O setor imobiliário intensificou ações promocionais no final do primeiro trimestre e enxerga uma melhora da confiança do mercado após as medidas anunciadas pela Caixa Econômica Federal na semana passada para melhorar a oferta de crédito.
Para o copresidente da construtora Even, Dany Muszkat, a notícia dos incentivos da Caixa pode ajudar o setor a recuperar liquidez. "Na cadeia de vendas do setor imobiliário, quanto tem alguém comprando um imóvel novo, tem alguém vendendo um usado", disse, comentando sobre as iniciativas para estimular o crédito imobiliário. A Caixa anunciou a ampliação da cota de financiamento para imóveis usados da faixa de 40% a 60% para até 80%, com o percentual máximo disponível apenas para funcionários públicos.
O anúncio veio depois que o Conselho Curador do FGTS aprovou no final de fevereiro suplementação de R$ 21,7 bilhões para o orçamento de 2016 para reforçar operações de crédito imobiliário. As novas medidas vieram no momento em que as construtoras e imobiliárias realizam feirões e promoções para incentivar as vendas no final do primeiro trimestre.
Entre elas, a Even realiza em São Paulo ação em 20 de março que vai oferecer até 50% de desconto em mais de 70 empreendimentos na capital paulista. O estoque pronto da companhia é de R$ 400 milhões - 60% disso na cidade. "O que a gente tem percebido ao longo de janeiro e fevereiro é que o comprador de imóvel voltou. Ele entendeu que os preços chegaram num patamar interessante em unidades de produtos bem localizado."
Para a diretora de atendimento da Lopes, Mirella Parpinelle, as novas medidas deverão impulsionar as vendas e aliviar os estoques das empresas. "50% do nosso estoque é de empreendimentos que estão prontos ou serão entregues em junho", afirma.
O mercado, para ela, pode incentivar outros bancos a tomarem medidas similares e o anúncio do estímulo ao crédito veio em bom momento. A empresa tinha previsto realizar um feirão de vendas em São Paulo no sábado (12) e ofertar 800 imóveis prontos e 500 na planta, sendo estes com valor até 38% menor, conforme a empresa. A expectativa para 2016 é de fechar o ano com resultado superior a 2015.
A construtora MRV, em que 90% dos empreendimentos são enquadrados no programa habitacional Minha Casa Minha Vida, também viu com otimismo as medidas da Caixa para tentar destravar o setor, disse Rodrigo Rezende, diretor de vendas da construtora e incorporadora. Neste mês, a MRV está realizando feirões em diversas cidades do Brasil, ofertando 30 mil unidades. "Os descontos de imóveis populares podem chegar até a R$ 15 mil, mais ou menos 10% do valor", disse.
Patamar - No Brasil, o setor imobiliário encerrou 2015 com estoque de 109,4 mil imóveis residenciais, pouco abaixo das 110,6 mil de um ano antes, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Mobiliárias (Abrainc). Este patamar precisaria de 14 de meses de vendas para ser zerado.
Com crédito mais restrito e vendas em declínio, os lançamentos de imóveis no País despencaram desde 2015. O foco das principais construtoras e incorporadoras do País tem sido a redução de estoques, com ações promocionais e liquidações agressivas frequentes. Segundo o executivo-chefe de operações do portal imobiliário VivaReal, Lucas Vargas, atualmente os maiores descontos acontecem em imóveis específicos, como alguns encalhados em determinados empreendimentos, como é o caso de coberturas ou apartamentos térreos.
Na visão de Vargas, ao longo de 2016 pode ser esperada uma oferta de mais unidades nestas promoções. Porém, para o economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Zylberstajn, o aumento do crédito sem retomada da confiança do consumidor e melhora do desemprego não resolve todos os problemas do setor.
Oferta e demanda - "É uma questão muito mais do lado da demanda do que da oferta. Esta [medidas da Caixa] não é a bala de prata que vai fazer o setor voltar a brilhar", declarou Vargas. Para ele, mudanças muito bruscas nas regras do setor trazem insegurança. A Caixa havia reduzido o percentual de financiamento de imóveis usados há menos de um ano, em meio a um aumento de rigor na concessão de empréstimos.
Atualmente, a plataforma VivaReal tem 4 milhões de anúncios de imóveis e em torno de 95% são usados. Conforme Vargas, no Brasil a maioria dos consumidores procura imóveis de 51 a 100m² (49%), com 2 dormitórios (46%) e estão dispostos a pagar de R$ 171 mil a R$ 350 mil, como ressalta o especialista no mercado.