Por Simon Nascimento
Entre os destinos responsáveis por consagrar Belo Horizonte como a ‘capital dos bares’ ao longo da história, a Savassi vem ganhando uma nova identidade ao longo da última década e se consolidou como bairro mais caro para se comprar um imóvel na cidade. Desde 2015 sendo responsável por reunir os residenciais com o maior preço de metro quadrado na metrópole, a região vivencia um aquecimento de demanda após o período da pandemia e tem, agora, apartamentos que custam até 60% a mais que nos outros endereços de BH.
Em fevereiro, dados da pesquisa FipeZap mostraram que para comprar um apartamento na Savassi era preciso, em média, R$ 16.505 por metro quadrado - enquanto para o restante da capital o valor calculado foi R$ 9.715. O alto preço, no entanto, está longe de ser impeditivo para frear a demanda, de acordo com interlocutores do mercado imobiliário. O crescimento também beneficia o comércio, atraindo novos estabelecimentos para quarteirões tradicionais do bairro.
O combustível às atividades econômicas se dá pelo modelo construtivo de fachadas ativas, em que a base da edificação recebe lojas e a estrutura é construída, acima, com os apartamentos. Modalidade que segundo a diretora da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato da Habitação de Minas Gerais (CMI/Secovi), Patrícia Simões, ganhou fôlego após a pandemia.
Ela acredita que a Savassi está recebendo uma migração de empreendimentos da região do Vila da Serra, em Nova Lima, na divisa com BH. “Construíram muito lá e agora vieram para a Savassi devido à quantidade de terrenos disponíveis”, apontou Simões, também diretora da Mangabeiras Imóveis. Com o crescimento da demanda, ela crava que o mercado imobiliário vê, na Savassi, uma nova identidade.
“Há uma mudança muito clara na Savassi. Está se transformando mais em uma região residencial do que comercial. A Savassi era o ‘Centro’ da Zona Sul e hoje já tem mais uma cara de residência, com um crescimento grande por imóveis”, completou Patrícia Simões, ao citar a preferência das famílias por condomínios com lazer completo e atrativos, em que o custo pode superar os R$ 21 mil por metro quadrado. Uma das empresas com empreendimentos na região é a Somattos - dois ainda em construção.
O supervisor de vendas da construtora, Gustavo Silveira, citou que a Savassi passou por um déficit na oferta de apartamentos de um a dois quartos, que tem sido a maior tendência de vendas. Há também, segundo ele, uma procura intensa por imóveis com três quartos com suítes. A grande demanda gera uma valorização entre 20% e 50% nos preços, calcula ele.
“Normalmente, os três quartos têm, no geral, em torno de 80, 90 e até no máximo 100 metros quadrados, e você não consegue fazer um imóvel com três suítes nessa metragem. Então, (apostamos em) apartamentos com 115 a 120 metros quadrados. Enxergamos uma tendência de mercado para atender famílias com dois filhos, por exemplo”, ilustrou Silveira.
Preferências
De acordo com dados da FipeZap, as buscas por imóveis na Savassi são mais altas que no restante da capital para apartamentos de um e três quartos e também em residenciais de quatro dormitórios.
Em relação ao tamanho, a região também se destaca no interesse por áreas entre 50 até 250 metros quadrados. A economista do DataZap, Paula Reis, detalhou ainda que na procura, quem deseja comprar uma nova residência na Savassi prioriza também mais vagas de garagem, em comparação à média da capital.
“De fato, a localização é muito privilegiada, com fácil acesso ao centro, boa infraestrutura e oferta de entretenimento noturno, com bares e restaurantes variados”, argumentou Reis, ao explicar o motivo da procura pela Savassi. Para 2025, a economista prevê uma desaceleração nos preços de venda, em função do aumento da Selic, projetada para 14,25% no primeiro semestre do ano.
Outro fator que pode impactar é a redução dos recursos disponíveis na poupança. “Tais fatores devem afetar principalmente o médio padrão, que é mais dependente de financiamento. Contudo, no nível microeconômico, o bairro de Savassi pode apresentar variações de preço acima da média de Belo Horizonte enquanto houver excesso de demanda em relação à oferta. Isto é, enquanto houver mais interessados em morar no bairro do que imóveis disponíveis”, concluiu.
Modelos construtivos
Na avaliação do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Raphael Lafetá, o modelo de fachada ativa é viável para a construção civil e não gera impactos negativos às obras. A característica segue uma diretriz do Plano Diretor.
“Mas a legislação que traz esse benefício carece urgentemente de melhorias, evoluções e modernizações, para que a construção de lojas continue sendo atrativa para o setor da construção e uma mola propulsora para o desenvolvimento do comércio e da atividade econômica em várias regiões da cidade”, disse.
Ele exemplificou que o setor vê benefícios em uma flexibilização nas regras para permitir a utilização de vagas de garagem e estacionamento, “principalmente em frente às lojas”.