O saldo da caderneta de poupança fechou 2024 em R$ 1,032 trilhão, maior nível nominal desde dezembro de 2020. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central. Entretanto, isso não significa um alívio para o setor imobiliário, diante da escassez de recursos para o financiamento de imóveis.
O comportamento da poupança é acompanhado de perto pelo mercado imobiliário, já que é utilizada como funding. Durante o ano passado, atores do mercado, como a Caixa, pleitearam a redução dos depósitos compulsórios para possibilitar a liberação de mais crédito.
A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) pontuou que o saldo de R$ 1,032 trilhão inclui o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e a poupança rural, que não é utilizada para crédito imobiliário.
"Considerando só a poupança SBPE, o saldo cresceu praticamente 3,53% sobre 2023. Entretanto, esse crescimento modesto, embora ajude, não alivia substancialmente para os agentes financeiros que estão, em sua maioria, super aplicados, e precisam de mais recursos para atender a demanda [imobiliária]".
O saldo da poupança foi aumentando ao longo do ano, depois de terminar 2023 em R$ 983,034 bilhões. Em 2024, foram quatro meses de entradas líquidas na poupança, contra apenas dois em 2023, o que contribuiu para que o saldo superasse o patamar de R$ 1 trilhão em junho, algo que não acontecia desde julho de 2022.
A última vez que um ano terminou com o saldo da poupança acima de R$ 1 trilhão foi 2021, quando o resultado foi de R$ 1,031 trilhão. Já no ano anterior, o saldo havia sido de R$ 1,036 trilhão. Os valores são nominais.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, aponta que a elevação do saldo da poupança pode ser atribuída ao aumento dos depósitos, que em três dos quatro trimestres de 2024 teve taxa de crescimento superior à das retiradas. Os depósitos somaram R$ 4,197 trilhões em 2024 contra R$ 3,827 trilhões em 2023. Já os saques subiram de R$ 3,915 trilhões em 2023 para R$ 4,213 trilhões no ano passado. “Desta forma, mesmo com a queda de 12% na taxa de variação do rendimento da poupança entre 2024 e 2023, a poupança como um todo terminou o ano com um saldo final 5% superior na comparação anual.”
Em 2024, a saída líquida de recursos da poupança, saques menos depósitos, foi de R$ 15,467 bilhões, menor que o patamar de R$ 87,819 bilhões de 2023. O volume de saída líquida também foi menor que 2022 e 2021. A última vez que a poupança registrou mais depósitos que saques foi em 2020, quando o saldo líquido foi positivo em R$ 166,310 bilhões.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, explica que a saída menor de recursos da poupança tem relação com o mercado de trabalho aquecido, que impulsiona a renda das famílias, principalmente de menor renda, e “leva a uma menor necessidade de saques das aplicações financeiras para financiar o consumo e a quitação de dívidas”. Borsoi destaca, no entanto, que não acredita que o investimento em poupança é motivado pelo rendimento potencial, porque existem alternativas com perfil de risco parecido e com retorno mais atrativo.
Apesar de estar em patamar inferior ao registrado em 2023, quando o rendimento foi de R$ 73,083 bilhões, o rendimento da poupança de R$ 64,284 bilhões em 2024 contribuiu para o aumento do saldo do ano. Quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, os depósitos de poupança são remunerados a 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). A Selic está acima desse patamar desde dezembro de 2021.
Para avaliar como será o comportamento da caderneta em 2025, Pizzani destaca a relação entre mercado de trabalho e poupança. Ele diz que projetar a direção do mercado de trabalho neste ano é um dos principais desafios para os economistas.
Pizzani aponta fatores como a política monetária restritiva por um lado e, por outro, as injeções fiscais que já foram contratadas, como o reajuste do salário mínimo e o pagamento de precatórios, que podem ajudar a manter a demanda agregada aquecida. “Logo, a demanda por mão de obra de trabalhadores dos estratos sociais que mais contribuem para o crescimento da poupança será nevrálgica para seu desempenho no decorrer do ano”, disse.
Já Borsoi, da Nova Futura Investimentos, avalia que a conjuntura de um menor crescimento econômico, inflação elevada, juros bancários mais altos e endividamento elevado das famílias sugere que o saques da poupança devem aumentar neste ano. “É provável que o estoque aumente devido à elevação da remuneração da poupança, mas a captação deve seguir negativa.”