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22/01/2016

Queda dos mercados pode sinalizar risco de recessão

No mercado imobiliário, que normalmente é o que leva a economia para uma crise, o número de licenças emitidas para a construção de moradias para uma família na verdade aumentou em dezembro.

Os mercados financeiros estão em pânico por causa de uma grave crise econômica que ainda tem que mostrar sua cara - e que talvez nunca mostre.

Várias das principais bolsas de valores do mundo, incluindo a do Reino Unido e Japão, estão agora em território baixista: queda de mais de 20% em relação a suas máximas.

Com um recuo de 1,6% na quarta-feira, a Média Industrial Dow Jones caiu mais de 10% ante seu pico recente, uma correção que ainda não caracteriza território baixista - o índice americano subiu 0,74% ontem.

Mesmo assim, se ainda não parece haver um estresse correspondente na economia, por que prestar atenção a índices financeiros que, como diz a velha piada, previram nove entre as cinco últimas recessões? Há três razões possíveis para que a atual venda generalizada de ações seja motivo de preocupação.A primeira é que uma recessão esteja a caminho, mas ainda não apareça nos dados.

Os EUA parecem que já deveriam estar em uma: sua expansão econômica corrente é agora a quarta mais duradoura desde a Segunda Guerra Mundial e as bolsas são o principal indicador de uma recessão, embora propenso a erros.

Mas os dados econômicos fundamentais não estão se comportando como deveriam antes de uma recessão. Embora o crescimento dos EUA tenha sido quase nulo no quarto trimestre de 2015, a criação de empregos na verdade acelerou. A confiança do consumidor subiu no início de janeiro, apesar da apreensão com as bolsas. E, no mercado imobiliário, que normalmente é o que leva a economia para uma crise, o número de licenças emitidas para a construção de moradias para uma família na verdade aumentou em dezembro.

"Um colapso do crescimento na China [...] seria um evento que mudaria o mundo", disse recentemente Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional. "Mas não há evidências de tal colapso."

É verdade que o crescimento da China caiu para 6,9% em 2015, a menor alta nos últimos 25 anos, mas essa já era há muito a meta do governo. Embora os números de crescimento da China sejam frequentemente vistos com ceticismo, os dados de importação e exportação chinesas indicam que o país está de fato se estabilizando.

Uma queda prolongada nos preços das commodities e exportações relacionadas tem reprimido a manufatura nos EUA e no exterior. Mas os preços do petróleo despencaram menos por conta de uma queda na demanda - na verdade, o consumo chinês ainda está subindo - que de um excesso de oferta.

A segunda possibilidade é que, em vez do enfraquecimento econômico provocar um pânico financeiro, o próprio pânico produziria uma crise ou recessão.

O colapso nos preços do petróleo, por exemplo, fez saltar o rendimento pago pelos títulos de dívida emitidos por empresas de dentro e fora do setor, e muitos bancos registraram prejuízos pesados em empréstimos para petrolíferas.

Por outro lado, os bancos estão hoje muito menos expostos ao petróleo do que estavam a hipotecas de risco em 2008 ou à dívida latino-americana em 1982.

A terceira e mais plausível possibilidade é que os mercados estejam perdendo a confiança nos formuladores de políticas, principalmente devido aos eventos ocorridos na China e EUA. Os líderes chineses se atrapalharam em suas tentativas de impedir o estouro de sua bolha acionária e confundiram o mundo quando desvalorizaram o yuan no fim de agosto e novamente neste mês.

"Nós perdemos, coletivamente, a fé na capacidade das autoridades chinesas de sempre fazer a coisa certa", diz Angel Ubide, um ex-gerente de fundo de hedge que agora está no Instituto Peterson para Economia Internacional.

O banco central americano, por sua vez, é transparente e independente. O problema é que o mercado discorda de seus planos. Em dezembro, o Fed anunciou que, com o desemprego nos EUA em 5%, a economia não precisava mais do apoio de juros próximos a zero e começou a elevá-los, com a intenção de chegar a mais de 2% ao ano até o fim de 2017.

Mas a queda dos preços de petróleo levou a inflação americana ainda para mais longe da meta de 2% ao ano do Fed, algo que, acreditam os participantes do mercado, justifica uma normalização ainda mais lenta dos juros. A determinação do Fed (até agora) de apertar a política monetária significa que o banco central está, hoje, criando obstáculos para o mercado de ações, em vez do impulso que deu a ele com várias rodadas de estímulo desde 2008.

Isso não é necessariamente um problema para a economia. Em uma nota recente a clientes, Stephen Jen, que dirige a consultoria de câmbio SLJ Macro Partner, desafiou o consenso de que uma onda de venda de ações só seja justificada pelo enfraquecimento da economia. "Podemos inverter a questão e perguntar se a economia global e a dos EUA realmente cresceram 200% desde 2008 ou 20% desde o pico de 2007", como fez o índice de ações S&P 500.

Se o Fed não está mais incentivando os investidores a abraçar o risco, então as avaliações das ações, como o índice preço/lucro, devem cair. Isso é desagradável para os investidores em ações, mas extremamente irrelevante para a economia.

Uma grande preocupação é que, se uma recessão ou crise realmente florescer, os bancos centrais e governos não possam, ou não queiram, ajudar. Os líderes da China descartaram abrir as torneiras para outro boom de investimentos e empréstimos sustentado pelo governo, que eles acreditam ter ido longe demais da última vez. Já o

Fed tem apenas 0,25 ponto percentual de juros como munição para cortar, enquanto outros bancos centrais não têm nada. 

 

FONTE: VALOR ONLINE