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26/04/2023

Santander lucra R$ 2,1 bi e mantém conservadorismo (Valor Econômico)

Banco aproveitou ganho fiscal para fazer reforço de R$ 4,2 bilhões em provisões extraordinárias

O Santander Brasil abriu nesta terça-feira a temporada de balanços dos bancos no primeiro trimestre de 2023 com a mensagem de que se manterá conservador no crédito ao longo de todo o ano. A instituição financeira reforçou as provisões para perdas no crédito, que devem ajudá-lo a se proteger do impacto de empresas em dificuldades, como Americanas e Grupo Petrópolis.

 

No geral, o resultado do Santander veio em linha com as projeções, e analistas dizem que o pior parece ter passado, mas não se mostraram muito animados com as perspectivas operacionais para o banco. As units terminaram o dia em alta de 0,73%, cotadas a R$ 26,56.

O Santander teve lucro de R$ 2,140 bilhões entre janeiro e março, o que representa alta de 26,7% ante o trimestre imediatamente anterior e queda de 46,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. A margem com clientes voltou a subir após quatro trimestres e a instituição aproveitou um ganho fiscal para reforçar suas provisões.

 

O banco registrou margem financeira de R$ 13,145 bilhões, com alta de 5,0% na comparação com quarto trimestre uma e queda de 5,7% ante os três primeiros meses do ano passado. A margem com clientes, que reflete as operações de crédito, somou R$ 14,315 bilhões, com alta de 3,9% na comparação trimestral e de 3,3% na anual. O spread subiu 0,36 ponto percentual no trimestre, mas caiu 0,76 ponto em 12 meses, para 10,6%. Já a margem de operações com o mercado, que inclui a tesouraria, ficou negativa em R$ 1,170 bilhão, com uma melhora de 7,5% em relação ao resultado também negativo do quarto trimestre (perda de R$ 1,265 bilhão).

 

As despesas líquidas com provisões para devedores duvidosos (PDD) totalizaram R$ 6,765 bilhões. O número representa queda de 8,1% no trimestre e alta de 46,7% em 12 meses. Porém, esse número desconsidera uma PDD extraordinária de R$ 4,2 bilhões feita para reforçar o balanço. Levando esse fator em conta, a PDD foi de R$ 11 bilhões, com alta de 49,4% em três meses e de 138,5% em 12 meses.

 

De acordo com o Santander, no primeiro trimestre houve um “evento extraordinário” referente à reversão de provisões de riscos fiscais, relacionada à discussão judicial que envolve a Lei nº 9.718/1998, de cobrança de PIS/Cofins. Assim, todo valor revertido nesse caso foi usado para reforçar a PDD extraordinária.

 

Segundo analistas do Credit Suisse, desses R$ 4,2 bilhões, o Santander usou R$ 720 milhões para reforçar sua provisão para Americanas — elevando o provisionamento total a 50% de uma exposição geral de R$ 3,7 bilhões. Outros R$ 150 milhões teriam sido usados para provisionar 30% da exposição ao Grupo Petrópolis, que também entrou em recuperação judicial, e mais R$ 1,981 bilhão para reforçar reservas da carteira renegociada.

Em entrevista a jornalistas, o presidente do Santander, Mário Leão, não citou a Americanas, e disse que um pedaço da provisão adicional de R$ 4,2 bilhões “é genérico, não tem nome e sobrenome”. Serve, segundo ele, para “criar um colchão, seja para caso específico ou para portfólio em geral”. O executivo afirmou ainda que essa provisão adicional não foi desenhada para ser revertida necessariamente ao longo deste ano.

 

Leão, que assumiu o comando do banco em janeiro de 2022, passou uma mensagem conservadora. Disse que não se arrepende do aperto no crédito adotado já naquela época e que o apetite a risco deve seguir contido ao longo de todo este ano. Admitiu que aproveitou o ganho fiscal para reforçar provisões e, ao longo do tempo, ter mais conforto para ir navegando o cenário macroeconômico, que ainda não está melhorando como o esperado. Ele disse que, sem a provisão extraordinária, o lucro teria sido R$ 2,5 bilhões maior. “Prefiro crescer menos, mas com mais qualidade. Tivemos quatro trimestres de queda da margem com clientes, mas foi consciente”, disse.

 

Segundo Leão, o banco analisa diariamente uma série de dados para ver se pode afrouxar um pouco os padrões de concessão, e tem crescido de forma pontual em alguns nichos na área de pessoa jurídica. Porém, em pessoa física o cenário ainda é de cautela. “Não acreditamos que ao longo do ano vamos mudar o apetite a risco. Tomara que eu esteja errado, mas não achamos que vai acontecer.”

O presidente do Santander também apontou que a melhora firme do spread no trimestre não deve se repetir, na mesma magnitude, nos próximos períodos.

 

O banco encerrou março com R$ 500,314 bilhões na carteira de crédito. O saldo avançou 2,2% ao longo do primeiro trimestre e cresceu 9,9% na comparação com março do ano passado. O portfólio de grandes empresas era de R$ 141,663 bilhões no fim de março, com alta de 6,7% em relação a dezembro e de 18,8% frente a março do ano passado. A carteira de pessoas físicas, a mais relevante para o Santander, cresceu 1,1% e 8,4%, respectivamente, para R$ 228,735 bilhões. O segmento foi impulsionado pelas linhas de financiamento automotivo, com R$ 4,705 bilhões (alta trimestral de 4,3%); consignado, com R$ 61,660 bilhões (+3,4%); e crédito imobiliário, com R$ 57,144 bilhões (+1,6%).

 

A inadimplência subiu para 3,2% em março, de 2,9% em dezembro e 3,1% em março do ano anterior. No segmento de pessoas físicas, o indicador chegou a 4,5%, com aumento de 0,2 ponto percentual em três meses e de 0,5 ponto em um ano. Em pessoas jurídicas, a taxa ficou estável em 1,4%.

Segundo Leão, a inadimplência nas novas safras de crédito (concedidas desde janeiro de 2022) tem vindo bem melhor, e elas já representam 54% do portfólio total. O banco diz que ainda não é possível saber se o indicador já atingiu um pico, mas o executivo não prevê uma deterioração relevante.

 

Para os analistas do J.P. Morgan, os resultados do Santander foram complexos e, à primeira vista, parecem razoáveis, mas, mergulhando nos números, não foram tão bons. “As provisões no trimestre foram de R$ 6,8 bilhões [excluindo a PDD extraordinária], abaixo da formação de inadimplência, o que para nós é negativo.”

BB Investimentos chamou a atenção para a qualidade dos ativos, dizendo que há uma “pressão disfarçada de alívio”. Para a casa, o balanço “evidenciou a manutenção de um cenário ainda desafiador para o banco”. 

FONTE: VALOR ECONôMICO