O recuo do Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (Ivar) em junho representa uma indicação de que o aumento da inflação e a queda da renda já dificultam o aumento dos valores cobrados tanto em contratos novos quanto nas datas de reajustes de aluguéis. O Ivar de junho, calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) recuou 0,31%, contra uma alta de 0,59% no mês anterior.
Com o resultado, a taxa acumulada em 12 meses passou de 8,83% em maio para 8,05% em junho. Para Paulo Picchetti, pesquisador do FGV Ibre e responsável pelo cálculo do índice, o comportamento do índice nos cinco primeiros meses do ano mostravam o efeito da recuperação econômica e da adoção do IPCA no lugar do IGP-M em muitos contratos de aluguel. Agora, diz o economista, a queda do valor do salário médio — apesar do crescimento do emprego — e a inflação que, apesar de espalhada, concentra altas pesadas em combustíveis, energia e alimentação.
“O mercado de trabalho recupera nível de emprego, mas não recupera a renda”, diz Picchetti, para quem a combinação entre inflação e mercado de trabalho impede o avanço dos preços impede que os inquilinos consigam arcar com reajustes maiores dos aluguéis. Para os próximos meses, Picchetti não acredita que haja uma tendência de queda no acumulado de 12 meses do Ivar, mas sim de uma certa estabilização do índice.
“Não vejo espaço para uma aceleração contínua como a dos cinco primeiros meses do ano porque a expectativa é de no mínimo desaceleração na economia”, diz o economista, acrescentando que já há algumas projeções que falam em recuo da economia na segunda metade do ano. “Com certeza não vai ser a continuidade da aceleração.”
São Paulo, com alta de 0,86% no Ivar de junho, foi a única cidade das quatro pesquisadas pelo FGV Ibre a ver o índice avançar no mês passado. Em Belo Horizonte houve queda de 4,12%; no Rio o recuo foi de 0,26%; e em Porto Alegre o retrocesso foi de 0,27%.
Para Picchetti, o movimento observado em São Paulo não configura uma tendência regional particular de alta, mas uma convergência com as demais cidades no acumulado em 12 meses. “São Paulo faz essa convergência elevando [o índice] e Belo Horizonte faz a mesma convergência reduzindo [mais fortemente] o indicador regional”, pondera o economista.
Matéria publicada em 06/07/2022