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01/11/2015

Sonho da casa própria fica mais perto do brasileiro... lá fora

Na avaliação de parte das empresas, esta é a melhor fase de vendas da história no mercado externo.

Henrique Gomes Batista 

Imigrantes brasileiros nos Estados Unidos estão na mira das construtoras. Com o dólar perto dos R$ 4, as vendas de imóveis no Brasil para quem optou por morar fora nunca estiveram tão aquecidas. De olho neste público, as empresas criaram estratégias exclusivas, que podem ajudar a atenuar a forte queda do segmento no país, afetado pela recessão. Na avaliação de parte das empresas, esta é a melhor fase de vendas da história no mercado externo.

Para o imigrante, o cenário é favorável para a compra de imóveis novos ou usados: os preços recuaram em reais com a desaceleração da economia, e, em dólares, a queda chega a 40% em um ano. Além disso, com a manutenção dos juros nos EUA próximos de zero, o movimento ganha fôlego com a procura por investimentos mais rentáveis.

— Procuro um terreno para comprar em Florianópolis, vou aproveitar e ter meu segundo imóvel lá. Hoje, compro por US$ 80 mil o que, há dois anos, me custaria US$ 160 mil. Se não fosse esse dólar, investiria nos EUA, mas não posso perder essa oportunidade. Fiz isso em 2002, quando o dólar subiu, e comprei meu primeiro imóvel. Foi um ótimo negócio — afirmou o gaúcho Cleber Rodrigues, de 49 anos, que vive há 20 anos em Washington. — Se deixar o dinheiro aplicado aqui, não ganho nada.

Um apartamento por dia. Isso é o que a MRV quer vender a brasileiros que moram nos Estados Unidos. Atualmente, são 20 imóveis por mês para compradores do exterior. Quando o dólar estava na faixa de R$ 2, esse tipo de operação era considerada esporádica.

Quitação rápida do imóvel

Presente no mercado popular, se chegar a este patamar, a construtora teria 1% de suas vendas no exterior, o que significaria algo como R$ 50 milhões a mais por ano, num momento de mercado desaquecido no Brasil.

Estimativas indicam que a comunidade brasileira espalhada nos EUA pode ultrapassar um milhão. E a casa própria no Brasil é tema recorrente. O mineiro Atos Romualdo Neto Batista acabou de comprar um imóvel na planta. Morador de Orlando, viu a oportunidade de pagar US$ 42 mil por um apartamento de R$ 170 mil em Belo Horizonte.

— Já tinha um dinheirinho guardado para a entrada e fiz um financiamento curto. Quero quitar em, no máximo, dois anos. Com 15 dias de trabalho aqui, pago a prestação — disse.

A compra com financiamento rápido é a marca deste cliente: ele quita rapidamente o valor devido, o que garante um bom caixa para as construtoras que fazem venda direta. A MRV, que está criando uma rede de parceiros nos EUA e estuda abrir loja em Boston, finaliza o projeto de seu primeiro empreendimento em Governador Valadares, em Minas Gerais, de onde sai parcela significativa dos imigrantes.

— Esperamos vender 20% dos 400 apartamentos para brasileiros fora do país — disse Rodrigo Resende, diretor da empresa.

Gustavo Reis, diretor de Marketing da Tecnisa, conta que a empresa começou há dez dias uma grande ofensiva publicitária nos EUA. Sem dar números, conta que a empresa espera para 2016 a maior venda na história para os imigrantes, após 11 anos atuando no segmento. O fato de ter 42% de vendas online facilita a negociação:

— Em dez dias de propaganda, a procura por nossos imóveis a partir dos EUA cresceu 26%. Vimos aumento também a partir da Europa. Essa venda é estratégica, pois é quitada em pouco tempo, quando não é feita à vista.

Pequenas construtoras de vários estados aumentam a propaganda em veículos especializados nos EUA. E não só de imóveis novos. Rubem Vasconcellos, presidente da Patrimóvel, vendeu oito imóveis para este público no Rio este ano, contra zero em 2014:

— O número vai crescer, não vemos o dólar baixando a curto prazo. Esse comprador, em geral, conta com alguém da família no Brasil para ajudar na escolha, e a compra é mais direta, sem tanto financiamento, uso do FGTS.

Remessas triplicam

Outro sinal de que os negócios estão aquecidos é o envio de dinheiro. Na EnviouChegou.com, da Pontual Money Transfer, as remessas, em geral de US$ 500 por mês, triplicaram de valor:

— O gatilho foi imediato, o dólar passou de R$ 3, as remessas aumentarem. Os brasileiros estão fazendo um esforço para enviar tudo o que podem neste momento — disse Flavio Schafirovitch, vice-presidente da Pontual. 

 

FONTE: O GLOBO