Parte das startups nascidas em incorporadoras ou que receberam aportes relevantes de companhias do setor já caminham com as próprias pernas e prestam serviços também para concorrentes da empresa de origem. O objetivo é que, na medida possível, as “techs” sejam independentes e gerem receita. Em alguns casos, sócios de fora do setor ingressaram no negócio, como XP Inc que comprou, em dezembro, 49,9% da Direto, criada pela Direcional Engenharia.
A Cash Me, subsidiária da Cyrela, pode atender a compradores de imóveis de quaisquer incorporadoras, exceto da companhia da qual foi criada. Nascida, há quatro anos, a fintech tem operações completamente independentes da Cyrela e fechou 2021 com carteira superior a R$ 1 bilhão. “Nosso volume de originação vai, pelo menos, dobrar neste ano”, diz Juliano Bello, cofundador. O crédito com garantia imobiliária segue como principal produto. “Fomos a primeira empresa a fazer avaliação de um imóvel 100% remota no Brasil”, diz Bello. A fintech oferece crédito para loteadoras, e para pessoas físicas na compra de unidades e na construção de casas dos padrões médio e alto em condomínios.
Assim como a Cash Me, a Direto atua em “home equity” e na concessão de empréstimos a compradores de imóveis. A startup terá operações também de compra de carteiras de recebíveis. Não há restrições em relação às unidades terem sido desenvolvidas por quaisquer empresas. “A Direcional pode vir a ser mais um cliente da Direto”, conta Ricardo Ribeiro, presidente da incorporadora. As equipes das duas são separadas mas a fintech utiliza a estrutura das áreas de apoio da incorporadora. “Queremos que a Direto entregue lucro no prazo mais curto possível e ofereça a maior eficiência ao cliente”, afirma Ribeiro.
A plataforma de locação de espaços de trabalho Bravve, da qual a Tecnisa tem 25%, presta serviços de gestão de áreas de outras incorporadoras, segundo o vice-presidente do conselho de administração da Tecnisa, Joseph Nigri. A Bravve fechou parceria com a Luggo, plataforma da MRV&Co de aluguel de imóveis residenciais, para gestão do pagamento, de reservas e do acesso às salas privativas do coworking de um condomínio, por exemplo. Recentemente, a Bravve adquiriu software da Foursys, a qual receberá em troca fatia de até 20% da empresa.
Outro movimento crescente é a colaboração entre companhias tradicionais e startups. No segmento de hospitalidade, o Charlie tem parcerias com empresas como Cyrela, Gamaro, Lavvi, Next Realty e Tecnisa. O Charlie oferece a investidores que compram imóveis para locação serviços de reforma, gestão do atendimento, precificação conforme região e demanda, e aplicativo para reserva do aluguel. A empresa busca gerir, por projeto, pelo menos 20 apartamentos. “A relação com incorporadoras permite ter um grande volume”, afirma o CEO, Allan Sztokfisz.
Em alguns casos, a empresa de hospitalidade participa da definição do projeto, como ocorreu em um lançamento da Lavvi em Moema, bairro nobre da zona Sul de São Paulo. Nessas situações, conta Sztokfisz, o Charlie contribui para o estudo das áreas comuns do empreendimento e para a avaliação da viabilidade da compra para o cliente investidor.
No segmento de escritórios comerciais, a Dezker faz a intermediação entre os proprietários das lajes - empresas de renda e fundos - e os inquilinos. Segundo o fundador e CEO, Ronny Janovitz, a empresa proporciona aos donos dos espaços uso mais eficiente do metro quadrado e mais rentabilidade, com a possibilidade de ampliar o número de ocupantes, e aos inquilinos, flexibilidade para aumentar e diminuir a área conforme necessário. Entre as empresas com as quais a Dezker tem parceria está a Brookfield Properties.
No modelo proposto, ocupantes alugam a área privativa de que precisam no dia a dia, e têm a opção de locação, mediante demanda, de salas de reunião e treinamento, e uso da copa, por exemplo. O formato é próximo ao das empresas de coworking. “Mas não oferecemos mesa de ping pong, espaço de bar, ambientes que resultam em distração excessiva”, diz Janovitz