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29/05/2020

Reabertura gradual anima incorporadoras

Empresas já discutem com prefeitura a liberação de estandes de vendas de imóveis em São Paulo

A perspectiva de reabertura dos estandes de vendas de imóveis, na cidade de São Paulo, traz um fôlego para as incorporadoras voltadas para as rendas média e alta, com perspectiva de aumento das vendas e de retomada dos lançamentos. Mas a retomada da apresentação de projetos ao mercado tende a ser lenta, devido à forte queda da comercialização dos estoques, desde o início da quarentena, e à piora da economia.

Desde o início da pandemia de covid-19 e da proibição do funcionamento dos estandes, as incorporadoras frearam a apresentação de projetos para as rendas média e alta, interrompendo o novo ciclo de crescimento que vinha ocorrendo.

Na avaliação do vice-presidente de intermediação imobiliária do Secovi-SP, Claudio Hermolin, se a comercialização de maio se consolidar, de fato, como melhor do que a de junho e, se a de julho superar a do próximo mês, as incorporadoras de médio e alto padrão deverão retomar lançamentos a partir de agosto.

Conforme autorizado, anteontem, pelo governador do Estado de São Paulo, João Doria, os estandes de vendas poderão funcionar por quatro horas diárias, com 20% dos corretores e atendimento a uma família por vez. Na prática, de quatro a seis famílias serão atendidas por dia. As restrições ao funcionamento dos estandes maiores do que as esperadas pelo setor contribuem para que a esperada volta dos lançamentos ocorra gradualmente.

Na próxima segunda-feira, representantes do mercado imobiliário vão se reunir com a secretária municipal do Trabalho e Empreendedorismo de São Paulo, Aline Cardoso, para apresentar os protocolos sanitários de retomada das atividades do setor, nos estandes de vendas, já aprovados pelo governo estadual. Hermolin espera que os protocolos sejam aprovados na próxima semana. “Não acredito que o município vá contestar um protocolo amplamente discutido pelo setor com o estado”, diz o vice-presidente do Secovi-SP.

Um ponto que ainda não está claro, segundo o presidente do Secovi-SP, Basilio Jafet, é se o limite de uma família por vez refere-se ao apartamento decorado ou ao estande de vendas. “No nosso entendimento, é possível haver duas mesas, no estande, distantes dez metros quadrados uma da outra”, diz o presidente do Secovi-SP.

Jafet diz ter “expectativa boa” em relação à retomada das atividades e ressalta que há muitos produtos destinados às classes média e alta que deixaram de ser visitados com a quarentena e voltarão a ser buscados. Nos cálculos do Secovi-SP, houve represamento do Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 2,8 bilhões, na capital paulista, de 16 de março a 15 de maio.

Para o diretor técnico da rede de imobiliárias Lopes, Cyro Naufel, a reabertura dos estandes de vendas, quando ocorrer, deve “animar” as incorporadoras a retomarem lançamentos de médio e alto padrão. “Os plantões de vendas são fundamentais. As empresas se programaram para lançar, mas adiaram seus planos”, diz Naufel, ressaltando que, quando for viável, a apresentação de projetos será retomada. “Não podemos esquecer que a Selic está no menor patamar da história”, acrescenta o executivo.

Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da Mitre Realty, Rodrigo Cagali, respeitando-se os limites definidos, o anúncio feito por Doria, “já clareia bastante o ambiente para se pensar em lançamentos”, afirma. A Mitre tende a lançar, primeiramente, projetos destinados à média-renda e, depois, empreendimentos de médio-alto padrão.

A princípio, a EZTec vai manter o cronograma que estava prevendo para o período de pandemia, com retomada, a partir de meados de junho, de um lançamento feito em 15 de março e volta da apresentação de projetos em julho ou agosto, segundo o presidente, Flávio Zarzur. Ele diz considerar positiva a possibilidade de reabertura dos estandes. A EZTec vendeu R$ 20 milhões, em abril, e espera chegar a R$ 60 milhões em maio. A maioria das vendas se concentra em unidades para a classe média-baixa, mas há também imóveis de mais de R$ 2 milhões, conforme Zarzur.

O presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Antonio França, diz que o setor tem seguido os protocolos estabelecidos para a construção e que, no país, 94% das obras estão em funcionamento. “Mas estávamos sem estandes de vendas para comercializar produtos, o que afeta, principalmente, o segmento de média e alta renda. A venda online para a baixa renda é mais fácil”, diz.

Boa parte dos compradores das rendas média e alta buscam imóveis maiores, melhor localizados ou de qualidade superior para migração em relação às unidades onde vivem. Em momentos de incerteza, a decisão de adquirir um apartamento ou uma casa sem a finalidade de primeiro imóvel tende a ficar em compasso de espera da melhora dos indicadores econômicos e de confiança.

Segundo o analista de mercado imobiliário do Itaú BBA, Enrico Trotta, deve haver lançamentos para as rendas média e alta, no terceiro trimestre, mas não em volume expressivo. “Vamos ver como ficam as vendas do que foi lançado no fim de 2019 e início deste ano”, diz Trotta.

FONTE: VALOR ECONôMICO