Os mercados financeiros estão em pânico por causa de uma grave crise econômica que ainda tem que mostrar sua cara - e que talvez nunca mostre.
Várias das principais bolsas de valores do mundo, incluindo a do Reino Unido e Japão, estão agora em território baixista: queda de mais de 20% em relação a suas máximas.
Com um recuo de 1,6% na quarta-feira, a Média Industrial Dow Jones caiu mais de 10% ante seu pico recente, uma correção que ainda não caracteriza território baixista - o índice americano subiu 0,74% ontem.
Mesmo assim, se ainda não parece haver um estresse correspondente na economia, por que prestar atenção a índices financeiros que, como diz a velha piada, previram nove entre as cinco últimas recessões? Há três razões possíveis para que a atual venda generalizada de ações seja motivo de preocupação.A primeira é que uma recessão esteja a caminho, mas ainda não apareça nos dados.
Os EUA parecem que já deveriam estar em uma: sua expansão econômica corrente é agora a quarta mais duradoura desde a Segunda Guerra Mundial e as bolsas são o principal indicador de uma recessão, embora propenso a erros.
Mas os dados econômicos fundamentais não estão se comportando como deveriam antes de uma recessão. Embora o crescimento dos EUA tenha sido quase nulo no quarto trimestre de 2015, a criação de empregos na verdade acelerou. A confiança do consumidor subiu no início de janeiro, apesar da apreensão com as bolsas. E, no mercado imobiliário, que normalmente é o que leva a economia para uma crise, o número de licenças emitidas para a construção de moradias para uma família na verdade aumentou em dezembro.
"Um colapso do crescimento na China [...] seria um evento que mudaria o mundo", disse recentemente Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional. "Mas não há evidências de tal colapso."
É verdade que o crescimento da China caiu para 6,9% em 2015, a menor alta nos últimos 25 anos, mas essa já era há muito a meta do governo. Embora os números de crescimento da China sejam frequentemente vistos com ceticismo, os dados de importação e exportação chinesas indicam que o país está de fato se estabilizando.
Uma queda prolongada nos preços das commodities e exportações relacionadas tem reprimido a manufatura nos EUA e no exterior. Mas os preços do petróleo despencaram menos por conta de uma queda na demanda - na verdade, o consumo chinês ainda está subindo - que de um excesso de oferta.
A segunda possibilidade é que, em vez do enfraquecimento econômico provocar um pânico financeiro, o próprio pânico produziria uma crise ou recessão.
O colapso nos preços do petróleo, por exemplo, fez saltar o rendimento pago pelos títulos de dívida emitidos por empresas de dentro e fora do setor, e muitos bancos registraram prejuízos pesados em empréstimos para petrolíferas.
Por outro lado, os bancos estão hoje muito menos expostos ao petróleo do que estavam a hipotecas de risco em 2008 ou à dívida latino-americana em 1982.
A terceira e mais plausível possibilidade é que os mercados estejam perdendo a confiança nos formuladores de políticas, principalmente devido aos eventos ocorridos na China e EUA. Os líderes chineses se atrapalharam em suas tentativas de impedir o estouro de sua bolha acionária e confundiram o mundo quando desvalorizaram o yuan no fim de agosto e novamente neste mês.
"Nós perdemos, coletivamente, a fé na capacidade das autoridades chinesas de sempre fazer a coisa certa", diz Angel Ubide, um ex-gerente de fundo de hedge que agora está no Instituto Peterson para Economia Internacional.
O banco central americano, por sua vez, é transparente e independente. O problema é que o mercado discorda de seus planos. Em dezembro, o Fed anunciou que, com o desemprego nos EUA em 5%, a economia não precisava mais do apoio de juros próximos a zero e começou a elevá-los, com a intenção de chegar a mais de 2% ao ano até o fim de 2017.
Mas a queda dos preços de petróleo levou a inflação americana ainda para mais longe da meta de 2% ao ano do Fed, algo que, acreditam os participantes do mercado, justifica uma normalização ainda mais lenta dos juros. A determinação do Fed (até agora) de apertar a política monetária significa que o banco central está, hoje, criando obstáculos para o mercado de ações, em vez do impulso que deu a ele com várias rodadas de estímulo desde 2008.
Isso não é necessariamente um problema para a economia. Em uma nota recente a clientes, Stephen Jen, que dirige a consultoria de câmbio SLJ Macro Partner, desafiou o consenso de que uma onda de venda de ações só seja justificada pelo enfraquecimento da economia. "Podemos inverter a questão e perguntar se a economia global e a dos EUA realmente cresceram 200% desde 2008 ou 20% desde o pico de 2007", como fez o índice de ações S&P 500.
Se o Fed não está mais incentivando os investidores a abraçar o risco, então as avaliações das ações, como o índice preço/lucro, devem cair. Isso é desagradável para os investidores em ações, mas extremamente irrelevante para a economia.
Uma grande preocupação é que, se uma recessão ou crise realmente florescer, os bancos centrais e governos não possam, ou não queiram, ajudar. Os líderes da China descartaram abrir as torneiras para outro boom de investimentos e empréstimos sustentado pelo governo, que eles acreditam ter ido longe demais da última vez. Já o
Fed tem apenas 0,25 ponto percentual de juros como munição para cortar, enquanto outros bancos centrais não têm nada.