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28/06/2016

Spreads bancários e risco de calote impulsionam recorde na taxa de juros

Dados do relatório do BC apontam que a concessão de crédito cresceu, em maio, uma média de 5,3% em comparação a abril, de R$ 271,8 bilhões para R$ 286,2 bilhões.

As crescentes taxas de juros, mesmo com o avanço nas concessões em maio, podem indicar piora no cenário de empréstimos do País. Com o aumento de spreads, bancos sugerem que terão maior risco de calotes e taxas seguirão em alta nos próximos meses.

De acordo com relatório do Banco Central (BC), a taxa média de juros das operações de crédito alcançou o nível mais alto da série história, atingindo 32,7% ao ano no mês de maio, um aumento de 5,6 pontos percentuais (p.p.) em 12 meses e de 2,9 p.p. quando comparado a dezembro do ano passado. Já quanto ao spread bancário, a elevação passa a 5,4 p.p. nos 12 meses e 4,2 p.p. no ano.

Segundo Maurício Godoi, professor da Saint Paul Escola de Negócios, a desaceleração da economia brasileira e os potenciais níveis de desemprego e inadimplência têm impulsionado os bancos a aumentarem seus spreads (diferença entre o quanto o banco paga na captação de recursos e o quanto cobra na concessão de crédito) e, consequentemente, impulsionando as taxas de juros.

"Um é efeito do outro. Quando você compara os spreads e a taxa de juros, apesar de não estarem na mesma velocidade, ambos estão crescendo. Pontualmente no mês de maio, as empresas e as pessoas físicas aparentam ter recebido um pouco mais e ganharam confiança para buscar crédito, mas é nesse ponto que começa uma questão preocupante. As concessões aumentaram ante um cenário de elevação de desemprego, inadimplência e juros", identifica o professor.

Dados do relatório do BC apontam que a concessão de crédito cresceu, em maio, uma média de 5,3% em comparação a abril, de R$ 271,8 bilhões para R$ 286,2 bilhões. Essa média representa um crescimento de 4,6% nas concessões para pessoas jurídicas (PJ) e de 5,8% nas pessoas físicas (PF).

Em relação aos dois principais aumentos na taxas de juros de PF e PJ, cheque especial e o rotativo do cartão de crédito foram os que impulsionaram a alta recorde nos juros.

Para PF, cheque especial chega a 311,3% ao ano, um aumento de 79,3 p.p. nos 12 meses e de 24,3 p.p. no ano, enquanto o rotativo do cartão alcançou 471,3% ao ano, alta de 111 p.p. nos 12 meses e 39,9 p.p. em relação a dezembro.

Já para PJ, o juro do cheque foi a 316,3% ao ano, alta de 105,3 p.p. em relação a maio do ano passado e de 42,4 p.p. na comparativa ao mês de dezembro. Rotativo ficou em 339,6% ao ano, aumento de 118,1 p.p. e 39,7 p.p. no mesmo período de comparação.

Segundo José Pereira da Silva, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/Eaesp ) a situação mostrada no relatório da autoridade monetária é "preocupante em vários aspectos".

"Temos o crescimento das taxas de juros coincidindo com o do endividamento, com pessoas pegando crédito de linhas caras. O que determina os juros não é apenas a demanda por crédito, mas é, principalmente, o risco associado ao empréstimo. Então aqueles que usam esses recursos a curto prazo demonstram dependência e orçamento apertado, o que leva o banco a aumentar o spread por conta do risco de inadimplência que ele está assumindo", explica Silva.

Inadimplência - De acordo com o relatório do BC, as taxas de inadimplência e dos atrasos de 15 a 90 dias permanecem lineares, apesar de um leve aumento em PJ, com alta de 1,5 p.p. em 12 meses para recursos livres e de 0,6 p.p. em recursos direcionados nos já devedores, e de 1 p.p. em recursos livres e 1,4 p.p. em direcionados em até 90 dias.

Segundo Godoi, "não há trajetória nem expectativa de redução de inadimplência em um cenário de curto e médio prazo", e o que se pode esperar é que a tendência de alta nos juros, continue acentuada.

"Isso mostra que a possibilidade de o cara ficar sem pagar por mais de 90 dias, tende a aumentar. De um lado, o banco cede crédito hoje com o pagamento em um ambiente incerto de amanhã. De outro, a pessoa inadimplente já não consegue acompanhar a bola de neve de juros sobre juros e ficam cada vez mais endividadas", ressaltou o professor da Saint Paul Escola de Negócios.

"Outro ponto relevante é que há um esforço do governo federal para impulsionar o microcrédito, por exemplo, mas dificilmente os pequenos negócios vão alavancar com isso e, com o risco, a tendência é que os bancos mantenham os juros elevados. É uma dupla força cada uma em direções diferentes. E enquanto não houver uma estabilização desse cenário e uma certeza do rumo do País, esse continua a ser o caminho a ser trilhado. Podem haver pequenas alterações para cima ou para baixo, mas tudo ainda depende de sinalização política e econômica", conclui Silva.

O BC revisou, em maio, a projeção de crescimento do mercado de crédito em 2016 para 1%. A previsão do mês anterior era de 5% e, de janeiro, era de 7%. Na comparação com o PIB, o estoque deve recuar de 54,5% no final de 2015 para 52% este ano. 

FONTE: DCI