A pandemia ampliou o universo de fatores de risco aos negócios das companhias. No “novo normal”, a lista que costumava englobar eventos como a derrota em processos judiciais ou a quebra de obrigações financeiras em contratos de financiamento, passou a incluir itens como surtos de doenças e vírus, segundo levantamento feito pela vice-presidente da Comissão de Mercado de Capitais da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Ana Paula Reis. Ela mapeou o comportamento de 330 companhias listadas na B3 em maio. Das 79 que apresentaram o Formulário de Referência 2020 à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no período, 43 (54%) já mencionaram a covid-19 como um risco.
A Azul Linhas Aéreas elencou surtos ou potenciais surtos de doenças como coronavírus (Covid-19), zika, ebola, gripe aviária, febre aftosa, gripe suína, Síndrome Respiratória do Oriente Médio, ou MERS, e Síndrome Respiratória Aguda Severa, ou SARS, como capazes de ter impacto adverso sobre viagens aéreas globais. Também podem resultar em quarentena de funcionários, tornar aviões inacessíveis e, por consequência, afetar seus negócios e ações. Segundo a aérea, a extensão do impacto da covid-19 sobre seus negócios depende de desenvolvimentos futuros “altamente incertos” e fora de seu controle.
Riscos variam de acordo com setor de atuação
Já a Sanepar disse que receitas do setor de saneamento serão menos afetadas em decorrência dos efeitos da pandemia em relação à maioria dos demais setores, por se tratar de serviços essenciais à população. Porém, a empresa alerta que seu fluxo de caixa pode ser pressionado por aumento da inadimplência e prorrogação temporária do vencimento das contas de água e esgoto, especialmente para consumidores de baixa renda.
Ana Paula Reis afirmou que as companhias que estão abrindo capital agora já estão incluindo a covid-19 como fator de risco, a exemplo da Estapar. A Abrasca vai discutir com representantes da B3 e da CVM em evento online nesta sexta-feira, 12, quais políticas de gestão de risco precisam ser alteradas por conta da pandemia e como as companhias que não a enxergam como risco devem reportar isso.
Projeções ainda são desafio a empresas
Uma questão nebulosa diz respeito às projeções. Companhias que as suspenderam por conta da incerteza em tese deveriam atualizar esses guidances frente ao novo cenário, mas muitas delas ainda não conseguem calcular a extensão exata do dano aos negócios.