Enquanto testam os sistemas para o registro de recebíveis imobiliários, o Block, que entra em vigor em janeiro, as centrais que ficarão responsáveis pela guarda das informações começam a calcular os passos seguintes. A ideia é que a ferramenta seja uma peça-chave para que as empresas conquistem clientes em outros serviços.
A partir de janeiro, todos os novos empreendimentos imobiliários lançados no País terão de ser registrados no Block. Desenhado a partir de demandas dos bancos que financiam os empreendimentos e do setor de construção, o sistema tornará visível, a todo o mercado, o progresso e as vendas de cada projeto.
O setor de construção, porém, tem efeito cascata em vários outros, dada a cadeia produtiva que dele depende. Para as centrais, é uma porta de entrada importante inclusive para um dos próximos sistemas que o Banco Central implantará: o registro de duplicatas.
"Tem o produtor de cimento, o produtor de aço, toda uma cadeia produtiva que pode ser atendida, porque gera duplicata", pontua o CEO da Cerc, Fernando Fontes. Segundo ele, o registro imobiliário sozinho tem um mercado menor que o dos recebíveis de cartão, mas ajuda a colocar as centrais em contato com vários setores da economia.
A duplicata escritural foi regulamentada pelo Banco Central em 2020, com o mesmo objetivo do Block: dar maior confiabilidade às duplicatas para o uso em financiamentos. Ainda não há data de implementação do registro, mas o setor o vê com entusiasmo, dado que as duplicatas são mais difundidas na economia que os recebíveis de cartão ou de projetos imobiliários.
Para o setor de construção, a expectativa é de uma desconcentração do crédito, com um financiamento centrado em projetos específicos e não no balanço das incorporadoras, como mostrou o Broadcast em agosto.
Complemento
A B3 enxerga uma vantagem em sua proximidade com os bancos, que já demandam outros serviços prestados pela empresa. A percepção é de que com o Block, será possível criar um leque de serviços que aproveite essa proximidade para ganhar espaço também nos negócios entre o setor financeiro e o imobiliário.
"Entendemos que no Block, haverá a condição de criar um ecossistema, com serviços complementares. É possível, é viável, e é o nosso foco no próximo ano, depois da implementação do sistema", afirma Marcos Caielli, diretor de produtos imobiliários da B3.
Estes novos passos se darão após a estabilização do sistema em altitude de cruzeiro. Inicialmente, as registradoras oferecerão a chamada "vitrine", que permitirá que cada projeto seja visto por todo o mercado.
Pilotos
O Block deve ganhar massa crítica após alguns meses de implementação, porque a obrigatoriedade de registro será somente para projetos lançados a partir de 1º de janeiro. Pelo fluxo natural do setor, o mercado espera um intervalo de alguns meses até que os projetos gerem um volume considerável de recebíveis.
Para chegar lá com os motores funcionando, Cerc e B3 fazem pilotos com pequenas carteiras. A Cerc, por exemplo, tem cerca de dez projetos registrados. "Nossa expectativa é de que no último trimestre haja um crescimento exponencial de testes, pilotos e integrações", diz Fontes.
Na B3, há pilotos com dois bancos, de acordo com Caielli. "Após o piloto, temos a lista de empreendimentos que os bancos têm em Plano Empresário (o financiamento à construção), e estamos trabalhando com os bancos e as incorporadoras para facilitar esse tombamento", diz.
Matéria publicada em 21/09/2022