As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste domingo (1º), durante sua posse, podem ter efeito misto nos mercados no curto prazo, avalia o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz. Para as estatais, ele acha que será negativo, em razão da sensação de maior interferência. Já em relação às construtoras, pode ter sido positivo, em decorrência das falas sobre o programa Minha Casa, Minha Vida.
No campo fiscal, diz ele, o que trará um impacto real será a nova regra fiscal, mas pode ficar um sentimento de que o compromisso com a responsabilidade não será tão firme. Cruz destacou que não viu grandes novidades nos discursos do presidente.
Durante suas considerações, Lula emitiu alguns sinais fiscais. Ele reiterou que o teto de gastos é uma “estupidez” e que seria revogado, mas também disse que nunca foi irresponsável, e que seus governos anteriores fizeram superávit e reduziram a dívida externa.
“O que trará impacto realmente é a nova regra fiscal. Mas fica um sentimento de que não vai ser tão firme quanto estava sendo”, afirma Cruz. Quanto ao efeito nos juros, pode haver uma sensação de que o Banco Central não consiga cortá-los com tamanha intensidade com a postura do presidente, diz o estrategista.
Ainda em relação ao campo fiscal, Cruz avalia que pode haver um efeito negativo das declarações de membros do novo governo feitas durante a cerimônia de posse, de que é esperada uma medida provisória estendendo por 60 dias a desoneração de combustíveis. “O mercado havia reagido bem ao sinal de que não haveria prorrogação”, diz. “Entenderam que haveria impacto na inflação, mas que fiscalmente seria melhor.”
Um efeito setorial positivo das falas de Lula, segundo Cruz, pode ser sobre as ações de construtoras que atendem o Minha Casa, Minha Vida. O presidente disse que o governo vai retomar o programa “e estruturar um novo PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] para gerar empregos na velocidade que o Brasil requer”.
Já em relação às estatais, o novo presidente disse que elas haviam sido dilapidadas e sinalizou mudanças. Para Cruz, isso pode causar um efeito negativo, que já vem acontecendo desde a vitória de Lula – ele destaca a queda das ações de Petrobras e Banco do Brasil desde o resultado da eleição.
No que diz respeito ao discurso ambiental e sobre povos indígenas, Cruz considera que Lula “acerta bastante”. “Investidor estrangeiro quer ouvir exatamente isso. É o discurso mais atual.”
Durante suas considerações, o novo presidente afirmou que “nenhum outro país tem as condições do Brasil para se tornar uma grande potência ambiental, a partir da criatividade da bioeconomia e dos empreendimentos da socio-biodiversidade".
Matéria publicada em 02/01/2023