RIO — O novo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, tomou posse na última quinta-feira prometendo que, com a recuperação da capacidade de investimentos da estatal, o Rio poderá se tornar uma nova Houston, a cidade americana conhecida como a capital internacional da indústria do petróleo. A capital fluminense ainda está longe disso, mas a retomada dos investimentos da estatal — o plano de negócios lançado em dezembro prevê US$ 84,1 bilhões em projetos nos próximos cinco anos, 12% mais que no plano anterior — e o retorno dos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP) já mexem com o mercado imobiliário corporativo do Rio, que vem amargando alta taxa de vacância nos últimos anos. Como o setor de petróleo responde por mais de 40% das locações, o mercado começa a ver nele a luz no fim do túnel da crise.
Um levantamento da Regus, empresa especializada no aluguel de salas comerciais, mostra que mais de 450 empresas relacionadas ao setor de petróleo e gás, entre operadores e prestadores de serviços, abriram ou ampliaram escritórios no Estado do Rio, principal zona produtora do Brasil, no ano passado. A previsão da empresa é que este ano haja um aumento de 30% no número de companhias do setor em busca de espaços flexíveis, virtuais, ou em coworking, além de obter endereços fiscais no Rio para iniciar atividades no país.
O mercado carioca ganhou ainda um impulso extra no fim de dezembro, quando a Petrobras abriu uma licitação para alugar espaços de trabalho para até 4.500 posições (pessoas) ao longo de três anos em regime de coworking. Ou seja, a estatal quer investir em um novo modelo que possibilite o trabalho em conjunto com outras empresas perto de sua sede, no Centro do Rio. A estatal informou que “pretende ter profissionais atuando no desenvolvimento de soluções digitais, num ambiente que fomente a colaboração, inovação e experimentação de novos processos, tecnologias e cultura.”
Segundo Renato Amorim, diretor da Regus, a movimentação no setor se deve ao aumento do otimismo desde as eleições e à manutenção do calendário de leilões do setor pelo novo governo, com novas regras. Somente neste ano, a ANP vai realizar ao menos dois leilões de novos campos, no pós-sal e no pré-sal, atraindo investimentos de todo o mundo. Ainda há a perspectiva de o governo realizar o megaleilão de áreas excedentes da cessão onerosa no pré-sal, que fez parte da capitalização da Petrobras em 2010, que pode gerar R$ 100 bilhões ao governo.
— Muitos contratos iriam ser fechados ao longo do primeiro trimestre deste ano, mas as empresas se adiantaram e fecharam entre o Natal e o ano-novo. Trabalhamos até o dia 31 de dezembro. Muitas empresas tinham que começar já no dia 2 de janeiro — conta Amorim. — Com a eleição, melhorou o clima. A economia deu uma tração com a mudança de governo.
Vacância menor - Jadson Mendes Andrade, gerente sênior de Pesquisa e Inteligência de Mercado para América do Sul da Cushman & Wakefield, ressalta que a cidade do Rio chegou ao fim de 2018 com o melhor saldo líquido (entre devoluções e ocupações) na área corporativa em quatro anos: 32.300 metros quadrados no acumulado do ano até novembro.
Segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), o índice de vacância, que mede a proporção de espaços corporativos vazios, caiu de 39% para 28% nos últimos três anos, embora ainda seja alto.
— O setor de óleo e gás é o que mais ocupa prédios corporativos no Rio, ao lado de órgãos públicos. Hoje, já vemos o segmento de petróleo com melhoria na geração de empregos. O impacto na ocupação imobiliária vai depender da intensidade da retomada da Petrobras. Neste ano, os números estão bons, apesar de a Petrobras estar desocupando uma das torres do prédio Ventura (no Centro). Por outro lado, vimos a Shell saindo da Barra da Tijuca e indo para o Centro do Rio — diz Jadson.
Os sinais de reaquecimento dos aluguéis no setor petrolífero aparecem principalmente no Centro do Rio. As empresas preferem se instalar perto da Petrobras. Foi o caso da Ramboll, que presta consultoria em auditoria, faz gerenciamento de áreas contaminadas e avalia impactos ambientais da atividade petrolífera. A empresa abriu um escritório no Centro no ano passado para acomodar cinco funcionários. O consultor Sergio Mesquita conta que já pensa num espaço maior:
— Temos contratos no Rio, São Paulo e Minas Gerais. O escritório no Rio está em fase de consolidação. Com o desenvolvimento dos serviços e prospecção de clientes, temos planos de expansão.
A Brasdril, que atua no Brasil há 47 anos operando equipamentos de perfuração, é outra empresa que acaba de se instalar na capital fluminense. Com estrutura operacional em Macaé, empregando 45 funcionários em terra e cerca de 306 em plataformas, a empresa precisava de uma base no Rio para abrigar a área de marketing.
— O escritório também funciona como base para a área de contratos e para executivos de passagem — diz Amanda Porto, responsável pelo espaço.
Crescimento em 2019 - A Bridon, que fabrica cabos de aço e de fibra, está entre as que ampliaram o escritório que já tinham no Rio. Já a suíça SGS, especializada em processos de inspeção, verificação, testes e certificação, é uma das que montam bases temporárias. Chegou ao Rio por causa de um contrato:
— Conquistamos um contrato de serviços offshore (no mar) e precisávamos rapidamente montar um escritório no centro do Rio para instalar a base de suporte desse trabalho — conta Mauricio Martins, gerente de Comissionamento Industrial da SGS.
O presidente da Ademi, Claudio Hermolin, diz que a recuperação ainda está no início, mas já é consistente, principalmente nas locações comerciais. Esse movimento, diz ele, deve se intensificar no meio deste ano.
— O setor de óleo e gás é muito importante para o Estado do Rio, já que é responsável por 43% do mercado imobiliário no Rio, em locações comerciais, industriais e residenciais — diz Hermolin, indicando Centro, Porto e Barra como áreas mais procuradas.
O diretor da área de locação de escritórios da consultoria Newmark Grubb Brasil, Eduardo Cardinali, avalia que as empresas ainda estão analisando onde vão se instalar. Segundo ele, há uma grande empresa do setor em busca de uma área entre cinco e dez mil metros quadrados na cidade, mas não revela o nome.
— Em conversas com algumas petroleiras no Rio, todas manifestaram interesse em espaços disponíveis. No momento, estão se posicionando. A retomada ainda não é tão expressiva, mas acredito que vai crescer neste ano.