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24/06/2016

Queda na Selic pressionará bancos

Para analistas, as taxas menores tendem a diminuir as margens das instituições, que já sofrem com a alta de despesas para proteger o balanço contra calotes.

Vinícius Pinheiro e Felipe Marques 

Na aguardada primeira entrevista do novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, na terça-feira, um dado será acompanhado com atenção particular pelos grandes bancos: a sinalização de quando a taxa básica de juros pode começar a cair. Se a Selic em queda é uma boa notícia para a economia, para as instituições financeiras pode representar, no curto prazo, fonte adicional de pressão nos lucros. Para analistas, as taxas menores tendem a diminuir as margens das instituições, que já sofrem com a alta de despesas para proteger o balanço contra calotes.

Em relatório distribuído a clientes, os analistas do HSBC fizeram um cálculo sobre o efeito da redução dos juros para cinco instituições. No caso de uma queda de um ponto percentual na Selic, o Itaú Unibanco teria uma queda de 0,5 ponto percentual em seu retorno sobre o patrimônio líquido. Já o Santander Brasil teria redução de 0,2 ponto no indicador. O menor impacto ocorreria no Banco do Brasil, que teria uma queda de 0,1 ponto. Já os mais afetados seriam Banrisul e ABC Brasil, cada um com uma perda de 0,7 ponto percentual na rentabilidade.

O comportamento da rentabilidade em ciclos anteriores de queda dos juros mostra que os bancos têm motivos para se preocupar. Após a redução promovida pelo BC entre 2011 e 2012, as instituições registraram queda expressiva da rentabilidade, que só se recuperou quando as taxas retomaram trajetória de alta, no ano seguinte.

Pelas projeções de analistas reunidas no boletim Focus, do BC o Comitê de Política Monetária (Copom) deve iniciar o ciclo de corte dos juros na reunião de agosto. Até o fim do ano, a taxa deve cair 1,25 ponto percentual, para 13%, de acordo com as estimativas.

O impacto da Selic menor, porém, não é simples de medir e varia para cada instituição, dependendo da composição de depósitos e créditos no balanço. Questionados sobre o tema nas teleconferências do primeiro trimestre, executivos dos grandes bancos afirmaram que o efeito para o resultado deveria ser neutro.

O primeiro, e mais imediato, efeito negativo de uma eventual redução dos juros ocorre nos depósitos à vista. As instituições captam esses recursos dos clientes a custo zero e destinam parte desse dinheiro, descontado o compulsório, a aplicações que rendem o equivalente à Selic. Quanto menor é a taxa de juros, portanto, menor é o ganho potencial nessa operação. Por outro lado, como as demais formas de captação bancária são, em grande parte, atreladas à Selic, uma queda na taxa reduz o custo do dinheiro para os bancos, positivo para os resultados. 

FONTE: VALOR ECONôMICO