São Paulo - A taxa de poupança do Brasil despencou em 5,5 pontos de 2011 ao primeiro trimestre de 2016, para 14,3% do Produto Interno Bruto (PIB), voltando ao mesmo nível do ano 2000, mostra a série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 2011, a taxa havia alcançado o seu maior nível nos últimos 16 anos (19,8%), mas de lá para cá tem registrado recuos contínuos nas sondagens do IBGE, retraindo com maior intensidade a partir do ano de 2013, quando a economia passou a dar sinais de desaceleração.
Fabrício Pessato, professor de economia da Metrocamp, diz que a crise econômica intensificou a queda no indicador. "Uma parte dos lucros das empresas vira poupança, sendo, dessa forma, redirecionada para a realização de investimentos dentro da própria companhia. Mas, com a recessão, esses recursos estão cada vez mais escassos", diz.
Orlando Assunção Fernandes, professor de economia da ESPM, acrescenta ainda que a redução da atividade das empresas e a retração do consumo derrubaram a arrecadação dos governos, ajudando nos sucessivos déficits primários vistos a partir do ano de 2014.
"No caso do setor público, o nível de poupança é medido pelo resultado primário", afirma Fernandes. "Portanto, o déficit fiscal registrado pelos governos nos últimos dois anos é um dos causadores da queda do nível de poupança do País", complementa.
Com a taxa de poupança alcançando o patamar de 14,3%, o Brasil passa a ficar cada vez mais longe do seu percentual ideal. Para crescer de forma sustentável, Pessato calcula que a economia do País teria que conquistar, pelo menos, um patamar em torno 25% do PIB. "Esse percentual seria o mínimo para conseguirmos ter sustentabilidade com relação aos gastos das famílias, dos governos e das empresas", estima Pessato.
"Da forma como está hoje, com a poupança na faixa dos 14% e com os investimentos em cerca de 16%, ficará muito mais difícil de sustentar a economia no médio e longo prazo, absorvendo as pessoas as pessoas que entrarão no mercado de trabalho, por exemplo."
Ele esclarece que as taxas de investimentos e de poupança registrada pelo Brasil são muito baixas em relação ao tamanho do que o consumo representa no nosso PIB (63,4%). "Isso gera um desequilíbrio estrutural entre oferta e demanda. São poucas empresas produzindo para muito mais gente comprando", considera.
Capacidade de produzir - Fernandes relembra que o desequilíbrio entre a oferta e a demanda foi um dos fatores que pressionou a inflação brasileira nos últimos anos.
"O estímulo ao consumo realizado na década de 2000 não acompanhou a capacidade produtiva da economia", reflete o professor da ESPM.
Fernandes pontua ainda que os dados do IBGE revelam que, mesmo em um momento de crise como o atual, o nível de produção nacional ainda não é adequado à proporção do consumo. "Enquanto taxa de poupança chegou a 14,3% do PIB no primeiro trimestre deste ano, os investimentos chegaram a 16,9% no mesmo período. Só que, em economia, investimento é igual à poupança. O que acontece é que essa diferença de 2,6 pontos representa os investimentos estrangeiros", esclarece o professor.
"Isso acontece porque o nível de produção da indústria nacional não consegue atender toda a demanda", afirma.
Para ele, é possível pensar em uma taxa de poupança ideal a partir do que está sendo alcançado pelos países vizinhos. "No caso do Peru e do Chile, por exemplo, essa taxa fica entre 21% e 22%", diz.
"Essa seria uma forma de crescer sem gerar pressões inflacionárias", acrescenta.
Soluções - Para Pessato, reforma tributária é uma das maneiras de resolver o problema do baixo nível taxa de poupança da economia brasileira. "Os governos precisam criar condições para que as empresas passem produzir com menos custos, acompanhando, dessa forma, o consumo da economia. Uma profunda reforma tributária ajudaria nesse sentido. Mas tem que ser uma reforma que desonere a produção e o consumo, com impostos mais diretos do que indiretos e mais progressivos do que regressivos", sugere.
Fernandes considera que uma reforma nos termos propostos por Pessato pode alavancar o rendimento das famílias e, portanto, o consumo. "Com consumo, a arrecadação dos governos se eleva, ajudando, dessa forma, na formação de superávits primários."
Além de atuar na capacidade produtiva das empresas e nas contas do setor público, Fernandes assinala que, no que diz respeito às finanças das famílias, é também preciso atuar a partir da educação. "As famílias também precisam aprender a fazer poupança. E, para isso, é necessário termos mais educação financeira e que o mercado crie mais produtos que estimulem a poupar, como a previdência privada", propõe o professor.
"Um dos motivos da China ter alcançado uma taxa de poupança de cerca de 50% foi pelo nível de poupança que a sua população tem. Lá não há previdência pública. Desde que nasce, um chinês precisa guardar dinheiro para a sua aposentadoria", finaliza.