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23/03/2018

Tecnisa diz estar vivendo sua retomada

Desde setembro, a Tecnisa passou a dividir o tempo entre a venda de ativos e a busca de terrenos por meio de opções de compra ou de permutas.

A Tecnisa está vivendo seu processo de retomada, que será "coroado" pela volta de lançamentos ao longo de 2018, segundo o presidente da companhia, Joseph Nigri. No cargo desde setembro, o filho de Meyer Nigri - fundador da incorporadora -, conta que o novo momento vivido pela empresa já se reflete em maior oferta de crédito por parte dos bancos e na cobrança de taxas de juros menores. "Nos últimos três anos, tivemos forte redução de lançamentos. A estratégia foi correta para preservar caixa", disse o presidente ao Valor na primeira entrevista desde que assumiu o cargo.

Em 2017, a Tecnisa não apresentou novos projetos ao mercado. Nigri não informa em que trimestre os lançamentos serão retomados, mas deixa claro que haverá concentração no segundo semestre. A estrutura da incorporadora permite lançamentos anuais de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão. Não há, porém, meta do Valor Geral de Vendas (VGV) a ser apresentado. "Estamos otimistas, mas cautelosos", diz o novo presidente. A retomada de lançamentos do Jardim das Perdizes - projeto em parceria com a Hines na zona Oeste de São Paulo - está prevista para este ano, mas isso dependerá dos rumos da Operação Urbana Água Branca.

Desde setembro, a Tecnisa passou a dividir o tempo entre a venda de ativos e a busca de terrenos por meio de opções de compra ou de permutas. Há conversas com fundos e outros potenciais parceiros financeiros para co-incorporação de projetos. A empresa já vendeu a maior parte dos terrenos que deixaram de ser considerados estratégicos, mas ainda tem áreas fora de São Paulo das quais pretende se desfazer. O foco de atuação passou a se concentrar em projetos para as rendas média-baixa à alta na Grande São Paulo. A intenção é que a empresa volte a ser "a velha Tecnisa".

Estrutura da incorporadora permite lançamentos anuais de R$ 500 milhões a R$ 1 bi, mas não há uma meta

O novo presidente integra os quadros da Tecnisa desde 2002, mas costuma dizer que está na companhia há 36 anos, desde que nasceu, em função da proximidade com o pai. A empresa completou 40 anos em 2017. Imediatamente antes de assumir a frente da empresa, Nigri era vice-presidente, cargo que foi extinto. "A diretoria já se reportava a mim", conta o filho do fundador.

Quando o bastão passou de pai para filho, não houve ruptura na forma de conduzir a companhia. O fundador ficou com a cadeira de presidente do conselho de administração e sua atuação se tornou mais estratégica, com menos participação no dia a dia. O novo presidente passou a trabalhar parte do tempo na própria sala e outra parcela em mesa próxima à dos diretores e gerentes, o que contribui para agilizar a tomada de decisões. As reuniões com as lideranças passaram a ser trimestrais.

Nos últimos três anos, a Tecnisa concentrou sua atuação na venda de estoques e na resolução de "erros do passado". Entre esses erros, segundo Nigri, estão o excesso de lançamentos, a expansão geográfica e o fato de a companhia ter delegado muita responsabilidade a parceiros de projetos.

No ano passado, a Tecnisa teve prejuízo líquido de R$ 520,65 milhões, valor 16% superior ao registrado em 2016. A receita líquida teve queda de 9,1%, para R$ 298,83 milhões. As vendas contratadas somaram R$ 372,83 milhões, estável ante o ano anterior. A margem bruta ajustada ficou negativa em 14,9%. As despesas gerais e administrativas caíram 33%, para R$ 76 milhões, em linha com a meta para o ano. Houve corte de funcionários, redução da área ocupada e revisão de contratos de prestadores de serviços.

A Tecnisa encerrou 2017 com alavancagem medida por dívida líquida sobre patrimônio líquido de 57,5%. A companhia teve geração de caixa total ajustada de R$ 280 milhões. Segundo a Tecnisa, sua alavancagem operacional foi reduzida em R$ 1,1 bilhão nos últimos dois anos, para R$ 797 milhões. A variação considera o endividamento líquido da companhia, a parcela da Tecnisa no Jardim das Perdizes e o custo de obras a realizar.

No quarto trimestre, a Tecnisa reduziu seu prejuízo líquido em 30,3%, na comparação anual, para R$ 175,2 milhões. A receita líquida da companhia caiu 6,5%, para R$ 61,14 milhões. A Tecnisa teve margem bruta ajustada negativa em 26,9%. A empresa reduziu suas despesas gerais e administrativas em 35% no intervalo, para R$ 17 milhões. Desde o início de 2015, a Tecnisa diminuiu o número de funcionários em 66%, para 238.

A Cyrela - principal incorporadora com atuação nas rendas média e alta - também divulgou resultados ontem. No trimestre, o lucro cresceu 57,6%, para R$ 48,8 milhões. A receita líquida teve queda de 7,7%, para R$ 809 milhões. A margem bruta caiu de 28,7%, para 27%. O resultado da Cury, da qual a Cyrela tem 50% de participação, teve impacto positivo de R$ 31 milhões.

A companhia informou que distratos e vendas de terrenos tiveram impacto negativo de R$ 2,2 milhões no resultado e que o efeito negativo de novas contingências foi de R$ 9 milhões. Segundo a Cyrela, os números do quarto trimestre e do acumulado de 2016 foram apresentados "pró-forma" devido à mudança na forma de contabilização da MAC (com a qual tinha joint venture) no segundo trimestre do ano passado. A MAC foi considerada pelo método de equivalência patrimonial.

A Cyrela anunciou distribuição de dividendos extraordinários de R$ 200 milhões. A empresa gerou caixa de R$ 245 milhões, no trimestre, e de R$ 712 milhões no ano. Para a geração trimestral de caixa, contribuíram a venda de ações da Tecnisa e a venda de participação em sociedades de propósito específico (SPEs) para a Hines. As duas vendas somaram R$ 65,5 milhões. A fatia atual da Cyrela na Tecnisa é de cerca de 8%.

FONTE: VALOR ECONôMICO