Além da recuperação muito lenta da economia, a incerteza crescente quanto aos rumos da sucessão presidencial é outro fator decisivo para reduzir as possibilidades de retomada clara do segmento de construção civil em 2018. É longo o prazo de maturação do investimento no setor, o que afeta o investimento privado, ao mesmo tempo que o setor público dispõe de poucos recursos para aplicar em infraestrutura. As perspectivas para o semestre em curso são de estagnação, não se afastando o risco de que o PIB da construção civil recue pelo quinto ano consecutivo.
No primeiro semestre, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), que reúne 20 empresas de grande porte, foram vendidas 41.202 unidades, mais 28,5% em relação a igual período de 2017. Mas, em junho, as vendas de imóveis novos avançaram apenas 3,3% em relação a junho de 2017, lideradas por imóveis enquadrados no Programa Minha Casa, Minha Vida, que registrou elevação de vendas de 25%. Nas mesmas bases de comparação, houve recuo de 16% na comercialização de imóveis de médio e alto padrão.
A Sondagem da Construção da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre) mostrou que a confiança das empresas do setor caiu 1,6 ponto entre julho e agosto, em contraste com a alta de 1,7 ponto registrada entre junho e julho. O indicador de expectativas retrocedeu para os níveis de agosto de 2017, resultado que “sugere uma piora mais definitiva do cenário de retomada vislumbrado anteriormente pelas empresas de construção”, segundo a economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV/Ibre.
As empresas estão mais preocupadas com os negócios de curto prazo, pois falta demanda e as tendências são negativas. As contas nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a construção civil caiu 2,1% em 2014, recuou 9% em 2015, perdeu 5,6% em 2016 e cedeu 5% em 2017. Está prevista nova queda em 2018, embora em porcentual menor. A retomada muito fraca se reflete no emprego, que caiu 2,5% entre os segundos trimestres de 2017 e de 2018.
A abertura de 10 mil postos formais no setor em julho, indicada pelo Ministério do Trabalho, foi apenas um alívio, sem que se alterem as perspectivas.