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30/06/2016

Redução de meta de inflação para 2018 pode melhorar expectativas

Economistas ouvidos pelo Valor acreditam que é mais provável que a meta seja mantida nos atuais 4,5%, com o intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o mesmo definido para 2017.

Depois da confirmação do presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, de que não trabalhará com uma meta ajustada para 2017, o mercado espera a confirmação, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), do objetivo a ser perseguido para 2018. Sobre esse alvo, Ilan não deu qualquer pista. Disse apenas que, definida a meta, "a política monetária será calibrada para alcançá-la". O CMN se reúne hoje.

Economistas ouvidos pelo Valor acreditam que é mais provável que a meta seja mantida nos atuais 4,5%, com o intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o mesmo definido para 2017. Mas não descartam a chance de uma redução do objetivo, para 4% ou mesmo para 4,25%.

Além de dar mais credibilidade à política monetária, a definição de uma meta mais baixa colocaria o país em posição mais alinhada aos pares que também adotam o regime de metas. No México e no Chile, o alvo é de 3% e o Peru mira os 2%, todos com intervalos de tolerância de um ponto percentual, enquanto a Colômbia tem como meta deixar a inflação 2% e 4%. "Acho que seria oportuno baixar a meta de 2018. Como esse novo BC (e o governo) está mostrando um maior compromisso com o que 'deveria ser feito', as chances de mudarem a meta para 4,25% ou 4% são significativas", afirma o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks.

O economista da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves Melo, considera que a manutenção da meta em 4,5% para 2018 é o mais provável, mas ele vê alguma chance de haver uma mudança para 4,25% ou para 4%. Essa alteração, afirma, melhoraria as perspectivas para a inflação, com efeito sobre os juros mais longos e, consequentemente, alívio para os custos de financiamento e melhora das condições de "valuation" das empresas. Mas ele reconhece que mudar a meta de inflação de 2018 para 4% sem ter ainda certeza de que o BC cumprirá a meta para 2017, de 4,5%, pode não ser "muito crível". "Acho que ainda é cedo para reduzir a meta. Temos de tirar da memória os anos de inflação acima do centro da meta. É preciso corrigir isso primeiro."

O superintendente do Departamento Econômico do Citi Brasil, Marcelo Kfoury, também considera que a redução da meta só deve ocorrer quando a inflação já estiver em 4,5%. Assim, seria mais adequado agora reduzir a banda de tolerância. O CMN também poderia adotar metas de inflação para períodos inferiores a um ano.

Solange Srour, economista-chefe da Arx Investimentos, defende que a redução da meta para 2018 pode provocar efeitos positivos sobre as expectativas para 2017. "Acho que o BC dificilmente vai conseguir entregar a inflação na meta no ano que vem, mas uma mudança da meta pode contribuir para a queda das expectativas e ajudar a inflação a ficar mais próxima de 4,5% em 2017", afirma.

Para Flávio Serrano, economista sênior do Haitong Brasil, uma meta de inflação mais baixa ajudaria no crescimento econômico no médio e longo prazos. "A volatilidade da inflação está associada ao seu patamar. Portanto, é importante que o mercado confie que o BC está perseguindo a meta de inflação e uma meta mais baixa", diz.

Ainda assim, ele acredita que o BC deve esperar mais um pouco, porque pode haver choque importante dos preços dos alimentos ainda neste ano, o que vai piorar a inflação corrente e a inércia para 2017. "Acho que vão preferir ter uma visão melhor do quadro, colher mais vitórias na inflação para então, posteriormente, trabalhar com uma meta mais baixa."

Outro contraponto à ideia de redução da meta é o efeito que essa mudança traria sobre a atividade. "Se o CMN reduzir a meta, a Selic não pode cair este ano, talvez nem no primeiro semestre de 2017", afirma o economista-chefe da Mauá Capital, Alexandre de Ázara. "O custo sobre o produto seria muito alto", afirma o economista, para quem essa alteração poderia ocorrer daqui dois ou três anos, quando a economia estiver já num processo de recuperação.
Uma redução da meta para 2018, segundo o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, poderia levar o BC a postergar o corte da Selic para o ano que vem, mantendo a taxa básica estável em 14,25% até dezembro para garantir a convergência da inflação à meta até 2018. Na última Pesquisa Focus, a mediana das projeções apontava para uma convergência da inflação para 4,5% só em 2019.

Ontem, o dado acima do esperado do IGP-M de junho reforçou a leitura de que o BC não tem espaço para cortar a taxa básica de juros no curto prazo e contribuiu para a alta das taxas dos contratos futuros de juros de curto prazo. O DI para janeiro de 2017 avançou de 13,84% para 13,88%. 

FONTE: VALOR ECONôMICO