiliários já se anteciparam a possível redução dos juros. "Esse segmento é muito suscetível a variação dos juros. Essa rentabilidade [no ano] já é uma antecipação da recuo na taxa Selic. E a qualidade de algumas altas na Bolsa de Valores é bastante frágil", alertou.
A Funcesp aplica 3,5% de seu patrimônio líquido de R$ 25,1 bilhões em imóveis. "Os fundos imobiliários não possuem muita liquidez para um investidor do nosso porte, é uma aplicação mais voltada para pessoas físicas", disse.
Já Belleza acredita que o potencial do mercado de ativos imobiliários no Brasil é promissor, e lembrou que um pequeno grupo de investidores sofisticados está adquirindo imóveis comerciais nos Estados Unidos e Portugal. "Esse é um nicho pequeno comparado com mercado brasileiro, mas atrai um público muito esclarecido que investe em imóveis na Flórida, e também em Portugal", ressaltou o consultor.
Aluguel em Miami - A tendência da procura por investimentos em imóveis no exterior é confirmada pelo sócio diretor da Elite International Realty, Léo Ickowicz. "O programa de repatriação de recursos abriu uma nova oportunidade. Há brasileiros que vão legalizar seus recursos que estavam em paraísos fiscais, pagar a multa à Receita Federal no Brasil, e depois investir legalmente nos Estados Unidos. O valor dos aportes deve aumentar nesse ano", apontou.
Ickowicz contou que aumentou a procura por cotas ou diretamente em imóveis comerciais para aluguel em Miami, na Flórida (EUA). "É como renda fixa em dólar. Na média, os contratos tem renda pré-determinada de 7% ao ano, com o reajuste do aluguel, de 2% ao ano", descreveu o diretor.
Ele quantificou que entre 5 mil a 6 mil brasileiros investiram em imóveis comerciais para aluguel na Flórida. "É um público que procura depender menos da renda no Brasil que passa pela crise, e investe até US$ 1,5 milhão", mencionou.
Segundo Ickowicz esse público também costuma financiar os imóveis comerciais no mercado americano. "Eles entram com 40% de capital próprio e os bancos americanos financiam 60% em até 20 anos. Os juros são de 4,25% ao ano. Com a alta do Fed, o juro deve subir para 4,5% ao ano no residencial e 4,75% no comercial", detalhou o diretor da Elite.