O aquecimento de lançamentos imobiliários na capital paulista começa a se refletir na falta de equipamentos de obras para locação, na necessidade de mais planejamento por parte das construtoras para que suas necessidades sejam atendidas e em aumentos de preços, que chegam a 60%, em alguns casos. Segundo incorporadoras ouvidas pelo Valor, ainda não há expectativa de atrasos de obras, mas está mais difícil conseguir alugar equipamentos de fundação. Fabricantes e locadores de equipamentos dizem que durante a recessão houve queda na procura e consequente redução na oferta de máquinas.
Desde o quarto trimestre de 2018, o setor tem apresentado crescimento expressivo no volume de projetos lançados, principalmente para as classes média e média-alta, em resposta à demanda represada, à queda dos juros e à perspectiva de retomada da expansão econômica. O forte aumento dos lançamentos se concentra na cidade de São Paulo, mas construtoras com atuação nos municípios do entorno já sentem impactos da maior demanda por equipamentos pelo fato de serem atendidos pelos mesmos fornecedores.
Segundo o diretor técnico da Trisul, Roberto Pastor, já começam a faltar gruas basculantes, cremalheiras e alguns equipamentos para fundação, no Estado de São Paulo, com destaque para a capital paulista. Trata-se de cenário que não era visto desde 2014. A Trisul conseguirá manter seu ritmo de obras devido às “parcerias estabelecidas ao longo dos anos”, de acordo com Pastor. “Não está tendo cremalheira no mercado, mas temos um fornecedor que vai separar um lote para nós”, diz o executivo. Segundo ele, há expectativa que sejam feitos reajustes de preços de locação de equipamentos.
Silvio Kozuchowicz, presidente da SKR Incorporadora e Construtora, diz que a reserva de determinados equipamentos pesados precisa ser feita em torno de seis meses antes do início da obra. “As empresas têm de fazer uma programação maior em cada projeto. Não acredito que essa situação possa atrasar projetos, mas é um problema que estamos enfrentando agora.”
A Danpris, que atua em Osasco e Carapicuíba, na Região Metropolitana de São Paulo, também tem buscado assegurar prazos com fornecedores de equipamentos para evitar atrasos. Segundo o presidente da Danpris, Dante Seferian, como a quantidade de equipamentos disponíveis está no limite, é necessário programar o aluguel. “A demanda por estaca hélice contínua estava muito baixa. As empresas acabaram não investindo em novos equipamentos, mas agora o mercado virou”, ressalta Seferian.
O presidente para a América Latina da fabricante de equipamentos americana Terex, Gustavo Faria, diz que a frota de equipamentos pesados foi reduzida com a forte recessão econômica pela qual o Brasil passou nos últimos anos. Em função da diminuição da quantidade de máquinas e da recuperação do mercado imobiliário, segundo ele, as locadoras não estão conseguindo atender de pronto as construtoras. “A frota de plataforma de elevação, que até 2013 era de 36 mil equipamentos no Brasil, hoje está em 28 mil unidades. E cerca de 10% disso está sucateado.”
A Terex fabrica plataformas de elevação e guindastes. Para este ano, a expectativa do executivo é de que 32% das vendas no Brasil sejam de plataformas de elevação. “A frota desse tipo de máquina deve crescer de 4 mil a 5 mil unidades. Estamos sentindo uma procura maior por parte das locadoras. O mercado está voltando”, afirma.
De acordo com fonte de uma incorporadora, está mais difícil conseguir uma contratação de aluguel de máquinas e equipamentos sem que o pedido tenha sido feito antecipadamente. “Nas épocas tranquilas, você conseguia. Hoje, não. Mas, programando, é possível ser atendido”, diz. Segundo outra fonte, no início do mês, começaram a faltar equipamentos de fundação para aluguel, na Região Metropolitana de São Paulo, o que está se refletindo em aumento dos preços.
Já a BN Engenharia, do grupo Bueno Netto, diz que ainda não sentiu a falta de equipamentos para locação no mercado. “O aquecimento dos lançamentos e das vendas de imóveis, ocorrido a partir do segundo semestre do ano passado, somente deverá ser percebido pelas construtoras a partir da segunda metade deste ano, quando serão iniciadas as obras”, afirma o diretor geral da BN Engenharia, João Antônio Mattei.
Segundo o diretor financeiro da Associação Brasileira de Fôrmas, Escoramentos e Acesso (Abrasfe), Renison Moreira, a taxa de ocupação de máquinas e equipamentos para locação já está em 75%. Em 2017, em plena crise econômica, a ocupação era de 40%. “Nossa expectativa é que, neste ano, o mercado de locação cresça até 20%. Ainda não há falta de equipamento no mercado. Mas, a partir do segundo semestre, acreditamos que poderá ter um impacto nesse segmento com o aumento mais significativo da demanda”, diz Moreira.
Segundo ele, os investimentos na compra de equipamentos não devem ser maciços em 2020, apesar da recuperação. “As locadoras precisam se capitalizar. Os preços ainda não estão atrativos. Ocorreu uma redução de 40% a 60% nos anos ruins, e o valor ainda não se recuperou. As empresas devem esperar um pouco essa demanda se concretizar para partir para os investimentos”, afirma Moreira.
Para Kozuchowicz, da SKR, no entanto, esse movimento já impactou nos preços do aluguel de alguns equipamentos. “A média de reajuste é de 20%.” A SKR é especializada em imóveis de alto e médio padrão e trabalha em três obras na cidade de São Paulo.
Faria, presidente da Terex, também afirma que está ocorrendo uma recuperação dos preços de locação no país. Em alguns casos, segundo ele, esse reajuste chega a 60%. “É natural. O valor do aluguel tem que valer a pena para a entrada de novos equipamentos no país. E esses investimentos não ocorrerão na mesma velocidade do que o crescimento da demanda. São equipamentos caros e importados”, afirma.