Chiara Quintão
Os lançamentos e as vendas de imóveis devem cair para patamar ainda menor em 2016, na avaliação do novo presidente do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, Flavio Amary, em função do cenário político e econômico. "Não há nenhuma expectativa de elevação nem de lançamentos, nem de vendas neste ano. Quanto mais tempo demorar a crise, maior o impacto futuro", diz o novo presidente do Secovi-SP, no cargo desde segunda-feira e com mandato previsto até 31 de janeiro de 2018.
A falta de previsibilidade pode significar, segundo o administrador de empresas formado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), prazo maior para a retomada dos investimentos por parte das incorporadoras e consequente desalinhamento entre oferta e demanda, considerando-se o ciclo longo do setor. Amary ressalta que, na cidade de São Paulo, os custos de produção serão pressionados pelo fato de o novo Plano Diretor ser mais restritivo do que o anterior.
"Estamos pedindo, ao executivo municipal, medidas anti-cíclicas para evitar descasamento entre oferta e demanda e [evitar] que quem vive em São Paulo tenha de comprar imóvel fora da cidade", diz. Entre essas medidas, o Secovi-SP propõe que a implantação das novas regras do Plano Diretor e da Lei do Zoneamento ocorram de forma transitória, para que não haja "forte pressão de custos que prejudique o consumidor final".
Na expectativa de Amary, neste ano, os preços de imóveis terão estabilidade em relação aos valores nominais, na média. Não é possível afirmar, segundo ele, até quando as incorporadoras continuarão a conceder descontos para reduzir estoques. "Há oportunidade para quem quer realizar o sonho da casa própria e proteger o patrimônio", diz. Futuramente, segundo ele, os custos de reposição dos imóveis farão com que "os preços deem um salto".
Os números consolidados de 2015 ainda não foram divulgados. A última estimativa da entidade era de redução de 38% no volume lançado de imóveis residenciais, na capital paulista, para 21 mil unidades, e queda de 20% nas vendas, para 17,3 mil unidades. Se as projeções forem confirmadas, as atividades do mercado imobiliário paulistano terão recuado para patamar inferior ao de 2004, ano de definição dos marcos regulatórios do setor.
Dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) divulgados pelo Secovi-SP apontam que, no acumulado de janeiro a novembro, os lançamentos caíram 35%, enquanto as vendas tiveram queda de 5,7% ante o intervalo equivalente de 2014.
No entendimento do presidente do Secovi-SP, o aumento do desemprego é o fator macroeconômico com maior impacto para o mercado imobiliário. "Isso faz com que as pessoas não possam comprar ou honrar a aquisição de um imóvel", diz, acrescentando que a alta do desemprego contribui para os cancelamentos de vendas. Em relação aos distratos, o setor defende que haja legislação que regule o tema. "O setor tem de vender um imóvel e não uma opção que pode ser exercida ou não."
Amary ressalta que, neste momento, é difícil para qualquer setor, fazer projeções. "Olhamos para a frente, vemos uma nuvem e não conseguimos saber o que vai acontecer na economia e na política. As pessoas têm postergado decisões de compra em geral", diz. O presidente do Secovi-SP defende que, atualmente, a mudança mais importante e necessária a ser feita pelo governo é a redução dos gastos públicos. Questionado se acredita que a presidente Dilma Rousseff chegará ao fim do mandato, o presidente do Secovi-SP disse que entidades não devem ter características partidárias. "O que defendemos é uma solução para que o país tenha governabilidade. Precisamos de uma solução, no curto prazo, seja qual for", afirma.