A quantia de saques da poupança superou a de depósitos em R$ 3,264 bilhões em outubro, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 6, pelo Banco Central.
No ano até o mês passado, o total resgatado dessa aplicação foi de R$ 57,055 bilhões. Nos dois casos, tratam-se dos maiores volumes de retiradas dos últimos 20 anos para os períodos, desde quando a instituição começou a compilar as informações disponíveis até hoje, em 1995.
Até então, o pior outubro para a caderneta havia sido em 2000. Na ocasião, o resultado ficou negativo em R$ 1,409 bilhão.
O resultado deste ano até agora também é significativo: pela primeira vez desde 2003 se vê um volume de resgates maior do que o de aplicações em todos os meses de um ano de janeiro a outubro.
Em janeiro passado, o resultado ficou negativo em R$ 5,5 bilhões e, em fevereiro, em R$ 6,3 bilhões. Em março, os resgates superaram os depósitos em R$ 11,4 bilhões e, em abril, em R$ 5,8 bilhões. Em maio, o saldo ficou no vermelho em R$ 3,2 bilhões e, em junho, em R$ 6,3 bilhões. Em julho, o volume de saques ficou R$ 2,454 bilhões maior do que as aplicações e, em agosto, R$ 7,501 bilhões.
Em setembro, as retiradas foram de R$ 5,293 bilhões. O resultado negativo de março foi o pior para qualquer mês da série histórica do BC iniciada em 1995.
Com o resultado de outubro, o saldo total da poupança ficou em R$ 644,847 bilhões, já incluindo os rendimentos do período, no valor de R$ 4,062 bilhões.
Os depósitos na caderneta somaram R$ 151,328 bilhões no mês passado, enquanto as retiradas foram de R$ 154,592 bilhões. A situação de outubro só não foi pior porque, no último dia útil do mês, a quantidade de aplicações foi R$ 3,954 bilhões maior do que o das retiradas. Até o dia 29, o saldo da caderneta estava no vermelho em R$ 7,218 bilhões.
É comum ocorrer um aumento dos depósitos no último dia de cada mês por conta de aplicações programadas já por investidores com seus próprios bancos. Agora ainda mais por causa do adiantamento do pagamento do 13º salário a aposentados e pensionistas.
Em evento sobre educação financeira promovido pelo Banco Central, o presidente da Febraban, Murilo Portugal, disse ontem que é preciso estimular a poupança, um hábito que não é muito disseminado no País. "Mas isso só tem êxito se as pessoas virem razão concreta para trocarem o consumo atual pelo futuro", disse, acrescentando que a poupança não é inimiga, mas aliada do consumo.
Remuneração - Essa fuga da poupança tem ocorrido, entre outros motivos, porque, com a recessão econômica, sobram menos recursos dos trabalhadores para investimentos.
Além disso, com um cenário de juros e dólar altos, outros investimentos tornam-se mais atrativos. A remuneração da poupança é formada por uma taxa fixa de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR) - esse cálculo vale para quando a taxa básica de juros (Selic) está acima de 8,5% ao ano e atualmente está em 14,25% ao ano.
Por conta dessa sangria na poupança vista desde o início do ano, o setor imobiliário passou a reclamar de falta de recursos para financiamentos de casas e apartamentos.
Para minimizar esse quadro, o BC decidiu, em maio, liberar os bancos para usar R$ 22,5 bilhões dos depósitos da poupança que são obrigados a manter na instituição para desembolsos nas operações de financiamento habitacional e rural.